Entrou em fase de testes no dia 24 de setembro, em Catania, na Itália, o primeiro protótipo de um dos telescópios do Cherenkov Telescope Array (CTA), consórcio internacional formado por 28 países — entre eles o Brasil — que pretende construir até 2020 o maior observatório astronômico do mundo dedicado ao estudo da emissão de raios gama, a radiação de mais alta energia. O observatório contará com cerca de 100 telescópios, os quais serão instalados em dois lugares distintos, um no hemisfério Sul e o outro no hemisfério Norte. Por meio do CTA, os pesquisadores esperam poder estudar melhor os chamados aceleradores de raios cósmicos: buracos negros, remanescentes de supernovas e pulsares, além de núcleos de galáxias ativas e regiões de formação estelar.
“O escopo científico do CTA será muito amplo”, diz a astrofísica Elisabete de Gouveia Dal Pino, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) e uma das pesquisadoras brasileiras envolvidas na concepção do CTA. “Com ele, poderemos obter limites para os campos magnéticos intergalácticos e estimar a origem e natureza da matéria escura do Universo, além de estudar fenômenos físicos inéditos como a violação da constância da velocidade da luz para fótons de altas energias.”
O telescópio protótipo do CTA será testado pelos próximos seis meses em Serra la Nave, na Sicília. Durante esse período, passará por ajustes da estrutura e da câmera que fará a captação da chamada radiação Cherenkov — chuveiros de elétrons e pósitrons produzidos por raios-gama, que, ao entrarem em contato com a atmosfera da Terra, excitam suas moléculas, emitindo a radiação Cherenkov. Após a fase de testes, o telescópio protótipo irá compor parte de um arranjo menor do observatório — conhecido como CTA Mini-Array —, formado por 7 telescópios, que será construído em parceria com o Instituto Nacional de Astrofísica da Itália e, em torno do qual, o resto do observatório será depois concebido. Destes sete telescópios, o Brasil construirá três. Ao todo, o país, no âmbito de um projeto temático financiado pela Fapesp e coordenado por Elisabete, investirá cerca de 1,5 milhão de Euros.
O CTA Mini-Array deverá ser concluído em 2016, 4 anos antes do grande observatório. “O CTA Mini-Array estará entre os maiores observatórios de astronomia de raios gama do mundo, e colocará o Brasil e seus pesquisadores na dianteira de pesquisas pioneiras em astrofísica de altas energias”, diz Elisabete. “Além disso, com o conhecimento tecnológico adquirido por meio da concepção do CTA Mini-Array, o Brasil deverá ser capaz de construir diversos telescópios para o observatório principal.” Ainda não se sabe onde o CTA será construído no hemisfério Sul. Chile e Namíbia são candidatos para receber o observatório. No hemisfério Norte, a disputa está entre México, Estados Unidos e Espanha. Se o projeto avançar, o CTA será capaz de medir a radiação gama produzida por fontes astrofísicas com sensibilidade até dez vezes maior que o observatório HESS ou o satélite FERMI, os maiores observatórios de astronomia gama em funcionamento hoje.
Texto original publicado na Revista Fapesp