País é o quarto maior produtor mundial de gás natural e o quinto maior exportador; diretor de difusão de conhecimento do Centro antevê possibilidades de colaboração.
Em dezembro passado, o Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI) recebeu a visita da oficial de Desenvolvimento de Negócios de Petróleo, Gás e Tecnologias Oceânicas do Consulado Geral do Canadá, Nadine Lopes. Ela atua no âmbito do Trade Comissioner Service, prestado pelo governo canadense às empresas que querem se internacionalizar e prospectar oportunidades em outros países. Nadine se interessou pelo trabalho do RCGI após ler a respeito do Centro na internet, e sugeriu uma visita. Ela fez uma apresentação sobre o setor de petróleo e gás natural do país norte-americano, e assistiu à apresentação do diretor de Difusão de Conhecimento do RCGI, Gustavo Assi, sobre o Centro.
“Eu e outros colegas, especialistas em diversas áreas, somos canais de comunicação de empresas canadenses com o mercado local, ajudando aquelas que querem conversar com instituições brasileiras, não apenas empresas, mas instituições de pesquisa também. Recebemos e levamos missões para o Canadá, e abrimos as portas para as empresas canadenses em locais como, por exemplo, este centro de pesquisa, que pode interessar a elas por algum projeto específico desenvolvido aqui”, explicou Nadine.
Além do professor Gustavo Assi, ela foi recebida também pela professora Dominique Mouette, coordenadora do projeto 25 do RCGI, e pela diretora de Recursos Humanos, Karen Mascarenhas. A convidada lembrou que Brasil e Canadá têm um acordo na área de ciência e tecnologia, desde 2010. “Editais da Fapesp, da Faperj e de outras FAPs são elegíveis para participação de empresas e centros canadenses. Assim, as empresas canadenses buscam parceiras brasileiras com quem possam dialogar, também para fazer parte desses editais.”
O Canadá é detentor da terceira maior reserva provável do mundo de óleo e gás, com 174 bilhões de barris prováveis, sendo 170 bilhões provenientes das oil sands e outros 4 bilhões disponíveis em reservas convencionais. “Hoje o Canadá produz cerca de 5 milhões de barris por dia, sendo 95% em campos onshore, sobretudo na província de Alberta, mas também um pouco nas províncias de Saskatchewan e British Columbia”, disse Nadine.
O país é o quinto maior produtor mundial de energia e de petróleo, o quarto maior produtor mundial de gás natural (e quinto maior exportador), sendo o maior exportador de petróleo bruto para os EUA. “O setor de óleo e gás representa cerca de 7% do PIB canadense”, afirmou a visitante.
Gás Natural e biogás – Segundo Nadine, o gás natural representa hoje 35% da matriz energética canadense, mas existe um movimento no país, capitaneado pela iniciativa privada, com a intenção de aumentar essa porcentagem para 43%.
“Aproximadamente 21 milhões de canadenses consomem gás natural diariamente, distribuídos em sete milhões de unidades consumidoras – residenciais, industriais e comerciais. Nas residências, o gasto médio residencial com gás natural é de 1.061 dólares por ano.”
De acordo com ela, o setor do GN no Canadá é domínio da iniciativa privada, e não há estatais nem atuando na distribuição, nem operando os dutos. “Nos últimos dez anos foram investidos 21 bilhões de dólares na malha dutoviária canadense, sendo mais de 4 bilhões só em 2017.
Ela trouxe um resumo da visão da indústria para o setor nas próximas duas décadas. “Os pilares são: apoiar crescimento mercado gás natural renovável (biogás), uma área que vem crescendo muito; expandir uso do gás em zonas rurais, por gasodutos ou gás natural liquefeito transportado em caminhões; desenvolver o mercado de gás natural veicular (GNV); apoiar a inovação tecnológica no setor do gás e iniciativas de eficiência energética; e também a área de segurança e cyber security.”
Nadine detalhou que as províncias de Quebec e British Columbia são as que mais investem em biogás, com os projetos mais importantes e inovadores do país. Em 2018, foram executados pelo Canadá 11 projetos de biogás, entregando energia a 55 mil residências. Boa parte do energético é gerada a partir de resíduos de aterros sanitários.
“O custo do biogás hoje gira em torno de 6 a14 centavos de dólar por kilowatt e a meta da indústria é que, até 2025, 5% da energia seja gerada a partir de biogás, sendo esse percentual ampliado para 10% em 2040.” Para isso, disse ela, foi criado um fundo de comercialização de tecnologia das empresas de biogas.
“O RCGI tem uma especialista em biogás, a professora Suani Coelho, que coordena o projeto 27, e uma aproximação com ela nesse sentido seria muito bem-vinda. Recentemente ela lançou um mapa interativo com os hotspots de produção de biogás no estado de São Paulo e o potencial de geração de energia com esse biogás”, lembrou a diretora de recursos humanos do RCGI, Karen Mascarenhas.
Nadine disse também que o governo federal e algumas províncias canadenses (sobretudo British Columbia e Ontário) têm investido em infraestrutura e veículos movidos a gás natural na frota de transporte coletivo (para transportes de carga média e pesada).
A professora Dominique Mouette afirmou que há uma expectativa de expansão do uso de GNL em veículos pesados no Brasil. “O mercado do GNV para veículos de carga deve se expandir. Fizemos recentemente uma pesquisa com caminhoneiros e detectamos boa receptividade, até porque estão preocupados com os custos.”
Nadine lembrou, ainda, que no Canadá as províncias são responsáveis por regular o setor de óleo e gás, ao contrário do Brasil, em que isso é atribuição da União. “Em Quebec há muita reserva de shale, tanto óleo quanto gás, mas eles são contra a exploração e não vão explorar. Já em British Columbia, tem fracking, tem exploração de shale, e estão produzindo muito.”
Oportunidades – Para o diretor de difusão de conhecimento do RCGI, Gustavo Assi, há muito espaço para cooperação entre Brasil e Canadá no setor do gás natural e outros. “Pela realidade e disponibilidade de recursos naturais dos dois países, creio que Brasil e Canadá têm muito a colaborar científica e tecnologicamente, para o desenvolvimento do uso do gás natural. E acredito que o Trade Comissioner Service pode fazer uma boa aproximação entre o RCGI e empresas e universidades canadenses.”
Ele destacou o modelo de aproximação com a indústria e com setores do governo que o RCGI vem desenvolvendo, por conta da ênfase em inovação e transferência de tecnologia. “A aproximação com empresas, por exemplo canadenses, através de transferência de tecnologia, ficou mais fácil com o modelo de pró-atividade do RCGI, que não se encontrava na universidade algum tempo atrás.”
Assi lembrou que o centro tem muito contato e também colaboração científica com a Universidade de Calgary, em Alberta, e convidou a visitante para a próxima ETRI (Energy Transistion Research Innovation), que deve acontecer em 2020 e abrigará também stands de empresas e instituições interessadas em estar no evento. “O RCGI pode fazer um papel de catalisador de pesquisadores e instituições envolvidos com o tema do gás natural e da transição energética, o que pode ser útil para o Trade Comissioner Service, e muito bom para o Centro também.”