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Pausa

Existe uma diferença entre o “pause” e o “stop”; enquanto o primeiro indica uma atividade que está suspensa e logo retornará, o segundo parece dizer de algo que se interrompe no meio sem previsão de voltar. E como lidar com aquilo que foge ao esperado? Com esses meios que não necessariamente têm um fim? Como deixar de viver para esperar o fim, em um mundo onde o resultado parece ser sempre o mais importante? Completando quatro meses de pandemia e distanciamento social, ainda é difícil nomear o que ficou, ou o que vem se construindo.

  Será que os tempos passados realmente tiveram um fim? Ou será que a antiga lógica na qual nos inseríamos está prestes a voltar, junto às aglomerações?

  Poucas respostas parecemos ter, mas as perguntas ainda seguem aqui, frequentes. Enquanto isso, vivemos esse – entre – que nos instiga, nos envolve e nos seduz, algumas vezes deixando um vazio inabitável e outras nos fazendo construir em nós a morada que queremos habitar. Por hora a única certeza é que o tempo passado agora existe na memória, e como diria Adélia Prado: “O que a memória ama, fica eterno” que possamos, então, habitar nossos pedaços de eternidade.

Texto por Roberta Campos

 

 

     Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo.

       A capacidade de se emocionar vem daí, quando nossos compartimentos são escancarados de alguma maneira. Um dia você liga o rádio do carro e toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música já fez parte de você – foi o fundo musical de um amor, ou a trilha sonora de uma fossa – e mesmo que tenham se passado anos, sua memória afetiva não obedece a calendários, não caminha com as estações; alguma parte de você volta no tempo e lembra aquela pessoa, aquele momento, aquela época…

Adélia Prado