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    Dentre os tantos truques que a língua portuguesa parece fazer conosco, um dos mais inquietantes é esse nó em que nos vemos metidos quando paramos para pensar um pouquinho mais sobre presente e presença. O que faz de um corpo presente?

É mais do que o pensar apenas no presente cronológico pode nos levar a crer. Presente é, também, passado e futuro quando diz de memórias e sonhos – sem os quais o aqui e agora torna-se esvaziado de si. Do que se faz a nossa presença – a nossa e a do outro?

É algo além do que o sinônimo “comparecimento” poderia traduzir, está até onde ele  não se verifica. Está na saudade, na lembrança, no cheiro de perfume de um desconhecido na calçada, que nos traz um outro.  Um outro que está longe, mas segue perto por estar dentro.

E a gente, que às vezes só parece que existe de verdade quando sente que, em algum lugar, temos um espaço no outro. Ainda que longe. Talvez, principalmente, longe. Do que se faz, então, nossa presença, se não de muitos outros?

 

Texto Por Mariana R Stefani

 

 

Já tenteou sofrido o ar que é saudade? Diz-se que tem saudade de idéia e saudade de coração…

Guimarães Rosa

 

Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade