Histórico

Breve histórico do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica

Embora o atual Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica tenha sido criado em 1970, com o nome de Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações, as suas origens remontam à criação da Escola Politécnica de São Paulo, em 1893, sob a inspiração e o impulso de Antonio Francisco de Paula Souza, engenheiro formado em 1865 pela Polytechnischen Hochschule de Karlsruhe (atual KIT), na Alemanha, para a qual se transferiu em 1863, após ter iniciado o curso de engenharia na Eidgenössische Technische Hochshule (ETH) de Zurique, na Suíça.

Dentre cadeiras que integravam a estrutura do curso de engenharia civil criado em 1893, as seguintes eram ligadas a estruturas e fundações: “Resistência dos Materiais”, do terceiro ano do curso; “Estabilidade das Construções” e “Estradas de Rodagem, Pontes e Calçadas”, do quarto ano; “Estradas de Ferro”, do quinto ano.

Baseado no modelo germânico que Paula Souza havia conhecido em Zurique e em Karlsruhe, o ensino valorizava igualmente a formação científica e as aplicações práticas. As manhãs eram dedicadas às aulas teóricas ministradas pelos professores catedráticos e às aulas de exercícios dadas pelos “repetidores”. As tardes, a projetos, aulas de laboratório e trabalhos manuais em oficinas.

A fim de dar apoio às aulas práticas das cadeiras “Resistência dos Materiais” e “Estabilidade das Construções” por ele ministradas, em 1899 Paula Souza criou o Gabinete de Resistência dos Materiais, cujo projeto foi encomendado ao engenheiro Ludwig von Tetmeyer, então diretor do Laboratório Federal de Ensaios de Materiais do ETHZ. Tetmeyer também indicou o engenheiro suíço Wilhelm Fischer, que de 1903 a 1905 dirigiu o Gabinete de Resistência dos Materiais.

Em 1905, o Grêmio Politécnico publicou o “Manual de Resistência dos Materiais”, com os resultados da primeira pesquisa sobre Resistência dos Materiais realizada no Brasil. Nesse manual, apresentam-se os resultados dos ensaios realizados para determinar a resistência e a compressibilidade de cimentos, tijolos, ferros e madeiras. Os ensaios foram feitos por alunos, sob a coordenação do estudante Hyppolito Gustavo Pujol Junior, que após sua formatura substituiu o engenheiro Fischer na direção do Gabinete de Resistência dos Materiais.

Em pouco tempo, o Gabinete de Resistência dos Materiais tornou-se um importante centro de pesquisa, dotado de modernos equipamentos, e, além do apoio aos cursos da Escola Politécnica, passou a atender às necessidades da indústria que se desenvolvia em São Paulo no início do século XX.

Nessa época, surgiam em São Paulo as primeiras estruturas de concreto armado. Na apostila de 1913 usada nas cadeiras de Resistência dos Materiais e de Estabilidade das Construções já havia aulas sobre estruturas de concreto armado.

O Gabinete de Resistência dos Materiais realizou os ensaios estruturais do primeiro edifício de estrutura de concreto armado de São Paulo, o Edifício Guinle, inaugurado em 1913, projetado por Hyppolito Gustavo Pujol Junior. As estruturas de concreto armado do Edifício Martinelli e da Catedral da Sé também foram testadas pelo Gabinete de Resistência dos Materiais.

A prestação cada vez maior de serviços à indústria da construção levou em 1927 à transformação do Gabinete de Resistência dos Materiais em um laboratório com uma nova estrutura e um novo nome, o Laboratório de Ensaio de Materiais – LEM. Continuava ligado à Escola Politécnica, mas tinha mais liberdade para a prestação de serviços à indústria.

Em 1934, ano de criação da Universidade de São Paulo, à qual a Escola Politécnica foi incorporada, o Laboratório de Ensaio de Materiais foi transformado em autarquia anexa à Escola Politécnica, com o nome de Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT; professores da Escola Politécnica compunham metade do Conselho de Administração do IPT. Em 1973, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas deixou de ser um instituto anexo à Universidade de São Paulo, passando a ser uma sociedade anônima vinculada à Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.

A disciplina “Mecânica dos Solos” foi introduzida no curso de engenharia civil em 1940, integrando a cadeira “Fundações, Pontes e Grandes Estruturas”. Em 1942, essa cadeira foi desdobrada em duas, “Mecânica dos Solos e Fundações” e “Pontes e Grandes Estruturas”.

Grande impulso à engenharia de solos e fundações foi dado pela vinda, como professores visitantes, dos Professores Karl Terzaghi e Arthur Casagrande, da Universidade de Harvard, respectivamente em 1947 e 1949.

A matéria “Estruturas de Concreto Armado”, que incorporava a cadeira “Resistência dos Materiais e Estabilidade das Construções”, dela se desvinculou em 1943, com a criação da cadeira “Concreto Simples e Armado. Teoria. Experiência e Aplicações aos casos correntes”.

