Suplementação de lactato de cálcio não melhora desempenho

Em testes de desempenho físico anaeróbio para membros superiores, estudos mostraram que incrementos não são similares aos causados por bicarbonato de sódio.

Em testes de desempenho físico anaeróbio para membros superiores, estudos mostraram que incrementos não são similares aos causados por bicarbonato de sódio.

Por Paula Thiemy, da Agência Universitária de Notícias (AUN/USP)

A suplementação é comum no mundo dos esportes, especialmente para os atletas que pretendem melhorar o desempenho e, consequentemente, os resultados dos exercícios. Porém, ingerir algumas substâncias nem sempre gera o resultado esperado. Em sua dissertação de mestrado, desenvolvida no Laboratório de Nutrição e Metabolismo da Atividade da Escola de Educação Física e Esporte da USP, Luana Farias de Oliveira observou que o lactato de cálcio não foi eficaz para melhorar o desempenho de atletas.

O objetivo de Luana era observar os efeitos da suplementação crônica da substância, não apenas sobre os resultados do atleta na atividade física, mas também sobre o equilíbrio ácido-base sanguíneo, que influencia no desempenho. A ideia era entender se a suplementação mostraria incrementos similares àquela feita com bicarbonato de sódio. O resultado, porém, não foi o esperado.

A pesquisa contou com 18 atletas. Eles foram divididos aleatoriamente e existia um duplo-cego cross-over, ou seja, em determinado momento nem o paciente e nem a pesquisadora sabiam o que estava sendo ingerido. Eles poderiam receber placebo, lactato de cálcio ou bicarbonato de sódio. Durante cinco dias consecutivos, receberam 500mg por kg de peso corporal. Depois, foram dois dias de washout, período no qual não há a ingestão da substância, para que ela seja eliminada.

“Os indivíduos foram submetidos a testes de desempenho físico anaeróbio para membros superiores. Foram realizadas quatro séries do teste de Wingate, que avalia a capacidade anaeróbia, com duração de 30 segundos em cada série, e carga fixa em 4% do peso corporal, separadas por períodos de recuperação ativa de três minutos. As variáveis de potência média, pico e trabalho total foram usadas para verificação de alterações no desempenho em virtude dos tratamentos. Foi ainda avaliado os níveis sanguíneos de pH, bicarbonato e lactato no repouso, após o esforço e cinco minutos após o esforço”, relatou Luana.

Com a suplementação de bicarbonato de sódio, houve um aumento significante do trabalho total, se comparado à suplementação de lactato de cálcio ou placebo. Nas variáveis sanguíneas de bicarbonato e excesso ácido-base, a condição suplementada com bicarbonato foi a única a mostrar aumento significante, segundo Luana.

O resultado do estudo pode ser interessante para atletas de modalidades limitadas pela acidose muscular, condição que afeta o desempenho. A desenvolvedora da pesquisa, porém, ressalta que o que foi apontado pelo estudo deve ser analisado com cautela e levar em consideração a literatura já existente sobre a suplementação de tamponantes – soluções que atenuam a variação do pH no meio em que estão inseridas.

“Também é necessário ainda mais estudos com a suplementação de tamponantes, especialmente com maior validade ecológica, que simulem diferentes práticas esportivas. Afinal, a aplicação de uma nova estratégia esportiva deve levar em consideração os muitos fatores relacionados ao desempenho, bem como as reações individuais do atleta ao novo suplemento”, finalizou Luana.

Publicação original em AUN/USP