O QUE É PLATAFORMIZAÇÃO?

Resenha do Artigo “Plataformização” de Thomas Poell, David Nieborg e José van Dijck

Por Maria de Fátima Morina

 

O artigo “Plataformização” foi publicado em 2020 na Revista Fronteiras – Estudos Midiáticos, mas, originalmente, na Internet Policy Review por Thomas Poell, David Nieborg e José van Dijck. Os autores articulam, de modo extremamente relevante, as partes das quais se constitui a complexidade do fenômeno da plataformização, que começou no universo web e hoje envolve as micros e macros instituições, assim como a cultura, o mercado e a economia globais e suas mudanças contínuas invisíveis para a maioria, porém inexoravelmente impactantes para essa mesma maioria.

Ao longo do artigo, eles apontam convergências e divergências nas estruturas internas das grandes plataformas, das alianças mercadológicas e consequentes sucumbências, bem como as formas como isso é gerido, incluindo ações regionais e internacionais. Além disso, os pesquisadores ponderam e alertam que, diante da diversidade de padrões políticos e culturais no mundo, é necessária a integração de plataformas na sociedade sem prejudicar a cidadania e sem aumentar os abismos socioeconômicas.

Nessa direção, o conceito de plataforma precede o Google e o Facebook, quando nos anos 2000 Microsoft, Intel e Cisco eram os líderes do mercado de plataformas e exemplificaram para estudiosos que se tratava, na verdade, de um mercado de dois lados, em que operadores agregam compradores e vendedores ou editores simultaneamente, basta visualizar um console de videogames para visualizar esse fluxo.

Isso tocou conceitos de administração, gestão estratégica e tecnologia de informação, mas não só. Os conceitos de comunicação também foram abalados pelo fenômeno da plataforma no que toca na economia da informação e nos usuários enquanto usuários e produtores de cultura. Nesse momento, surgiu o conceito de Web 2.0 de que a internet se tornara um ambiente de desenvolvimento para instituições e indivíduos, que se mostrou como a ampla aplicação do conceito de rede a serviço dos sites que eram donos delas.

A exemplo disso, o que é o Twitter ou o Instagram senão a convergência de vários sistemas, protocolos e redes, mas a representação social que se tem de plataformas é que elas dão espaço para a ação, a conexão e a fala com eficácia e poder. Tal espaço é acima de tudo produtivo e econômico, pois induz as pessoas usuárias a organizarem suas vidas e manifestações em função dessas plataformas, cuja missão e visão consolidada é gerar lucro aos proprietários.

Os autores definem plataformas como “infraestruturas digitais (re)programáveis que facilitam e moldam interações personalizadas entre usuários finais e complementadores, organizadas por

meio de coleta sistemática, processamento algorítmico, monetização e circulação de dados”; e plataformização como “a penetração de infraestruturas, processos econômicos e estruturas governamentais de plataformas em diferentes setores econômicos e esferas da vida. E, a partir da tradição dos estudos culturais, concebemos esse processo como a reorganização de práticas e imaginações culturais em torno de plataformas”.

Os autores propõem três dimensões de estudo institucionais da plataformização com sua variedade de atores e relações de poder desiguais e o fazem usando a loja de aplicativos para exemplificar a operacionalização dessas dimensões. A primeira é a criação de infraestruturas de dados; a segunda é a mudança de paradigma econômico com os mercadores multilaterais; a terceira é a governança com a orientação das transações econômicas e a orientação das interações dos usuários. Apenas uma das situações explanadas é o caso da Play Store do Google, que muda seus algoritmos para privilegiar sinais de dados e prejudicar outros a fim de garantir aplicativos que sejam mais convenientes para ela em termos comerciais.

Portanto, a plataformização está inevitavelmente no escopo da educomunicação, por isso, este artigo é imperdível para quem se atreve a tentar compreender e a fazer intervenções nos processos da comunicação e da educação hoje.

 

REFERÊNCIA

POELL, Thomas; NIEBORG, David; VAN DIJCK, José. Plataformização (Platformisation, 2019 – tradução: Rafael Grohmann). Revista Fronteiras – estudos midiáticos 22(1):2-10 janeiro/abril 2020. Unisinos – DOI: 10.4013/fem.2020.221.01.

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