Por Maria Beatriz Barros, da Jornalismo Júnior ECA-USP
Pesquisadores descobriram uma nova forma de diagnosticar tumores cerebrais, mais especificamente aqueles de origem glial, com base em mutações moleculares de células cancerígenas. O estudo foi realizado pelo consórcio internacional The Cancer Genome Atlas (TCGA, sigla das bases nitrogenadas) e contou com cerca de 200 pesquisadores do mundo todo, sendo seis deles da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Os resultados da pesquisa irão fornecer uma nova gama de ferramentas para melhor diagnosticar o paciente, criando oportunidades de desenvolvimento de terapias embasadas no perfil molecular.
Os estudos começaram em meados de 2013 a partir da análise de dados coletados em escala mundial durante aproximadamente cinco anos. Em razão das nacionalidades diversas dos pesquisadores, a evolução individual do trabalho era apresentada semanalmente em teleconferências. Os envolvidos no projeto também se reuniram duas vezes pessoalmente a fim de acelerar a pesquisa em prol de sua aplicação e publicação.
Segundo o professor Houtan Noushmehr, pesquisador do Departamento de Genética da FMRP e responsável pela análise das alterações epigenéticas do DNA (aquelas adquiridas em vida e herdadas pelas próximas gerações, mas que não alteram sua sequência), os pesquisadores foram capazes de determinar estatisticamente a importância das características genéticas do indivíduo para o diagnóstico do mesmo. Eles estudaram cerca de 250 pacientes, cujos dados moleculares (DNA, RNA e proteínas) foram submetidos a diversos procedimentos, como o sequenciamento do RNA, sequenciamento completo do genoma e exoma, metilação do DNA, entre outros.
Baseados na avaliação dos dados em questão, os pesquisadores definiram três tipos distintos de aparência molecular dos gliomas. Assim, o diagnóstico do paciente auxiliará a adequar o tratamento para cada um dos casos identificados, sendo menos agressivo para aqueles com melhor prognóstico, e mais para o pior. Tal tipo de avaliação é acurada em relação a posteriores métodos baseados meramente na patologia dos tecidos danificados.
Noushmehr afirma que os resultados implicam em diagnósticos diferenciais de tumores cerebrais adultos, especificamente gliomas de baixo grau. “Como este tipo de câncer não está diretamente relacionado a etnia ou gênero, os resultados terão profundo impacto para brasileiros que tem tal doença”, explica o pesquisador, “já que isso fornecerá aos médicos uma importante ferramenta de diagnóstico para determinar o melhor protocolo a ser seguido, baseado nas alterações genéticas do paciente”. Os resultados do estudo foram publicados em junho pelo The New England Journal of Medicine e já estão sendo aplicados em escala considerável. Além disso, a descoberta dos pesquisadores ajudará a redefinir os conceitos de câncer cerebral na próxima edição da Organização Mundial de Saúde.
Mais informações: com o professor Houtan Noushmehr, e-mail houtan@usp.br