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Marín Millie, Gladys

Curepto, 1941 – Santiago (Chile), 2005

Por Rodrigo Nobile

A dirigente comunista Gladys Marín Millie teve uma infância e uma adolescência humildes, em razão da perda do pai. Ainda criança, foi com a família para Sarmiento e depois para Talagante, onde estudou e participou ativamente dos movimentos cristãos de juventude, chegando ao posto de presidente da Ação Católica. Em 1958, formou-se professora e ingressou na Juventude Comunista do Chile.

Aos 22 anos, Gladys Marín tornou-se dirigente da ala juvenil que apoiava a candidatura presidencial de Salvador Allende, derrotado no ano seguinte por Eduardo Frei Montalva. Nessa época, casou-se com o militante comunista Jorge Muñoz Puteis, com quem teve dois filhos. Eleita secretária das Juventudes Comunistas, participou ativamente dos movimentos sociopolíticos chilenos – como a mobilização a favor da reforma universitária e a formação da Frente de Ação Popular – e internacionais – como a histórica marcha de solidariedade ao Vietnã, de Valparaíso a Santiago. Em 1965, elegeu-se deputada por um distrito popular da capital. No pleito seguinte, foi reeleita com alta votação.

Seu segundo mandato terminou antecipadamente em 11 de setembro de 1973, com o golpe de Estado. Gladys Marín passou à clandestinidade. Por decisão do Partido Comunista do Chile (PCC), em dezembro do mesmo ano, pediu asilo na embaixada da Holanda, onde permaneceu por oito meses, por causa do salvo-conduto que lhe foi negado. Seu marido foi detido em 1976, “desaparecendo” nas prisões da ditadura.

No exílio, lutou pela redemocratização do Chile, denunciando os crimes cometidos pelo regime de Augusto Pinochet. Viveu na Costa Rica e em Moscou, retornando ao Chile clandestinamente em 1978, onde se engajou na reconstrução da estrutura organizativa do PCC e no movimento armado que lutava pela democratização. Em 1994, após o fim do regime autoritário, foi eleita secretária-geral do partido, cargo que ocupou até sua morte, em 6 de março de 2005. Em 1997, candidatou-se ao Senado, mas não se elegeu, apesar da alta votação. Em 1999, candidatou-se à presidência da República, sendo derrotada por Ricardo Lagos Escobar.

A última fase de sua vida política foi marcada por fortes críticas às medidas neoliberais aplicadas pelos sucessivos governos da Concertación de Partidos por la Democracia. Nesse contexto, destacou-se na articulação do pacto Junto PODEMOS – Poder Democrático Social –, que denunciava essas políticas e se colocava a favor da democratização efetiva.

Gladys Marín foi a grande oradora do ato de protesto pelos trinta anos da ditadura militar, em frente ao Palácio La Moneda. Poucas semanas depois, um diagnóstico revelou que ela tinha um tumor cerebral. Lutou bravamente contra o câncer. Foi operada na Suécia e em Cuba, onde foi condecorada com a Ordem José Martí por Fidel Castro. Milhares de militantes compareceram ao seu velório. Sua família e o partido receberam cartas de solidariedade de militantes e organizações dos mais diversos países.