Pesquisadores do Estado de São Paulo terão direito a 4% do tempo de utilização do aparelho
Por Felipe Marquezini, da Agência Universitária de Notícias (AUN/USP)
Atualmente, os grandes telescópios utilizados nos melhores observatórios astronômicos do mundo são equipados com espelhos com entre oito e dez metros de diâmetro; o tamanho do espelho é diretamente relacionado à distância que se pode observar com o aparelho e à qualidade da imagem. A próxima geração de telescópios, que já se encontra em fase de desenvolvimento, possuirá espelhos com diâmetro superior a vinte metros. Há três grandes projetos para a construção desses novos telescópios: o E-ELT (European Extremely Large Telescope – Telescópio Europeu Extremamente Grande), o TMT (Thirty Meter Telescope– Telescópio de Trinta Metros) e o GMT (Giant Magellan Telescope – Telescópio Gigante de Magalhães).
De acordo com o professor Laerte Sodré Júnior, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo e um dos representantes da USP no projeto, a possibilidade de adesão ao projeto do GMT surgiu das incertezas relativas à possível adesão do Brasil ao ESO (European Southern Observatory – Observatório Europeu do Sul, a organização responsável pela construção do E-ELT). O tratado que oficializa essa adesão já foi aprovado pelo Congresso, mas para realmente surtir efeito precisa da ratificação presidencial, e o país ainda não efetuou nenhum pagamento relativo ao projeto de construção do telescópio.
Essa situação de incerteza levou estudiosos da astronomia no Estado de São Paulo a buscar alternativas à utilização dos telescópios da Agência Europeia de Pesquisa Astronômica. Buscando outros projetos, chegou-se à conclusão de que o GMT oferecia a melhor relação de custo-benefício para os pesquisadores. Elaborou-se um projeto, que foi apresentado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a FAPESP, e por ela aprovado. A Fapesp passou a integrar o consórcio internacional responsável pela construção, com um investimento de quarenta milhões de dólares, o que equivale a 4% do custo estimado do projeto todo. “Isso garante aos pesquisadores do Estado de São Paulo 4% do tempo de observação por meio do equipamento”, afirma Sodré Júnior.
O GMT será o primeiro dos novos telescópios a entrar em operação, provavelmente no princípio da década de 2020, permitindo melhoras significativas na observação de galáxias distantes e planetas extra-solares. Se instalará no monte Las Campanas, no Chile, local privilegiado para observações e onde já se encontra o Observatório Las Campanas (LCO) do Instituto Carnegie para a Ciência, de Washington. Os benefícios trazidos pelo projeto não se limitam à possibilidade de uso do equipamento em pesquisas; o Estado de São Paulo participará também do desenvolvimento da instrumentação do telescópio (que será um esforço coletivo dos membros do consórcio), desafio tecnológico que incentivará e impulsionará as pesquisas nessa área, além de fomentar esse tipo de produção industrial e a formação de pessoal em áreas avançadas de tecnologia. A pedra fundamental foi lançada em 11 de novembro.