Em 1955, foram introduzidas opções nos cursos da Escola Politécnica; no curso de engenharia civil, criaram-se as opções “Construção”; “Estruturas”; “Hidráulica”; “Transportes”. Em 1968, as opções deixaram de existir, voltando-se a um currículo único para o curso de engenharia civil.

A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1961, definiu o currículo mínimo do curso de engenharia civil, constituído por dezoito matérias, entre as quais “Resistência dos Materiais”; “Estabilidade das Construções”; “Mecânica dos Solos”; “Construções de Concreto, de Aço e de Madeira”; “Pontes”.

Nessa época, faziam parte de todas as opções do curso de engenharia civil as seguintes disciplinas da área de engenharia de estruturas e geotécnica: “Resistência dos Materiais e Estabilidade das Construções I”; “Resistência dos Materiais e Estabilidade das Construções II”; “Construções de Concreto I”; “Construções de Concreto II”; “Construções Metálicas e de Madeira”; “Construção de Pontes”. Os alunos da opção “Estruturas” cursavam também as disciplinas “Mecânica dos Solos e Fundações”; “Fundamentos da Teoria da Elasticidade e da Plasticidade”; “Estruturas Especiais de Concreto”; “Teoria das Pontes”; “Estruturas Tridimensionais”. Todas essas disciplinas eram anuais.

Em 1965, foram criados dois departamentos de engenharia civil, o “Departamento de Engenharia Civil (Construção e Estruturas)” e o “Departamento de Engenharia Civil (Hidráulica e Transportes)”.

Integravam o “Departamento de Engenharia Civil (Construção e Estruturas)” as cátedras  de números 9 “Resistência dos Materiais e Estabilidade das Construções”; 10 “Materiais de Construção”; 12 “Construção de Edifícios e Engenharia Urbana”; 17 “Construções de Concreto”; 18 “Pontes e Estruturas Tridimensionais”; 35 “Mecânica dos Solos” e as disciplinas autônomas A2 “Construções Metálicas e de Madeira” e A4 “Organização e Execução de Obras”.

No final da década de 1960, o governo federal implantou a Reforma Universitária, que extinguiu as cátedras e instituiu departamentos nas unidades de ensino das universidades.

Em 16 de dezembro de 1969, foi aprovado o Estatuto da Universidade de São Paulo, em consonância com a Reforma Universitária.

Diz o Estatuto em seu Artigo 45:

Artigo 45 – O Departamento é a menor fração da estrutura universitária, para todos os efeitos de organização administrativa, bem como didático-científica e compreende disciplinas afins.

1.º – Ao Departamento incumbe a responsabilidade da elaboração e do desenvolvimento de programas delimitados de ensino, pesquisa e extensão de serviços à comunidade, intimamente correlacionados, de conteúdo homogêneo, e unificado, que se utilizem de recursos comuns de trabalho.

2.º – Os programas de ensino, mencionados no parágrafo anterior, definirão as disciplinas.

A orientação do ensino, antes dada pelas cátedras, passa então aos Conselhos dos Departamentos.

Em janeiro de 1970, os dois departamentos de engenharia civil de então foram desmembrados nos quatro departamentos até hoje existentes, apesar de algumas alterações de nome: “Departamento de Engenharia de Construção Civil”; “Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações”; “Departamento de Engenharia Hidráulica”; “Departamento de Engenharia de Transportes”.

A primeira reunião do Conselho do Departamento foi realizada em 13 de janeiro de 1970, sob a presidência do Prof. Telemaco Hyppolito de Macedo van Langendonck, Chefe ad-hoc do Departamento. O primeiro ato da reunião foi a eleição do Chefe do Departamento; por indicação do Prof. Nilo Andrade Amaral, por aclamação, foi eleito o Prof. Victor Manoel de Souza Lima, a quem foi passada a presidência da reunião. Em seguida, procedeu-se à eleição do suplente do Chefe do Departamento; por indicação do Prof. José Carlos de Figueiredo Ferraz, também por aclamação, foi eleito o Prof. Victor Froilano Bachmann de Mello.

O Estatuto da USP de 1969 instituiu o programa de pós-graduação na Universidade, que foi objeto da segunda reunião do Conselho do Departamento, realizada no dia 20 de fevereiro de 1970. Foram propostos dois cursos de pós-graduação, a serem submetidos à Comissão de Pós-Graduação, “Engenharia de Estruturas” e “Engenharia de Solos”, e foram propostas as disciplinas desses dois cursos.

Em 1971, as disciplinas passaram a ser semestrais e as matrículas passaram a ser por disciplinas, não mais por curso.

Ao ser criada, a Escola Politécnica foi instalada no antigo Solar do Marquês de Três Rios, no bairro da Luz. Posteriormente, em terrenos vizinhos, foram construídos vários outros edifícios para abrigar as instalações da Escola. Com o crescimento da Escola e de seus laboratórios, tornou-se necessária a mudança de suas instalações para a Cidade Universitária, pois os terrenos da Luz não possibilitavam sua expansão.

A partir de 1960, os cursos da Escola Politécnica foram sendo transferidos para a Cidade Universitária; o último deles a ser instalado no campus do Butantã foi o curso de engenharia civil, em 1973.

O Departamento possui três laboratórios: o Laboratório de “Mecânica dos Solos – LMS”, criado em 1963, o “Laboratório de Estruturas e Materiais Estruturais – LEM”, criado em 1982, e o “Laboratório de Mecânica Computacional – LMC”l, de 1987.

Em 2014, uma nova estrutura curricular foi implantada na Escola Politécnica. Nessa estrutura, no quinto ano os alunos escolhem um Módulo de Formação. Os Módulos de Formação de que o Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica participa são “Ciência e Tecnologia da Engenharia Civil e Ambiental (Pré-Mestrado)”, “Especialização em Engenharia Estrutural e Geotécnica” e “Planejamento, Gestão e Infraestrutura de Cidades”.

Além de ministrar disciplinas aos alunos do curso de Engenharia Civil, o Departamento oferece disciplinas aos alunos dos seguintes cursos da Escola Politécnica: Engenharia Ambiental; Engenharia de Computação; Engenharia de Materiais; Engenharia de Minas; Engenharia de Produção; Engenharia Elétrica; Engenharia Mecatrônica; Engenharia Metalúrgica; Engenharia Química. Ministra também disciplinas do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e do curso de Geologia do Instituto de Geociências da USP.

A Escola Politécnica, criada em 1893, em um Brasil eminentemente agrícola, com a economia baseada, sobretudo, no plantio e na exportação de café, e em uma cidade com cerca de 129.000 habitantes, sem construções com estrutura de concreto armado e com um único automóvel, um Peugeot trazido da França por Alberto Santos Dumont, utilizado por seu irmão Henrique, teve desde então fundamental papel no desenvolvimento do Estado de São Paulo e do país.

Os engenheiros, mestres e doutores formados pela Escola Politécnica, as pesquisas realizadas em seus laboratórios pelos professores e pesquisadores não docentes e os cursos de especialização oferecidos à comunidade têm tido destacado papel no desenvolvimento do Brasil em todos os momentos: o fomento à industrialização do país ocorrida no início do século XX, sobretudo da indústria da construção civil, logo estendida a outras áreas de atividade, o que levou à criação e novos cursos de engenharia; o grande desenvolvimento da indústria brasileira ocorrido após a Segunda Grande Guerra; as grandes obras de infraestrutura realizadas nas décadas de 1970 e 1980; a revolução trazida pelos computadores a todas as áreas da engenharia e da atividade humana; a exploração dos recursos minerais do país.

Como mostra este breve relato, ao longo dos seus mais de 120 anos de história, a Escola Politécnica modernizou-se e adequou-se às mudanças havidas e assim também a área de engenharia de estruturas e geotécnica, desde 1970 a cargo do atual Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica.

Alguns marcos importantes na história do PEF:

1894 – criação das cadeiras de “Resistência dos Materiais” e de “Estabilidade das Construções”, por ocasião da fundação da própria Escola Politécnica
1899 – criação do Gabinete de Resistência dos Materiais, para dar apoio aos cursos práticos das cadeiras e executar trabalhos experimentais
1927 – transformação do Gabinete em Laboratório de Ensaio de Materiais
1931 – introdução do estudo das fundações na cadeira de Pontes
1934 – transformação do Laboratório de Ensaio de Materiais em autarquia, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)
1940 – a cadeira de “Fundações, Pontes, Estruturas de Ferro e Concreto”, passa a denominar-se “Elementos de Mecânica dos Solos e Fundações; Pontes, Estruturas Metálicas e Grandes Estruturas de Concreto Armado”
1943 – introdução da primeira disciplina regular e autônoma de Mecânica dos Solos no Brasil
1947 – desmembramento da cadeira nº 18 em duas: “Pontes e Grandes Estruturas de Concreto Armado” e “Mecânica dos Solos e Fundações”
1955 – reformulação do currículo, com o estabelecimento de quatro opções na Engenharia Civil: Construções, Estruturas, Hidráulica e Transportes
1963 – criação do Laboratório de Mecânica dos Solos (LMS)
1965 – criação do Departamento de Engenharia Civil (Construções e Estruturas), reunindo as cátedras “Resistência dos Materiais e Estabilidade das Construções”, “Materiais de Construção”, “Construção de Edifícios e Engenharia Urbana”, “Construções de Concreto”, “Pontes e Estruturas Tridimensionais” e “Mecânica dos Solos”, além das disciplinas autônomas “Construções Metálicas e de Madeira” e “Organização e Execução de Obras”
1968 – fusão das quatro especialidades (Construções, Estruturas, Hidráulica e Transportes) em um currículo único de Engenharia Civil
1970 – desmembramento do Departamento de Engenharia Civil (Construções e Estruturas) nos atuais Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações (PEF) e Departamento de Engenharia de Construção Civil (PCC)
1982 – criação do Laboratório de Estruturas e Materiais Estruturais (LEM)
1987 – criação do Laboratório de Mecânica Computacional (LMC)

(Texto escrito pelo Professor Doutor Henrique Lindenberg Neto)