Astrônomos descobrem estrela dupla em processo de fusão

Quando se fundirem por completo, formarão uma única estrela causando uma explosão nunca vista até então.

Por Antonio Carlos Quinto, da Agência USP de Notícias

Grupo de cientistas que incluem brasileiros do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP acaba de descobrir um sistema considerado “super raro” que é composto de duas estrelas ligadas pela força gravitacional, com massas bem superiores à do nosso Sol. O sistema denominado VFTS 352 foi localizado a aproximadamente 160 mil anos luz – cerca de 10 bilhões de vezes a distância entre a Terra e o Sol, numa galáxia vizinha à nossa Via Láctea conhecida como a Grande Nuvem de Magalhães. O artigo acaba de ser publicado no The Astrophysical Journal (Volume 812 issue 2 article 102).

De acordo com o astrônomo Leonardo Almeida, atualmente pós doutorando do IAG e bolsista da Fapesp, trata-se de um sistema binário em overcontato e de alta massa. “Cada estrela tem cerca de 29 vezes a massa do Sol”, estima o cientista, explicando que “o termo overcontato indica que as estrelas já estão uma dentro da outra”. Devido a isso, os pesquisadores acreditam que elas irão se fundir formando uma única estrela com a massa combinada de 58 massas do Sol.

Os resultados são baseados em dados do Very Large Telescope – ESO(Observatório Europeu do Sul ) e foram frutos do estágio de Almeida no Space Telescope Science Institute e na Johns Hopkins University nos Estados Unidos. “Nós temos um projeto aprovado para observar esse objeto com o Telescópio Espacial Hubble. Acreditamos que esses resultados serão extremamente interessantes para o público em geral”, acredita o astrônomo, que é supervisionado em seu pós-doc pelo professor Augusto Damineli, do IAG. Também participaram da descoberta astrônomos que trabalham nos EUA, Europa e Chile.

Almeida descreve que os cientistas consideram o sistema como “super raro” porque, na literatura, existem apenas outros três descobertos. “É muito pouco, se considerarmos o número de estrelas conhecidas hoje em dia. VFTS 352 é o mais massivo e o mais quente encontrado até agora, por isso ele é o mais interessante e importante desta classe”, avalia.

Futuro emocionante

Segundo o cientista, o fenômeno da fusão de duas estrelas de alta massa numa fase inicial de sua vida nunca havia sido observado. Nesse cenário o sistema descoberto deixará uma estrela de altíssima massa e com alta velocidade de rotação e terminará sua vida numa das explosões mais energéticas e raras vistas no universo, conhecidas como explosões de raios gamas de longa duração, e isso, o cientista considera como um “futuro emocionante”. Nessas explosões ocorrem jatos de raios gama direcionados e se algum planeta habitado, com características semelhantes à Terra, estiver na direção desses jatos à uma distância de bilhões de anos-luz, podem ocorrer problemas como, interrupções de sistemas de telecomunicações e destruição da Camada de Ozônio”, avalia Almeida. No entanto, esse fenômeno só vai ocorrer em milhões de anos e as chances de o jato estar na direção da Terra é muito pequena.

A observação representa uma grande descoberta para a Astrofísica Estelar. Isso porque, a combinação das medidas feitas para as massas e temperaturas das componentes violam a Teoria Clássica da Evolução Estelar. Isso pode indicar um novo caminho evolutivo para as componentes do sistema, que poderá até evitar a fusão na sua fase inicial. Assim, esse objeto constitui a evidencia mais concreta de uma teoria super nova para a evolução das estrelas de alta massa. Nesse cenário, VFTS352 terminaria sua vida como um sistema duplo de buracos negros de curto período que é uma fonte intensa de ondas gravitacionais.

Almeida acrescenta que esse tipo de sistema é super importante para o estudo da morte de estrelas de grande massa, as que produzem os átomos com número de prótons múltiplos de 4 (elementos alfa), entre eles o Oxigênio. O grupo tem mostrado que a maioria, cerca de 70% dos sistemas binários de alta massa, interagem fortemente e, aproximadamente 24%, irão sofrer um processo de fusão ao longo de suas vidas. Além da publicação no The Astrophysical Journal, o descobrimento do sistema também foi veiculado no site do Very Large Telescope – ESO e na Revista Fapesp.

Mais informações: (11) 3091-2818 com Leonardo Almeida; emailleonardodealmeida.andrade@gmail.com

Publicação original em Agência USP de Notícias