Professor da Universidade de Tóquio apresentou projeto de CCS em um aquífero salino no Japão; em sua avaliação, o Brasil pode ser tornar líder na estocagem de CO2 em cavernas de sal.
Na última quarta-feira (17/10), o Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI) recebeu a visita do engenheiro e professor da área de tecnologia oceânica, política e ambiente da Universidade de Tóquio, Toru Sato. Ele esteve no Brasil para um congresso internacional, no Rio de Janeiro, e aproveitou a oportunidade para vir ao RCGI, em São Paulo, e falar sobre um projeto piloto de Carbon Capture and Storage (CCS) na cidade de Tomakomai, o primeiro desse gênero da ilha de Hokkaido, localizada ao norte do país. A responsável pela tecnologia do projeto é a Japan CCS Co. e o professor Sato está envolvido com a avaliação ambiental da iniciativa.
“Tomakomai é um projeto implementado pelo Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão. Antes da injeção de CO2 começar, em 2016, houve um período de preparação, de surveys e pesquisas que durou cerca de sete anos. É a primeira iniciativa de CCS em área urbana do mundo”, afirmou Sato. O reservatório é um aquífero salino profundo e o CO2 vem de uma planta que produz hidrogênio. Ele é capturado por absorção química e a taxa de recuperação é de 99,9%. Por dia, são capturadas 600 toneladas de CO2 (200.000 por ano). E a pureza do CO2 estocado é de 99%.
“O Ministério do Meio Ambiente exige que a pureza seja de 99%, porque teme vazamentos de gases tóxicos. Nós, no Japão, temos terremotos e outros eventos extremos que vocês, no Brasil, não têm”, disse.
A maior preocupação de Sato são, exatamente, os vazamentos. “A probabilidade é baixa, mas se o CO2 vazar, talvez alguns organismos marinhos sejam impactados. Temos de monitorar e também de saber como a biota marinha reagiria a um vazamento, se acontecesse.” De acordo com ele, há dois tipos possíveis de vazamento: no poço injetor e por meio de falhas geológicas. “É preciso evitar estocar onde há falhas, porque com os terremotos, essas falhas aumentam.”
O projeto de Tomakomai tem um rígido monitoramento, que inclui instalações onshore (para medir micro sismicidade e ocorrência de terremotos naturais) e offshore (que além das duas medidas anteriores, provêm também parâmetros de temperatura e pressão do reservatório). “Este é o último ano de injeção de CO2 no reservatório. Ele ainda será monitorado intensivamente pelos próximos cinco anos.”
Licença social – Segundo o professor, a aceitação pública de projetos desse tipo é muito importante, e daí também a relevância da avaliação ambiental. “Também é bom ressaltar que há uma diferença entre a aceitação local e a aceitação global, ou nacional, no caso de um projeto de CCS. Às vezes, a população local pode até aceitar, movida pelo fato de estar fazendo algo pelo aquecimento global. Mas, no geral, a aceitação local é mais complexa, envolve compensações, no caso de reservatórios offshore envolve negociações com as associações de pescadores, que temem que seus estoques pesqueiros sejam prejudicados no caso de um vazamento, por exemplo.”
De acordo com Sato, no caso do projeto em Tomakomai, a aceitação local foi boa. “Ali estão localizadas indústrias de papel e refinarias de óleo. Elas são boas pagadoras de impostos para a cidade, geram empregos e tudo mais, e precisam fazer captura e armazenamento de carbono. Então, ali a população local aceitou a ideia.”
O engenheiro acredita que, no tocante à aceitação pública da prática de captura e armazenamento de carbono, Brasil e Japão têm perfis distintos. E que, em seu país, a função dos ministérios é informar as pessoas sobre a CCS – lembrando que o Japão também assumiu compromissos em Paris, e tem de cumprir. “Mas lá, nós não produzimos petróleo e gás, nós só queimamos. No Brasil é diferente: a CCS está se tornando uma parte da indústria de óleo e gás. Imagino que os brasileiros não saibam detalhes das tecnologias da indústria de óleo e gás Portanto, talvez não cheguem a ter necessidade de saber mínimos detalhes sobre as tecnologias de CCS.”
Para a diretora de Recursos Humanos do RCGI, Karen Mascarenhas, as experiências relatadas por Sato são valiosas para o grupo que trabalha com a percepção pública de CCS no Centro. “É um case de sucesso. Os cuidados que tomaram e as ações de comunicação com a comunidade que desenvolveram são um aprendizado para nós”, diz ela, que visitou o piloto em Tomakomai. O RCGI lidera um grupo que estuda a percepção pública e a licença social de operação de iniciativas de CCS no Brasil.
Cavernas de sal – Apresentado ao projeto do RCGI que objetiva separar CO2 e CH4 gravitacionalmente em cavernas de sal e estocar o CO2 nesses reservatórios, Sato mostrou-se entusiasmado. “A estocagem em rocha salina é uma excelente solução e o armazenamento é muito seguro. Nos Estados Unidos, na Rússia e no oriente Médio eles usam esse tipo de reservatório para estocar combustíveis.”
Segundo Sato, cerca de 70% do custo total de operações de CCS é referente à captura e separação do CO2 de outros gases. “Isso é feito quimicamente hoje em dia, não fisicamente. Se o Brasil conseguir baratear a separação do CO2 de outros gases e ter sucesso nessa tecnologia, pode ser o líder na estocagem de CO2 em cavernas de sal offshore.”