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O Trabalho Nos Tempos de Pandemia

A aula com o professor Marcelo Ribeiro

Em sua aula, o professor Marcelo Ribeiro nos convidou a uma reflexão crítica sobre a questão do trabalho nos tempos passado, presente e futuro à pandemia. Enfatizou: embora estejamos vivendo um momento de ruptura com relação ao mundo (e à tendência de mundo) em que vínhamos caminhando até 2019, a pandemia apenas desvelou uma realidade que já existia (e que muitas vezes tentávamos ocultar), marcada por profunda desigualdade social e exclusão digital.

Acompanhamos, no Brasil, um forte processo de individualização da vida nos últimos anos. O fortalecimento da presença imaginária do self-made man e da self-made woman, em companhia de movimentos políticos, econômicos e sociais que cada vez mais buscam afastar do Estado a possibilidade de intervir nas relações patrões-empregados são algumas das causas para o que hoje observamos: trabalhadores que, sozinhos, precisam garantir sua renda (pois não têm salário fixo), seus descansos (pois não têm férias garantidas) e sua segurança social. Agora, muitos têm seus serviços esquecidos da nobre lista de essenciais, embora indubitavelmente o sejam: responsáveis pela faxina e segurança em hospitais, entregadores, lixeiros. E muitos, também, se vêem diante da cruel escolha entre se arriscar a pegar uma doença e ficar sem a renda necessária para suas necessidades mais básicas.

O dilema entre se o mais importante é priorizar a saúde ou a economia deveria ser um falso dilema, afinal não há economia sem uma população saudável para movimentá-la e a economia, teoricamente, serve para garantir melhores condições de vida à população. A questão é que a forma de produção e funcionamento do nosso sistema faz com que essas coisas pareçam mutuamente excludentes. O que é mais importante: desenvolvimento econômico ou social? O futuro do trabalho ser o trabalho online é uma realidade para todos? Devemos hierarquizar os tipos de trabalho? Pensar transformações para o futuro pós pandemia é impossível se não nos desdobrarmos sobre as possibilidades de resposta para essas questões, mas também (e talvez mais ainda) se não nos questionarmos sobre os motivos de termos de nos fazer essas perguntas em primeiro lugar.