Pesquisa calculou o quanto uma pessoa consegue prestar atenção ao conteúdo apresentado. Método pode ser utilizado em sala de aula para medir aprendizado de alunos.
Por Júlio César Soares Viana, da Agência Universitária de Notícias (AUN/USP)
Um novo método de medição da avaliação de presença foi desenvolvido na Escola Politécnica (Poli) da USP. Fernando Yoiti Obana desenvolveu o sistema em sua pesquisa de doutorado no Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas Digitais (PCS), utilizando-se de um software de rastreamento do olhar. A partir dos resultados encontrados, era calculado o quanto a pessoa estava ou não prestando atenção no que era mostrado. No futuro, isso poderá até ser usado para a avaliação escolar de alunos. A partir do índice de percepção de presença do estudante durante aula, seria possível dizer se ele aprendeu ou não alguma coisa.
A percepção de presença de uma pessoa é a sensação que ela tem de estar em algum lugar, seja ele real ou virtual. A ideia da pesquisa, segundo Obana, era encontrar uma forma de determinar isso de uma maneira não-invasiva. O método que mais se encaixou aos objetivos esperados foi o rastreamento do olhar. Nele, a pessoa não percebe que está sendo avaliada, além de oferecer resultados em tempo real. Utilizando-se de um cálculo de entropia condicional para rastreamento do olhar e aplicando-o à programação de um software livre e de baixo custo, a pesquisa conseguiu estruturar uma aparelhagem que dava as indicações que desejavam. Era avaliado o quão focado eram os pontos para os quais a pessoa olhou, e quanto mais concentrados, mais a pessoa se sentiu presente.
O método mais utilizado e considerado mais confiável para fazer esse tipo de avaliação é a aplicação de questionários, algo muito utilizado por profissionais da psicologia, principalmente no tratamento de fobias. Outras alternativas já foram testadas também, como por exemplo a medição de batimentos cardíacos. O problema com eles, porém, era que não ofereciam a possibilidade de apresentar resultados em tempo real. Quando apresentavam, só eram efetivos em situações de estresse. Caso contrário, não demonstravam nenhuma alteração em seus índices. Coisa que não acontece com o sistema que utiliza o rastreamento do olhar.
Segundo Obana, apesar dos avanços, a aplicação de questionários continua sendo mais confiável por já ter se consolidado em uma grande base de testes. Ele afirma, no entanto, que todas as informações dadas pela nova metodologia batem com as dadas pelo método tradicional. Não só batem, como também oferecem outro tipo de resposta ao diferenciar as respostas de acordo com o tempo. Dessa forma, sabe-se em que momento do vídeo, ou do quer que esteja sendo apresentado, a pessoa ficou mais atenta. Segundo o pesquisador, é tudo uma questão de amadurecer a ideia e outras pessoas começarem a usar.
O equipamento utilizado consiste de uma câmera com sensores de raios infravermelhos junto de um emissor de LED dos mesmos raios. Como essa é uma faixa de luz que não enxergamos, nada é perceptível a quem está sendo submetido ao teste. O raio é refletido pela pupila da pessoa, reflexo esse que o sensor capta. A partir desse movimento é possível fazer uma estimativa de para onde a pessoa estava olhando por causa de uma calibração feita antes do experimento começar. Dessa forma, as pessoas, mesmo sabendo que a avaliação estava acontecendo, não a percebiam de forma alguma.
Segundo Obana, essa descoberta pode levar a caminhos novos para a educação e a psicologia. Quando tratando da aplicação do sistema em sala de aula, ele afirma: “Por enquanto o que temos certeza é que nós conseguimos determinar o potencial do aluno ter aprendido ou não.” Ou seja, se a pessoa teve baixa percepção de presença, provavelmente não conseguiu apreender o significado do que foi explicado, diferente daquele que teve um alto índice no quesito.
No futuro, após um trabalho mais extenso, pode existir a chance de relacionar percepção de presença com aprendizado: “Para um aluno aprender é necessário que ele esteja atento e esteja engajado naquela aula. Ou seja, se dedicando àquela aula. No entanto, isso não é suficiente para falar que ele aprendeu. Mas, tendo um sistema desses, percebemos que a presença está muito relacionado com a atenção e o engajamento.” O projeto ainda precisa de maior delineamento e pesquisa em certos detalhes, porém promete, um dia, avaliar um aluno pela sua atenção em aula, sem necessidade de aplicar provas.
Publicação original em AUN/USP