Priorizar transporte coletivo é solução para mobilidade em SP

Jilmar Tatto, Secretário de Transportes de São Paulo, justifica ações tomadas pela prefeitura e analisa medidas de metrópoles internacionais (AUN/USP)

Análise de Jilmar Tatto, Secretário de Transportes de São Paulo, justifica ações tomadas pela gestão Haddad e analisa medidas adotadas pelas principais metrópoles internacionais

Por Marcos Nona, da Agência Universitária de Notícias (AUN/USP)

A região metropolitana de São Paulo já é a quarta maior concentração urbana do mundo, aproximando-se dos 20 milhões de habitantes.  Um dos principais problemas das grandes cidades na atualidade é a questão da mobilidade: é certo que o transporte público absorve a maioria da demanda de passageiros, no entanto, necessita de inovação constante para manter-se atrativo e promover benefícios na qualidade de vida da população. Jilmar Tatto, atual Secretário de Transportes da cidade de São Paulo, produziu uma dissertação de mestrado para a Escola Politécnica da USP onde analisa a mobilidade nas principais metrópoles mundiais, e dá embasamento para as medidas adotadas durante a gestão do atual prefeito, Fernando Haddad.

Tatto relata as principais mudanças obtidas na gestão: “no Programa de Proteção à Vida, o PPV, estão incluídos a implementação das Áreas 40, perímetros onde há grande volume de trânsito e de pedestres e a velocidade máxima é de 40 km/h; a revitalização de 4.537 cruzamentos com semáforos; e a implementação de 482,3 km de faixas exclusivas para ônibus, que além de diminuir o tempo de viagem, também ajudam a reorganizam o trânsito”.

A cidade de São Paulo traz em seu histórico a troca do transporte público pelo privado. Com o abandono dos bondes, passou-se a investir no sistema viário, privilegiando-se a circulação dos automóveis. Por décadas, o transporte público por ônibus prestou serviços de forma precária. Nos últimos 15 anos houve a retomada desse serviço com legislação específica, que regulamentou a concessão e a permissão, concebendo um sistema integrado.

Tendências internacionais

As maiores metrópoles do mundo vêm adotando medidas no transporte. Em Nova York, um plano de mobilidade urbana iniciado em 2006 estabeleceu dez metas que devem ser atingidas até o ano de 2030, como assegurar que todos os cidadãos tenham acesso a um parque, locomovendo-se não mais que 10 minutos a pé. Atualmente, a mobilidade é realizada um terço de carro, um terço por transporte público e um terço a pé – ruas que antes estavam congestionadas por ônibus e automóveis agora são exclusivas para pedestres. Em Londres, os engarrafamentos foram reduzidos pela restrição ao uso do carro nas regiões centrais, efetivada pela cobrança e proibição de estacionamento, pedágios nas ruas, impostos sobre a comercialização de combustíveis e implantação de rodízio. Também não há permissão para que prédios destinados à ocupação por escritórios tenham garagens.

A experiência internacional mostra que não foram adotadas soluções indicando o transporte individual motorizado – pelo contrário, as vias públicas têm sido destinadas prioritariamente ao transporte público. Outro aspecto relevante é o uso associado de informações sobre transporte, trânsito, seu processamento e a rápida comunicação com o usuário. Há muitas tecnologias disponíveis aos usuários de internet e outras que podem ser adaptadas para facilitar a vida dos passageiros do transporte público.

Quantidade de deslocamentos diários em São Paulo

Quantidade de deslocamentos diários em São Paulo. Fonte: SMT

Resultados em São Paulo

O nível de satisfação dos passageiros pode ser ampliado com a diminuição do tempo gasto nas viagens, confiabilidade das informações prestadas ao usuário e na utilização de energia limpa. Para a obtenção destes avanços significativos, busca-se o aumento da velocidade média do transporte público e a gestão de dados de deslocamento dos ônibus e do trânsito. Desta forma, quanto mais rápidas a disseminação de informações e a sua chegada aos devidos receptores, bem como a manutenção da integridade desses dados, maior a eficiência do sistema. Tatto elenca alguns dos resultados mais expressivos da gestão: “até o momento, houve redução constante do índice de 11,98 mortes por 100 mil habitantes, registrados em 2010, para 8,82 anotadas em setembro de 2015. Nossa meta é chegar ao patamar estipulado pela ONU de 6 (seis) mortes/100 mil pessoas até o ano de 2021”.

Priorizar o transporte coletivo frente a milhões de pessoas que ainda usam o automóvel para se locomover todos os dias pode gerar o descontentamento dos mais conservadores. Quando questionado sobre a impopularidade – em determinados setores da sociedade – das medidas adotadas pelo prefeito, Tatto é categórico: “não trabalhamos em função de pesquisas de popularidade, que, embora tenham sua importância, apontam somente um momento de um extenso processo. No próximo ano, um volume muito maior de realizações de nossa gestão, nas mais diversas áreas, estará sendo concluído e chegará ao conhecimento das pessoas. Assim, esperamos ver crescer as opiniões favoráveis da sociedade em relação ao nosso trabalho em toda a cidade”.

Publicação original em AUN/USP