Cerca de 30 publicações científicas, três pedidos de patente e 16 novos projetos estão entre as conquistas do Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation.
Um workshop de três dias resumiu os resultados dos primeiros dezoito meses de atuação do Fapaesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI). O evento aconteceu entre os dias 8 e 10 de agosto nas dependências da Escola Politécnica da USP (Poli-USP) e reuniu coordenadores e pesquisadores do RCGI, além de representantes da Shell, um dos financiadores do Centro, e de representantes de outras instituições de pesquisa, como o Instituto Tecnológico Vale.
Os frutos de um ano e meio de atuação foram muitos, tanto no âmbito geral quanto de cada projeto especificamente. No plano geral, destacam-se publicações em periódicos científicos (aproximadamente 30), aparições na mídia (especializada e não especializada), participação em conferências e visitas a instituições internacionais para construção de possibilidades de colaboração em pesquisa e inovação.
“Há também três patentes em processo de depósito, resultado direto do esforço dos pesquisadores envolvidos nos projetos do Centro”, ressaltou Júlio Meneghini, diretor científico do RCGI, que abriu o evento no dia 8 juntamente com Gustavo Assi, diretor de difusão e comunicação.
Meneghini destacou ainda a importância da CCS (Carbon Capture and Storage) para que o mundo consiga alcançar as metas de redução de emissões estipuladas em Paris na última Conferência do Clima. “O petróleo, o gás natural e o carvão perfazem, respectivamente, 31,1%, 21,4% e 28,9% da matriz energética mundial. Mesmo que quintuplicássemos o uso de biocombustíveis, isso não seria suficiente para cumprir as metas climáticas acordadas. Por isso, as tecnologias de CCS são tão importantes.”
Novidades – Ainda na abertura do evento, Meneghini apresentou os 16 projetos de um novo programa do RCGI dedicado a questões que envolvem redução de emissões de CO2 (Confira aqui a relação dos novos projetos).
“Com esse quarto programa, aos atuais 150 pesquisadores do RCGI vão se juntar mais cem, entre professores, pós docs, doutorandos, mestrandos e alunos de iniciação científica. E nosso budget vai triplicar”, resumiu Meneghini.
Guilherme Rocha, gerente de relações com a imprensa da Shell no Brasil, e Camila Brandão, representante do Comitê Executivo da Shell no quadro do RCGI, lembraram que o corpo de pesquisadores do Centro tem acesso a recursos que dificilmente outras instituições no País poderiam prover.
“Temos US$ 40 milhões por ano para investir nessa parceria com vocês. Mas é preciso que a universidade participe de todas as etapas da cadeia tecnológica do petróleo e do gás, que chegue até o último ponto que é o desenvolvimento de um novo produto e sua colocação no mercado”, sustentou Camila.
A colaboração da academia, entretanto, pode se dar em várias frentes, como sustentou o professor Cláudio Oller do Nascimento. “Publicações científicas e pesquisas que geram patentes não são incompatíveis e a academia pode e deve produzir em ambas as frentes”, disse ele.
Após a abertura e um balanço desse primeiro período de pesquisas, feito pela consultora em recursos humanos e liderança Karen Mascarenhas, a professora Rita Maria de Brito Alves deu início à apresentação dos dez projetos que constam do programa de Físico-Química. Uma das novidades é que o dispositivo supersônico para separação de CO2 e CH4, antes parte do projeto 19, que inclui também a criação de membranas cerâmicas, agora será desenvolvido em um dos 16 novos projetos do portfólio do RCGI.
No segundo dia do evento, foram apresentados os resultados dos programas de Engenharia, coordenado pelo professor Emílio Silva, e de Políticas de Energia e Economia, liderado pelo professor Edmilson Moutinho. Pesquisadores desse último programa citaram suas participações na International Gas Union Research Conference (IGRC), em maio deste ano, no Rio de Janeiro. Cerca de 13 artigos do grupo foram aprovados para apresentação no evento, sendo que seis deles mereceram apresentações orais.
No programa de Engenharia, a grande novidade ficou por conta do projeto 29 (Desenvolvimento de um veículo flex penta fuel), agora sob o comando da equipe do professor Clayton B. Zabeu, do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT). “Estamos caracterizando o funcionamento do motor por meio do uso de Big Data. Neste momento, temos uma lista de 60 variáveis que fornecem as mais diversas informações sobre o carro”, resumiu Daniel de Oliveira Mota, um dos membros da equipe do IMT.
Já a professora Suani Coelho, coordenadora do projeto 27, sobre biogás, anunciou diversas novas, entre elas uma parceria com o National Renewable Energy Laboratory (NREL). “Vamos elaborar mapas de produção de biogás interativos e geo referenciados para o Estado de São Paulo. E, para isso, vamos contar com a ajuda do NREL, instituição que tem 40 anos de tradição em pesquisas sobre energias renováveis.”
Media Training – No último dia do evento, membros do RCGI participaram de media training ministrado pelo diretor da Acadêmica Agência de Comunicação, José Roberto Ferreira. A Acadêmica é a agência que presta serviço de assessoria de imprensa ao RCGI. A iniciativa rendeu boas discussões. O professor Luís Venturi, coordenador do projeto 28, e que teve os resultados de sua pesquisa sobre vulnerabilidade energética da cidade de São Paulo divulgados na imprensa, elogiou a iniciativa.
“Eu gostaria, inclusive, que nos aprofundássemos nesse tema, realizando media trainings individuais, com simulação de entrevistas e avaliação do nosso desempenho por parte da Acadêmica. Esse tipo de approach é muito necessário e oportuno para os que, como eu, estão pouco acostumados a lidar com os veículos de mídia, os repórteres e os jornalistas.”
Desde que o RCGI foi criado, o Centro foi objeto de 133 notícias na imprensa – fruto de um trabalho de divulgação feito com todos os projetos dos três programas até então existentes.
O professor Ricardo Esparta, do projeto 23, lembrou que a questão da divulgação de pesquisas para a imprensa é um grande desafio. “Nós não temos essa cultura. Reconhecemos a importância de saber lidar com a imprensa e de ‘virar notícia’, mas não temos a cultura da comunicação. É um desafio para a comunidade acadêmica.”