Equipe vencedora do prêmio Prof.ª Maria Tereza Pacheco de 2015 utiliza análise de tomografia computadorizada para melhorar a caracterização, acompanhamento e diagnóstico de complicações da tuberculose.
Por Bruno Vaiano
O Prêmio Prof.ª Maria Tereza Pacheco de 2015, já na sua 3º edição, desafiou profissionais e estudantes do último ano do curso de Medicina a abordar em seus trabalhos as sequelas clínicas e radiológicas da tuberculose pulmonar. A doença, apesar de estar entre as mais antigas de que se tem conhecimento, ainda é muito disseminada em países de menor desenvolvimento social.
Os ganhadores do prêmio Cinara Silva Feliciano, Marcel Koenigkam Santos e Valdes Roberto Bollela, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, conversaram com a Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da USP sobre seu trabalho e o avanço que ele representa nas pesquisas sobre a tuberculose.
Intitulada Avaliação de sequelas radiológicas em pacientes com tuberculose pulmonar sensível ou resistente a drogas e o futuro da caracterização de danos estruturais e função pulmonar nestes pacientes, a pesquisa abordou as consequências da destruição dos tecidos do pulmão mesmo após a cura da doença e aplicou o método inovador da análise quantitativa de tomografias computadorizadas (TC).
“A TC de tórax é capaz de mostrar as alterações broncopulmonares com alta resolução e detalhamento anatômico”, explica Santos. Na área médica, atualmente, há pouca literatura que caracterize as sequelas do Bacilo de Koch. O grau de detalhe permitido pela TC permitirá melhorias no diagnóstico, caracterização e controle das sequelas da tuberculose, fornecendo dados inéditos para melhor entendimento e tratamento de complicações tardias.
Tuberculose hoje
Há registro de seres humanos infectados com a tuberculose há mais de 6000 anos. Apesar de tão antiga e tão conhecida, a doença ainda se manifesta com força em um número limitado de países, que concentram 80% dos casos mundiais. “A tuberculose se dissemina com maior intensidade em países em que exista grande desigualdade social. Um grande número de habitantes agrava ainda mais a situação, pois a doença é transmitida pelo ar”, explica Bollela.
O controle da doença é dificultado pelo surgimento de variedades da bactéria resistentes aos remédios disponíveis. Além da resistência natural aos medicamentos, que o bacilo de Kock pode desenvolver, o uso irregular, a interrupção do tratamento antes do final e o consumo simultâneo de bebidas alcóolicas facilitam muito o desenvolvimento de versões resistentes e muito mais dificeis de serem eliminadas. O problema se espalha rápido: “Globalmente, há aumento crescente de doença causada pelos bacilos resistentes às drogas de primeira linha, sobretudo nas regiões com maior número de casos da doença”, explica Cinara. “No Brasil, por exemplo, houve aumento de cerca de 80% destes casos entre os anos de 2001 e 2010”.
A duração do tratamento, seis meses, ajuda a explicar a dificuldade em manter a patologia em níveis aceitáveis, assim como a própria idade da doença, que já está totalmente adaptada ao corpo humano. Os pesquisadores também citam sua relação com a baixa imunidade: “a AIDS é um dos mais importantes fatores que facilitam que uma pessoa infectada pelo Mycobacterium tuberculosis desenvolva a tuberculose”, explica Cinara.
Entre os principais fatores de risco estão, claro, a imunodeficiência e o contato entre os doentes. O alcoolismo e o tabagismo eram hábitos recorrentes entre os infectados, que são, em sua maioria, homens. “O tabagismo favorece a aquisição do bacilo causador, já que destrói barreiras importantes de proteção do trato respiratório”, segundo o grupo.
Outro aspecto abordado na pesquisa é o de pacientes que, mesmo já curados de ocorrências anteriores da doença, a desenvolvem novamente após serem infectados por uma outra variedade resistente do bacilo causador. O tecido cicatrizado forma uma fibrose e para de exercer a principal função dos pulmões, que é fazer a troca de gases, liberando o gás carbônico e absorvendo o oxigênio. Quanto maior a área afetada, menor é a capacidade do órgão de processar os gases, situação que piora no segundo ou terceiro caso da doença em uma mesma pessoa. “Desta maneira, a capacidade funcional do pulmão de alguém que tem tuberculose vai se deteriorando mesmo depois que a doença já foi controlada e curada. Se o paciente fumar, isto se agrava ainda mais”, esclarece Bollela.
“Houve um paciente que foi um exemplo para mostrar o que a análise quantitativa da TC é capaz de fazer. Mesmo sem fumar, ele teve importante destruição do pulmão com áreas de enfisema, alteração tipicamente relacionada ao tabagismo”. A TC foi capaz de identificar com precisão que o enfisema se originou da bactéria, e não dos hábitos do paciente.