Por Vinicius Andrade, da Agência Universitária de Notícias (AUN / USP)
A aposentadoria foi o objeto de estudo do pesquisador André Gal Mountian, que realizou sua tese de doutorado acerca do tema na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. No entanto, ao contrário da tradicional ênfase no impacto das contas públicas e na previdência, Mountian trabalhou o assunto relacionando-o com o bem-estar do indivíduo. “Meu objetivo era ver o impacto da decisão da aposentadoria em resultados de saúde e trabalho”, afirma o pesquisador.
Durante a pesquisa – que durou três anos e oito meses – André criou um indicador global de saúde do indivíduo, agregando variáveis como: depressão, doenças crônicas e funcionamento cognitivo. “No exterior, muitos estudos apontam, por exemplo, para problemas de depressão e perda de memória após a aposentadoria. Mas cheguei à conclusão de que, no Brasil, os indicadores de saúde melhoram”, disse Mountian, que foi orientado pela professora Maria Dolores Montoya Diaz.
Para analisar os efeitos da aposentadoria, André Mountian obteve uma base pronta, elaborada pela Faculdade de Saúde Pública da USP – a pesquisa Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (Sabe). Essa pesquisa acompanhou as mesmas pessoas por dez anos (2000-2010) e permitiu acompanhar a saúde de cerca de mil paulistanos. A pesquisa é muito rica por ser representativa para todo o município de São Paulo, com uma amostragem que abrange as áreas pobres, ricas, centrais e distantes.
Os resultados opostos aos obtidos em outros países são justificados, segundo Mountian, pelo fato de que, nos países em desenvolvimento, os trabalhos ainda exigem muito esforço físico, principalmente quando se trata de gerações passadas. Quando a pessoa para de trabalhar, portanto, ganha em saúde.
Embora tenha avaliado homens e mulheres, o pesquisador não chegou a resultados conclusivos em relação às mulheres. “Antigamente, o comportamento dos homens no trabalho era muito diferente. As mulheres costumavam parar de trabalhar mais cedo”, justifica Mountian.
Empreendendo na aposentadoria
Será que a renda da aposentadoria facilita na abertura de um negócio? Essa foi a segunda pergunta do estudo de Mountian, que se preocupou em analisar também a transição do trabalho assalariado para o trabalho autônomo: “Queria saber se o fato da pessoa estar aposentada facilita na escolha do trabalho de forma autônoma”.
Os resultados indicam que a renda ajuda os homens a transitarem do trabalho assalariado para o trabalho por conta própria. Para essa parte da pesquisa, o pesquisador utilizou a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), de 2002 a 2007 – parando nesse ano devido à crise de 2008: “Uma característica do trabalho autônomo é a instabilidade da renda. Se a economia estiver num momento de incerteza, a pessoa pode adiar a decisão de abrir um negócio”.
Foram analisados indivíduos assalariados, entre 50 e 69 anos, com ou sem aposentadoria. Mountian constatou que a renda facilita na abertura de um negócio no ano seguinte. “Mesmo para políticas públicas, esses dados são interessantes: as pessoas estão passando cada vez mais tempo aposentadas. E o que elas vão fazer nesse tempo?”.