Santiago de Chile (Chile), 1918 – 2013
Por Roberto Segre
Apesar da crise habitacional congênita existente na maioria dos países da América Latina, no Chile houve uma preocupação em resolver a necessidade de moradias — tanto nos governos da Democracia Cristã quanto no curto período da Unidade Popular — e em alcançar uma qualidade significativa no design arquitetônico. Nessa busca, a obra de Fernando Castillo Velasco foi paradigmática. Graduado pela Universidade Católica (1947), integrou a equipe profissional formada por Carlos Bresciani, Héctor Valdés e Carlos G. Huidobro (1950). A Unidade Vecinal Portales, na Quinta Normal de Santiago (1956-1963), destinada a uma população de classe média baixa (1.850 unidades), financiada pela CORVI (Corporación de la Vivienda), alcançou ressonância internacional pelo equilíbrio e pela inter-relação conseguida entre os edifícios residenciais, o espaço público e os serviços sociais, por meio de rampas, galerias cobertas e escadas exteriores; chegou a superar os esquemas repetitivos dos volumes autônomos. Seu escritório de arquitetura foi um dos mais bem-sucedidos do país, pela seriedade e coerência dos projetos, entre os quais se destacam a Universidade Técnica do Estado (1957-1970) e as torres residenciais de Tajamar (1960-1964), às margens do rio Mapocho.
Em 1964, convidado pelo presidente Eduardo Frei a se incorporar à vida política, ocupou o cargo de intendente da Comuna de La Reina (1964). Diante dos problemas apresentados pela característica pobre e marginal do local, Castillo Velasco estabeleceu diretrizes urbanas associadas à participação popular e promoveu a criação de fontes de trabalho, a fim de transformar seu caráter de “comuna dormitório”.
As reformas educacionais exigidas pelo movimento estudantil na Universidade Católica, como reflexo do Maio de 68, em Paris, levaram-no a ocupar o cargo de reitor até o golpe militar de Augusto Pinochet (1973) e a intervenção na universidade. Exilado no Reino Unido e na Venezuela, retornou ao Chile em 1977. Diante da impossibilidade de obter cargos estatais ou em grandes empresas, dedicou-se a projetar pequenos conjuntos habitacionais de baixo custo, construídos com a participação dos usuários, nos quais mantinha o caráter urbano compacto das moradias, utilizava materiais tradicionais e privilegiava o espaço público, tanto com áreas verdes quanto com áreas adequadas à vida comunitária; entre outros, construiu a Quinta Jesús (1977) e a Comunidade Los Castaños (1984).
Com o retorno da democracia, ocupou o cargo de intendente da região metropolitana de Santiago do Chile (1994) e foi eleito em várias ocasiões prefeito da Comuna de La Reina (1996-2004). Além dos múltiplos núcleos residenciais projetados, realizou o design da Comunidade Andaluzia, uma experiência de colaboração internacional entre o MINVU (Ministério da Habitação e Urbanismo) e a Junta de Andaluzia da Espanha (1991-1992). Localizada no centro de Santiago e realizada com participação comunitária, abrigou quase duzentas famílias de baixos recursos em um conjunto de blocos de três andares com apartamentos projetados em função do crescimento da população interna ao longo do tempo. A valorização das áreas verdes e o uso de tijolos e aço permitiram o desenvolvimento de uma tipologia original com acabamentos formais e espaciais significativos. Esta obra recebeu o grande prêmio da X Bienal de Arquitetura do Chile (1996). Em 1989, em Tlaxcala, México, Fernando Castillo Velasco recebeu o Prêmio América, concedido pelo IV Seminário de Arquitetura Latino-Americana (SAL).
Conteúdo atualizado em 04/07/2017 16:54