Por Bruno Vaiano
Foi com total simpatia e domínio absoluto do assunto e do público que o professor Bruce Beutler, prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2011, apresentou, em palestra gratuita no dia 27 de outubro, sua pesquisa vencedora sobre a desconstrução do sistema imunológico através de mutagênese germinativa aleatória.
Na sala Turquesa do Centro de Convenções Rebouças, localizado no complexo do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo, apresentou cada passo de suas descobertas em uma hora e meia, para então responder a todo tipo de pergunta. Todo tipo mesmo: “Sua palestra foi muito inspiradora, professor, obrigado”, disse uma jovem sentada no fundo do auditório, que rapidamente emendou: “Qual é sua marca de chocolate favorita?”
“Eu tento me manter longe de chocolate tanto quanto eu puder”, disse um Bruce surpreso, com as feições em algum ponto entre o curioso e o engraçado.
Em uma breve conversa com a PRP-USP, o professor americano resumiu os conselhos que tem para jovens brasileiros que queiram fazer pesquisa na área de imunologia: “Seja imparcial, use a genética e não fique desencorajado por questões de financiamento. Faça o melhor que puder e nunca desista”. Questionado, também comentou as perspectivas que se abrem para países menos desenvolvidos com sua descoberta: “Talvez o desenvolvimento de vacinas melhores. Isso é definitivamente algo que vejo acontecer no futuro”.
Durante a palestra falou, claro, sobre sua vida, sua formação e sua entrada na medicina, que ocorreu por inspiração do pai em 1977. Enfatizou que só a insistência permitiu que ele e sua equipe alcançassem o mais cobiçado prêmio da ciência: quatro especialistas liderados por Beutler estudaram sistematicamente a ação dos anticorpos de ratos no combate a infecções ao longo de vários anos, sem jamais alcançar conclusões concretas. Seus colegas já os aconselhavam a desistir quando chegou a grande descoberta.
Através de uma técnica conhecida como foward genetics, o pesquisador identificou quais eram os genes responsáveis por reconhecer agentes estranhos e ativar as defesas corporais, desencadeando reações inflamatórias. Desvendado o mecanismo, a pesquisa agora continua com uma quantidade consideravelmente maior de participantes, que buscam analisar e descrever cada proteína que protege os mamíferos de infecções. No futuro, as análises serão estendidas ao próprio ser humano.
O reitor Marco Antônio Zago afirmou que é agradável assistir a uma personalidade da ciência, principalmente, em suas palavras, “quando a pessoa conta qual foi a lógica por trás disso tudo, como passo a passo as coisas foram se esclarecendo”.
Após a palestra em São Paulo, Bruce também passará pela Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e pela Universidade Federal de Brasilia, a UnB. Sua visita, apoiada pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da USP e pela empresa farmacêutica Astra Zeneca, é parte do Nobel Prize Inspiration Initiative, programa que busca colocar jovens pesquisadores de todo o mundo em contato com vencedores do prêmio.
Com colaboração da Agência Universitária de Notícias (AUN).