Por Felipe Marquezini, da Agência Universitária de Notícias (AUN/USP)
A crise hídrica que atualmente atinge o Brasil não é um fenômeno isolado, mas perpassa todo o hemisfério Sul, particularmente a América Latina. Naturalmente, os estudiosos do assunto têm sido frequentemente chamados a falar sobre o assunto, e o tema vem sendo objeto de pesquisas em laboratório; o mesmo ocorre no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Climáticas (IAG) da USP.
De acordo com o professor Augusto José Pereira Filho, do referido Instituto, a razão para essa crise seria o maior contraste térmico, no hemisfério Sul, entre as regiões tropical equatorial e polar. As massas de ar polares, frias e secas, são levadas pelo movimento da Terra para baixas latitudes, forçando o deslocamento das massas de ar mais quentes e úmidas para a direção da região polar e causando uma menor quantidade de precipitações na região tropical.
Esse maior contraste se dá em função de um resfriamento da região polar Sul, o que não seria de se imaginar em um contexto de aquecimento global; entre os anos de 2011 e 2014, houve um constante aumento na concentração de gelo oceânico na região da Antártida. Sobre o continente frio, uma espessa camada de gelo de até três quilômetros de espessura ajuda a garantir que o tempo seco e gelado permaneça.
Isso acontece porque o efeito estufa, uma das principais causas do aquecimento global, não ocorre de forma tão eficiente naquela região. O Sol emite para a Terra ondas curtas, que são absorvidas pelo planeta, que por sua vez emite radiação infravermelha, ondas longas; essas ondas são absorvidas pela atmosfera, pela água e pelo gás carbônico, que as reemitem em ambas as direções (para o espaço e de volta para a Terra). No gelo antártico, porém, as ondas curtas emitidas pelo Sol refletem com baixíssima absorção, não sendo retidas pela atmosfera terrestre.
O clima atual da Terra se assemelha a uma espécie de pré-era glacial; ainda não se pode afirmar com certeza o futuro climático da Terra, mas é certo que o resfriamento antártico deve ser estudado com tanta atenção quanto o aquecimento global, se quisermos entender onde as relações entre os diferentes fenômenos nos devem levar no longo prazo.