USP destaca Brasil em projeto astronômico internacional

Construção de radiotelescópio de grande porte na Argentina faz parte de uma parceria entre USP e governo argentino. O projeto levará ambos os países a uma posição vantajosa dentro da radioastronomia mundial.

Por Guilherme Caetano, da Jornalismo Júnior ECA-USP

A construção de um radiotelescópio de grande porte na Argentina faz parte de uma parceria entre USP e governo argentino. A instalação do instrumento é coordenada pelo LLAMA (sigla inglesa para Grande Arranjo Milimétrico Latino-Americano), e o financiamento é feito pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação Produtiva, da Argentina, e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O projeto levará ambos os países a uma posição vantajosa dentro da radioastronomia mundial.

A implantação do telescópio do LLAMA está sendo realizada em um sítio localizado no noroeste da Argentina, em Puna de Atacama, a poucos quilômetros do Chile. O local fica a 4.700 metros acima do nível do mar e o clima da região é um dos mais secos do mundo. Zulema Abraham, vice-coordenadora do LLAMA e um dos maiores nomes da Astronomia no Brasil, conta que o motivo pela escolha do local é unicamente técnico. “A mínima quantidade de moléculas de água e oxigênio na atmosfera permite à radiação espacial ser melhor absorvida pelo telescópio”, explica a pesquisadora. Como o vapor de água se concentra majoritariamente na atmosfera inferior, o ar extremamente seco só pode ser encontrado em regiões de grande altitude.

O radiotelescópio, que ficará pronto em 2016, poderá operar sozinho e em cooperação com o Alma (Grande Arranjo Milimétrico do Atacama, no inglês), um dos mais importantes interferômetros (conjunto de telescópios) existentes atualmente na radioastronomia mundial. O Alma está situado no planalto de Chajnantor, nos Andes Chilenos, a 180 quilômetros do LLAMA. Trata-se de um aglomerado de 66 antenas que trabalham em sintonia perfeita, coletando radiação como se fossem um único equipamento. Um dos administradores do Alma é o European Southern Observatory (ESO), no qual o Brasil passou a integrar há pouco tempo, sendo o primeiro país não europeu a compor essa organização.

O empreendimento está sendo coordenado no Brasil por Jacques Lepine, além de Abraham, ambos do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. A entidade é o mais importante polo de pesquisa do país nas áreas de Ciências Exatas e da Terra, com mais de 120 anos de atividades. A ele pertence o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Radioastronomia (Nara), no qual a maior parte dos pesquisadores brasileiros do LLAMA se encontram.

O fato de o Brasil ser um país de terras baixas e geralmente úmidas não impede que os estudos em astronomia se desenvolvam. “A participação do Brasil [nos estudos astronômicos mundiais] é muito boa. Utilizamos os equipamentos lá fora, já que não temos condições de estudar aqui”, conta Abraham. Além disso, a pesquisadora expõe a importância do LLAMA para a pesquisa científica nacional. E afirma: “É sem dúvida, o maior projeto que já tivemos. As pesquisas já estão a todo vapor”.