Em evento do RCGI, o psicólogo Sigmar Malvezzi discutiu sobre a percepção pública e comunicação no contexto da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável.
Erradicação da pobreza, saúde e bem-estar, educação de qualidade, energia limpa e acessível e ação contra as mudanças climáticas. Esses são alguns dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) dentro da Agenda 2030. O Fapesp Shell Research Centre For Gas Innovation (RCGI) está cada vez mais comprometido com esses objetivos, especialmente no combate ao aquecimento global, desenvolvendo tecnologias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Em evento da última sexta-feira (13/11), o Centro convidou o psicólogo Sigmar Malvezzi, professor do Instituto de Psicologia da USP, para falar sobre a importância da comunicação e da percepção pública nesse desafio. Para ele, o sucesso dos ODSs só será possível se todos forem protagonistas da causa.
Desde 2018, o RCGI tem feito esforços para que suas atividades de pesquisa sejam ainda mais transdisciplinares, fomentando a sustentabilidade e incluindo também uma dimensão social. Malvezzi foi convidado para compartilhar sua visão nesse contexto.
“Os propósitos dos ODSs atravessam fronteiras civis, institucionais e ideológicas. São metas de longo prazo que revelam compromisso moral com o futuro”, afirma Malvezzi. Ele acrescenta que na sociedade “globalizada, digitalizada e fragmentada” em que vivemos, a sobrevivência e a eficácia dependem de uma adaptação artesanal e criativa, não mecânica e funcional. “No mundo de hoje, não podemos não pensar de forma global. Por que, mesmo dispondo de recursos, a sociedade não dá conta da saúde – como vemos na pandemia –, da qualidade de vida, da justiça, da conservação do ambiente e da paz social? Será que ainda não aprendemos a reconhecer e existir na dimensão global?”, questiona.
Segundo Malvezzi, o cumprimento da Agenda 2030 não depende apenas da tecnologia, mas também da compreensão, adesão, mobilização e protagonismo da sociedade, que podem ser obtidos pela interlocução, reflexão crítica e liderança. “É necessário mudar a compreensão dos problemas globais e entendê-los em dois níveis: o das causas e o das razões. O nível das causas está, por exemplo, na observação de que o fogo ferve a água. E o das razões é a explicação disso. A compreensão e a eficácia crescem na interdependência dessas duas cadeias”.
Além da troca de conhecimento técnico, o psicólogo propõe ações de intersubjetividade para direcionar o imaginário coletivo para esses objetivos e para a “casa compartilhada” em que vivemos. Ele utiliza o exemplo do protagonista do filme As Aventuras de Pi, que sobreviveu graças ao seu esforço imaginativo, sua reflexão e seu comprometimento com a superação da carência de recursos. “Precisamos da adesão das pessoas a partir de uma consciência que não seja efêmera. Ninguém sobrevive sem estimular os seus sonhos. Nós precisamos do conhecimento técnico, mas também da força da subjetividade na nossa motivação. Cada um de nós precisa ser um Pi”.