Pesquisa cria vetor de aproximação que melhora eficiência na exploração mineral de determinado tipo de depósito.
Por Gabriela Sarmento, da Agência Universitária de Notícias (AUN/USP)
A exploração dos minérios ocupa grandes áreas, no entanto nem todas possuem os mais preciosos esperados pelas indústrias. Diante disso, Caio Ribeiro de Mello, em sua dissertação de mestrado no Instituto de Geociências (IGc) da USP encontrou um vetor de aproximação para pesquisas em depósitos com ambiente geológico já delimitado, conhecidas como brownfields, através das assinaturas isotópicas de chumbo nas rochas.
O geólogo romeno Eric Marcoux havia utilizado a geoquímica isotópica de chumbo para caracterizar apenas as assinaturas isotópicas, restringindo-se assim à aplicação acadêmica da pesquisa. Caio conseguiu dar uma aplicação prática ao conhecimento. A medida que os furos de sondagem são feitos nas rochas, a assinatura isotópica vai diminuindo, conforme a proximidade com o depósito. Assim, cada vez que esta assinatura vai ficando mais restrita, tem-se o direcionamento se está chegando perto ou não do ambiente propício para a formação de outros depósitos com metais preciosos. “A aplicação prática é diminuir o custo dentro de uma campanha de pesquisa mineral”, explica o pesquisador. A pesquisa também proporciona em certa medida cuidado com o ambiente, uma vez que se o processo é mais eficiente, o impacto ambiental é reduzido, já que não há a necessidade de explorar duas áreas diferentes, se o depósito com metais preciosos, que é o que interessa à indústria, for conhecido previamente. Embora estudar isótopos não seja barato, o custo-benefício é alto mesmo que não se chegue a descobertas certeiras. “A ausência de descoberta também é algo bom, porque permite interromper sondagens ao invés de prosseguir em lugares sem potencial”, afirma Caio.
O depósito pesquisado é formado em baixa pressão e temperatura na superfície da crosta continental, normalmente associado a cadeias vulcânicas como o Andes. Por isso, Caio fez as pesquisas de campo na Colômbia em parceria com a empresa canadense Gran Columbia Gold. O professor Colombo Tassinari já trabalhava no povoado de Marmato há algum tempo e foi o orientador da pesquisa de Caio. “Eu sabia que gostaria de trabalhar com várias áreas desde a metalogênese, os processos físico-químicos que acontecem para formar rochas e o mapeamento de áreas de mineração. Felizmente consegui unir todas elas na minha pesquisa”, comenta Caio.
Contaminação das amostras
Embora seja senso comum que geólogos gostam de trabalhar em campo, Caio ficou apenas 20 dias coletando suas amostras na Colômbia. Todo o resto do tempo de mestrado ele passou em laboratórios bastante sofisticados fazendo as análises. A contaminação do material era uma preocupação recorrente, já que o chumbo é encontrado em abundância em praticamente todos os lugares da Terra. O pesquisador precisava passar por duas antessalas para entrar no primeiro laboratório com jaleco e tênis especial. Só num terceiro com pressão positiva, ou seja, o ar está sempre sendo injetado e está sempre saindo pra fora, as análises eram feitas. Mesmo com todos os cuidados, Caio quase chegou ao limite da contaminação, 85 picogramas, equivalente a 10−15 gramas.
A pesquisa foi apresentada no 15o. Congresso Colombiano de Geologia nos dias 31 de agosto a 5 de setembro. Para Caio, a experiência foi inédita e, por isso, engrandecedora. “Tive feedbacks positivos que serviram para eu amadurecer ainda mais algumas ideias na pesquisa. Acredito que quando a pessoa é obrigada a sintetizar um trabalho de 180 páginas com dois anos de duração em 15 minutos, ela naturalmente entende mais a fundo seu próprio trabalho”, conclui o pesquisador.
Publicação original em AUN/USP