
“Aproveite todas as oportunidades. Cada experiência vivida, seja acadêmica, profissional ou pessoal, contribui para a construção de uma trajetória”. Segundo ele, o tempo passa rápido, e investir em formação, mesmo em meio às incertezas, faz toda a diferença no futuro.”
(Helvio Prevelato Gregório, oceanógrafo Turma I IOUSP)
Helvio Prevelato Gregório ingressou na primeira turma do IOUSP. Em um cenário sem precedentes e com poucas referências sobre o mercado de trabalho, as escolhas após a formatura exigiram coragem e pragmatismo. Ao concluir o curso em 2006, optou por prestar o mestrado no próprio Instituto, não apenas pelo interesse acadêmico, mas também como forma de garantir uma transição mais segura até que outras oportunidades se concretizassem. Ao mesmo tempo, buscava vagas de emprego e chegou a prestar vestibular para outro curso de graduação, em Economia.
A primeira proposta concreta de trabalho surgiu quase ao mesmo tempo em que foi aprovado no mestrado. Após uma entrevista com uma empresa de consultoria ambiental, recebeu um convite para assumir uma nova frente de trabalho, uma oportunidade promissora, mas que exigiria dedicação exclusiva. A decisão entre seguir no mestrado ou aceitar a vaga não foi simples. Ao conversar com seu orientador da época, professor Belmiro, ouviu um alerta direto sobre os riscos de deixar os estudos em segundo plano. A reflexão pesou, mas o dilema ainda não estava resolvido.
Pouco depois, teve a oportunidade de integrar a equipe da HidroMares, em Santos, ainda no início de suas atividades. Ali, encontrou a possibilidade de conciliar trabalho e mestrado e aceitou o desafio. Foram anos de rotina intensa, marcados por longas jornadas entre o emprego e os estudos. Mesmo assim, conseguiu concluir o mestrado, que teve como foco a modelagem da dispersão de efluentes de emissários submarinos, analisando a comparação entre sistemas antigos e novos na Baixada Santista.
Ainda durante essa fase, surgiu o desejo de aprofundar sua formação. Incentivado novamente por Belmiro, iniciou o doutorado em sequência, buscando ampliar seu conhecimento em oceanografia física e modelagem de ondas de plataforma continental. O processo foi ainda mais exigente: o acúmulo de trabalho, a distância geográfica da família e os desafios da pesquisa culminaram em um esgotamento no meio do percurso.
Foi então que decidiu mudar de rumo. Deixou a HidroMares e retornou a São Paulo com o objetivo de se dedicar à finalização da tese. Após alguns meses de transição, surgiu uma nova oportunidade na Mineral Engenharia, empresa multidisciplinar com atuação em grandes projetos de licenciamento. A receptividade da equipe, que já conhecia seu trabalho anterior, foi um impulso importante para essa nova etapa. Ao lado de profissionais de diversas áreas, encontrou um ambiente fértil para aprendizado e colaboração.

Além do trabalho de escritório, ocasionalmente Helvio também trabalha em projetos de consultoria que demandam atividades de campo. Na foto, projeto de monitoramento de lixo e fauna encalhada em Elmer’s Island, Louisiana, EUA.
Essa experiência despertou nele o interesse pela consultoria autônoma. Após concluir o doutorado, formalizou sua saída da Mineral em 2014 e passou a atuar como consultor independente, modelo que mantém até hoje. O início foi desafiador, mas a rede de contatos e parcerias foi se consolidando, permitindo que ele colaborasse com diversas empresas de forma contínua.
Desde então, construiu uma carreira sólida como consultor, com atuação em projetos no Brasil e no exterior. Atualmente, trabalha remotamente, conciliando sua rotina e entregas com clientes, majoritariamente brasileiros. Seu dia a dia é semelhante ao de qualquer profissional de escritório, com reuniões, relatórios, análises e prazos, bem diferente do imaginário popular que associa a oceanografia a um estilo de vida “praiano”.
Para Hélvio, a graduação no IOUSP foi uma base completa e exigente. A vivência no Instituto foi decisiva para que tivesse uma visão ampla da oceanografia, algo que considera essencial para quem pretende atuar no mercado. Ao ingressar em equipes multidisciplinares, percebeu o quanto essa formação foi valiosa, mesmo que tenha sentido falta de conhecimentos específicos em áreas como ciências sociais, frequentemente presentes em projetos ambientais.
Hélvio avalia que o mercado para oceanógrafos está hoje mais aberto do que no início de sua carreira, com mais estudos e empreendimentos exigindo a atuação desses profissionais, embora a concorrência também tenha aumentado devido ao maior número de formandos. Antes da pandemia, o setor estava aquecido, mas o período trouxe fechamento e consolidação de empresas, reduzindo temporariamente as oportunidades. Na consultoria ambiental, área em que atua, um analista júnior inicia ganhando entre três e quatro mil reais, enquanto profissionais com doutorado e experiência podem chegar a salários de trinta a quarenta mil reais, dependendo do projeto e da região.
Para quem está entrando no mercado, Hélvio destaca a importância de ter visão abrangente, organização, atenção aos detalhes, proatividade e disposição para aprender e assumir responsabilidades. Reforça que o mercado não exige especialistas recém-formados, mas pessoas dispostas a aprender, organizadas, responsáveis e com boa capacidade de trabalho em equipe. A base sólida da graduação é fundamental para interpretar corretamente ferramentas avançadas, como modelagens e sistemas baseados em inteligência artificial.
texto produzido pela bolsista USP-PUB Ensino (Edital 2024-2025) Irys Martins Rodrigues Ventura (graduanda IOUSP).