Mapas deverão estar disponíveis até o final de maio e foram divididos em três grandes categorias: resíduos urbanos, resíduos rurais, e setor sucroalcooleiro.
Uma equipe do Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI), liderada pela professora Suani Coelho (projeto 27), lançará no dia 30 de maio um inédito conjunto de mapas interativos do potencial de produção de biomassa no Estado de São Paulo. O lançamento acontece durante a participação do RCGI na 27ª edição da European Biomass Conference & Exibition (EUBCE), em Lisboa (Portugal), em um sidevent organizado pelo RCGI e financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (FAPESP) com o apoio da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABIOGAS).
“Estamos em fase final de elaboração, pois são vários mapas, um para cada tipo de resíduo. Eles foram divididos em três grandes categorias: resíduos urbanos (sólidos ou líquidos); resíduos rurais, (subdivididos em grupos como bovinocultura, suinocultura e avicultura); e setor sucroalcooleiro”, adianta a professora Suani.
Segundo ela, até o final deste mês os mapas estarão disponíveis nos sites do RCGI e do GBio, grupo de estudos que ela coordena no Instituto de Energia e Ambiente (IEE/USP). “As bases de dados que utilizamos foram o IBGE e estudos realizados por alguns ministérios. Os resultados são dados por município”, explica.
A professora e sua equipe já haviam desenvolvido um Atlas de Bioenergia do Brasil (2009-2012). “Não era interativo, era impresso, mas já naquele momento percebemos que houve interesse grande no tema e na metodologia, replicada por vários estados brasileiros que lançaram seus próprios mapas depois.”
Potencial – A professora, que trabalha há décadas com biogás e biometano, reitera que tanto o Estado de São Paulo quanto o Brasil têm enormes potenciais de produção desses energéticos, mas pouco incentivo para a atividade. A equipe liderada por ela estimou recentemente que o potencial de produção de biometano em São Paulo representa 46% da demanda do Estado por gás natural.
De acordo com a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), o potencial de produção do Brasil em 2018 foi de 84,6 bilhões Nm³ (normal metro cúbico), sendo a maior parte no setor sucroenergético (41,4 bilhões Nm³).
“Há mais de 30 anos falamos sobre biogás e biometano, mas tudo anda muito devagar, pois há pouco interesse dos diferentes governos, há pouco incentivo, e nunca houve muito investimento em tecnologia. São Paulo tem um potencial imenso no setor sucroalcooleiro, mas trata-se de um setor que não quer correr muitos riscos. Agora, entretanto, parece que há um ambiente regulatório mais promissor”, crê Suani.
Ela explica que a extinta Secretaria de Energia e Mineração do Estado de São Paulo (substituída recentemente pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente), e a agência regulatória estadual, a Arsesp, vinham discutindo com ênfase os percentuais de biometano que deveriam ser injetados na rede paulista de gás natural. “Era uma porcentagem muito pequena, algo entre 0,5% e 1% do total de GN injetado, o que é pouquíssimo comparado ao nosso potencial de produção de biometano. Mas vinha sendo discutido.”
Perspectivas – Segundo ela, já existem três projetos em implantação para produção de biogás/biometano de resíduos da cana-de-açúcar. “Um deles é um projeto envolvendo a GasBrasiliano, concessionária que distribui gás encanado no noroeste paulista, e a Usina Cocal, no interior do Estado. A distribuidora construirá a rede de distribuição que levará o biometano da Usina Cocal, na cidade paulista de Narandiba, até Presidente Prudente, onde estão os consumidores finais desse gás.”
De acordo com Suani, para que seja interessante produzir o biometano para injetar na rede é preciso que os preços compensem. “A Cegás, no Ceará, paga o m³ de biometano mais caro do que o m³ do gás fóssil, convencional. Porque o biometano tem um inequívoco apelo de sustentabilidade, e ele tem um preço.”