“Fique em casa”. De uma hora para outra esse mandamento passou a ser imperativo e, com a insistência da oração, os seus efeitos não demoraram. Fato é que a festa do vizinho não incomoda mais apenas pelo barulho. É uma indignação. Quem é ele pra desrespeitar a norma que está aí? É perigoso, é uma ofensa! A verdade, vizinho, é que te invejo. Queria poder ser tão insensível, ser egoísta pra poder me reunir, festejar, abraçar, beijar… Lá se foi a Páscoa, Dia das Mães, São João e eu aqui na morada da minha moral, mas longe do meu lar.

Texto por André Ferreira Bezerra

Meu corpo ordena que eu saia

em busca do que não quero,

e me nega, ao se afirmar

como senhor do meu Eu

convertido em cão servil.

Carlos Drummond de Andrade