Gustavo Moura
Apesar de ser tema controverso, em geral se considera que tanto a palavra quanto o gênero musical, que há muito se tornou uma das principais manifestações culturais do Brasil, têm origem africana. Em quimbundo, idioma falado em Angola, o termo “semba” significava “umbigada”, e designava um tipo de dança de roda praticada em Luanda, na qual o dançarino ficava no centro de uma roda, movimentando-se ao som de instrumentos de percussão, palmas e cantos em coro, e convidava um parceiro de dança batendo sua barriga na dele (dando-lhe uma “umbigada”).
Com o tráfico de escravos angolanos, essa dança foi trazida ao Brasil e mediante miríades de sincretismos e adaptações, condicionadas por fatores econômicos, sociais e culturais, começou a se desenvolver um gênero musical que apenas muito tempo depois pôde ser identificado, de maneira unânime, como samba, um gênero urbano que de início se desenvolveu nos bairros cariocas de Saúde e Gamboa para depois se difundir por todo o país.
Em fins do século XIX e início do século XX, com o declínio da produção cafeeira, um grande contingente de escravos e ex-escravos migrou para o Rio de Janeiro, depois de ter sido transferido da Bahia ao Vale do Paraíba. Nessa cidade, começaram a difundir sua cultura em festas nas ruas e nas casas das chamadas “tias baianas” – frequentadas por músicos como Donga, Pixinguinha, João da Mata, Mestre Germano, entre outros –, onde incorporaram elementos da polca, do maxixe e do xote. Com isso, foi se consolidando e difundindo o samba, primeiramente como dança e depois como música e composição autoral, tocada com instrumentos de percussão, como o pandeiro e o tamborim, e com instrumentos de cordas, como violões e cavaquinhos, e cujas letras geralmente contavam a experiência cotidiana da população pobre do Rio. Apenas com a expulsão das camadas mais pobres da população do centro da cidade foi que o samba subiu o morro e passou a ser feito nas favelas.
Considera-se que o primeiro samba gravado foi o “Pelo telefone”, cuja autoria, coletiva, foi reivindicada por Donga (Ernesto dos Santos), o que causou grande polêmica. Depois disso, com o desenvolvimento da indústria fonográfica e principalmente do rádio, o samba se expandiu e atingiu a classe média carioca. Músicos como Noel Rosa e Ari Barroso introduziram novos elementos ao gênero, que entre as décadas de 1920 e 1930 ganhou muitas variações. Nessa época, surgiram também os sambas criados para os grandes blocos de carnaval. A primeira escola de samba de que se tem notícia chamava-se Deixa Falar e foi criada em 1929 no Estácio, um bairro carioca tido como reduto de boêmios e malandragem. Com a repercussão do gênero, multiplicaram-se as escolas que desfilavam no carnaval.
É possível distinguir diversas variantes do samba: samba-enredo; samba de morro; samba-choro; samba-canção; samba carnavalesco e samba de partido alto; samba-exaltação; samba de breque; e samba de gafieira. Além disso, o samba influenciou também outros gêneros, como a bossa nova e o pagode.
Dentre as grandes personalidades do samba, pode-se mencionar: Sinhô, Ismael Silva, Heitor dos Prazeres, Noel Rosa; Cartola; Dorival Caymmi, Ary Barroso, Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola, João Nogueira, Beth Carvalho, Elza Soares, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Pixinguinha, Ataulfo Alves, Carmen Miranda, Nelson Cavaquinho, Lupicínio Rodrigues, Aracy de Almeida, Demônios da Garoa, Elis Regina, Nelson Sargento, Clara Nunes, Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim, Lamartine Babo, Chico Buarque de Holanda, João Bosco, entre muitos outros.