USP estuda moléculas marinhas para tratamento de câncer

Pesquisa multidisciplinar da universidade procura substâncias efetivas no tratamento do câncer através de moléculas encontradas no ambiente marinho (AUN/USP)

Pesquisa multidisciplinar da Universidade procura substâncias efetivas no tratamento do câncer através de moléculas encontradas no ambiente marinho

Por Jeferson Moreira Gonçalves, da Agência Universitária de Notícias (AUN/USP)

A biotecnologia azul pode ser entendida como técnicas e inovações obtidas a partir do ambiente marinho em diversas áreas da ciência como na produção de biocombustíveis, cosméticos e fármacos, está última sendo a qual a pesquisadora do Lafarmar e professora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, Leticia Lotufo, concentra seus estudos.

A pesquisadora, que coordena um estudo que busca moléculas marinhas capazes de atuar em células tumorais explica que “o processo de produção de fármacos é longo, trabalhoso e caro e uma das etapas é a descoberta das moléculas”. Ela conta que o trabalho da equipe é pesquisar novas moléculas marinhas que podem ser associadas com o tratamento de algum tipo de câncer, destacando que o trabalho é multidisciplinar e envolve químicos, biólogos, oceanógrafos, fármacos e demais áreas.

À procura de moléculas interessantes ao tratamento da doença, os pesquisadores investigam sedimentos do assoalho marinho e invertebrados como corais e ascídias em busca de bactérias associadas que serão as produtoras das substâncias para a produção de fármacos. “Mergulhadores de várias faculdades vão para ilhas oceânicas coletar amostras para o laboratório, onde outros pesquisadores isolam e cultivam as bactérias, que crescem em meio liquido e a partir dai é possível fazer a extração química para aplicá-la em células tumorais”, diz Leticia. Quando se observa êxito, a extração é feita em maior escala e começa o trabalho de isolar a substância.

Apesar de prospectar substancias marinhas que tenham efeito no tratamento do câncer não ser uma novidade, já que muitas empresas grandes fazem isso desde a década de 70, a pesquisadora descata que a inovação do que é estudado na USP está no método chamado metagenômico. Leticia conta que em corais, por exemplo, 90% das bactérias são perdidas, porém através da metagenomase é possível fazer uma extração total do DNA, analisando a diversidade gênica do material, o que permite observar possíveis biossínteses interessantes, fazendo com que o pesquisador possa utilizar um outro sistema para produzir uma substância desejada.

Outros diferencial da pesquisa da USP é a chamada Prospecção Alvo-Direcionada, que a partir do câncer estudado identifica suas proteínas que podem ser alvos terapêuticos e as expressa acoplando-as em resinas que mostrarão a atuação de substâncias no tratamento de tal doença.

Leticia apresentou um seminário no Instituto Oceanográfico da USP a respeito da biotecnologia azul aplicada à fármacos, contando um pouco sobre seus estudos. Ela, em entrevista, também exemplificou a atuação dessa área na produção de protetores solares e conta “o que se vê, hoje, é que os nossos protetores solares convencionais são muito agressivos ao meio ambiente, então talvez observando animais que ficam expostos à radiação solar e que possuem moléculas de proteção aos raios UV, esse estudo poderia ser aplicado no desenvolvimento de novas tecnologias”.

Publicação Original em AUN/USP