Ministrante:
Prof. Dr. Ricardo Colturato Festi – Professor de Sociologia do Cotil-Unicamp
Ementa:
O curso problematizará o surgimento e o desenvolvimento da disciplina sociologia do trabalho nas décadas de 1950 e 1960 na América Latina, em particular no Brasil e no Chile. Partir-se-á da tese de que um projeto de sociologia vinculado às políticas modernizadoras do pós-guerra foi defendido e impulsionado por instâncias internacionais, tais como a Unesco e a Associação Internacional de Sociologia (ISA), e nacionais, como os governos e as universidades. Estas buscaram consolidar uma comunidade acadêmica internacional que pretendia estudar e pesquisar temas correlatos ao mundo da indústria e do trabalho. Nesse marco, a América Latina surgiu como paradigma e entrave da modernização capitalista ocidental devido as suas singularidades frente a uma industrialização tardia. A mobilidade social, a participação dos sujeitos, as particularidades da então recém-criada classe operária urbana, a consciência e as atitudes dos trabalhadores, a resistência à mudança, a presença do arcaico no moderno etc. foram algumas das diversas problemáticas que envolveram essas pesquisas. Para concretizar a sua proposta, este curso buscará estabelecer um diálogo entre os campos da sociologia do trabalho, do pensamento social e da sociologia dos intelectuais.
Desenvolvimento e Cronograma:
De 7 a 9 de maio – Das 9h às 10h30
Primeira sessão (07/05/2019) – Um projeto internacional de sociologia do trabalho. Jean-Michel Chapoulie e Lucie Tanguy defendem que a história da sociologia não pode ser um simples desencadear das ideias, mas também uma história das instituições, de seus agentes e dos frutos de seus trabalhos, pois as ideias não são independentes desse pano de fundo. Nesse sentido, buscaremos problematizar nesta primeira sessão do curso o projeto de sociologia do trabalho desenvolvido ao longo dos anos 1950 e 1960 com a colaboração de organismos internacionais (Unesco), fundações filantrópicas (Rockefeller e Ford), associações científicas (ISA e SBS), instituições de ensino e pesquisa e órgãos de governos.
Segunda sessão (08/05/2019) – A contribuição francesa ao desenvolvimento da sociologia do trabalho latino-americana: Chile e Brasil. Nesta sessão, buscaremos demonstrar as relações político e acadêmicas estabelecidas entre franceses, chilenos e brasileiros na constituição da sociologia do trabalho.
Terceira sessão (09/05/2019) – A sociologia uspiana do trabalho: surgimento de uma tradição. Nesta última sessão, sustentaremos que, ao longo das décadas de 1950 e 1960, foi-se constituindo na Universidade de São Paulo uma tradição sociológica que marcou a sociologia do trabalho brasileira.
Bibliografia:
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BRANDÃO LOPES, J. R. A fixação do operário de origem rural na indústria: um estudo preliminar. Educação e Ciências sociais, v. 2, n. 6, p. 293–322, nov. 1957.
BRANDÃO LOPES, J. R. Sociedade industrial no Brasil. São Paulo: Difel, 1964.
BRANDÃO LOPES, J. R. Crise do Brasil arcaico. São Paulo, SP: Difusão Europeia do Livro, 1967.
CARDOSO, F. H. Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil. São Paulo: Difel, 1972.
CARDOSO, F. H.; IANNI, O. A empresa industrial em São Paulo (projeto de estudo). In: FERNANDES, F. (Ed.). A sociologia numa era de revolução social. Biblioteca de ciências sociais. 2a. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. p. 338–358.
CHAPOULIE, J.-M. Un cadre d’analyse pour l’histoire des sciences sociales. Revue d’Histoire des Sciences Humaines, v. 13, n. 2, p. 99, 2005. Disponível em <https://www.cairn.info/revue-histoire-des-sciences-humaines-2005-2-page-99.htm#>
DI TELLA, T. S. et al. Huachipato et Lota: étude sur la conscience ouvrière dans deux entreprises chiliennes. (Recherche menée par l’Institut de recherches sociologiques de l’Université du Chili). Paris: Éditions du Centre national de la recherche scientifique, 1966.
FERNANDES, F. Economia e sociedade no Brasil: análise sociológica do subdesenvolvimento. In: FERNANDES, F. (Ed.). A sociologia numa era de revolução social. Biblioteca de ciências sociais. 2a. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. p. 314–337.
FESTI, R. C. O mundo do trabalho e os dilemas da modernização: percursos cruzados da sociologia francesa e brasileira (1950-1960). Tese de Doutorado—Campinas, SP: Universidade Estadual de Campinas, 2018a. Disponível em: http://www.repositorio.unicamp.br/handle/REPOSIP/333261
GUIMARÃES, N. A.; LEITE, M. DE P. A sociologia do trabalho industrial no Brasil: Desafios e interpretações. BIB. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, v. 37, p. 39–59, 1994. Disponível em < http://www.anpocs.com/index.php/edicoes-anteriores/bib-37>
KUISEL, R. F. L’American Way of Life et les missions françaises de productivité. Vingtième Siècle: revue d’histoire, n. 17, p. 21–38, mar. 1988. Disponível em < https://www.persee.fr/doc/xxs_0294-1759_1988_num_17_1_1956>
REGO, J. M. Entrevista com Enzo Faletto. Tempo Social, v. 19, n. 1, jun. 2007. Disponível em < http://www.revistas.usp.br/ts/article/view/12540>
TANGUY, L. A sociologia do trabalho na França: pesquisa sobre o trabalho dos sociólogos (1950-1990). Traducao Estela dos S Abreu. São Paulo: Editora da USP, 2017.
Bibliografia complementar:
BOURDIEU, P. Science de la science et réflexivité: cours du College de France 2000 – 2001. 3a. ed. Paris: Éd. Raisons d’agir, 2007.
CARDOSO, F. H.; FALETTO, E. Dependência e desenvolvimento na América Latina: ensaio de interpretação sociológica. 7. ed..- ed. Rio de Janeiro, RJ: Livros Técnicos e Científicos, 1970.
CHAPOULIE, J.-M. La tradition sociologique de Chicago : 1892-1961. Paris: Éd. du Seuil, 2001.
CHLOÉ, M. L’UNESCO de 1945 à 1974. Thèse de Doctorat—Paris: Université Panthéon-Sobronne – Paris I, 2006. Disponível em < https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjEtd3r_YvhAhU5HLkGHWKyAwcQFjAAegQIAhAC&url=https%3A%2F%2Ftel.archives-ouvertes.fr%2Ftel-00848712%2Fdocument&usg=AOvVaw20y0kP9KdgNi0ttdO8abUe>
FESTI, R. C. Michael Löwy e a sociologia do trabalho: a descoberta da consciência de classe do operariado. Caderno CRH, v. 31, n. 83, ago. 2018b. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-49792018000200239&lng=en&nrm=iso>
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LÖWY, M. Estrutura e consciência de classe operária no Brasil. Caderno CRH, v. 31, n. 83, p. 229–237, ago. 2018. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-49792018000200229&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>
TOURAINE, A. Vie et mort du Chili populaire : journal sociologique, juillet-septembre 1973. Paris: Éditions du Seuil, 1973.