Dados preliminares mostram que com o preço de um litro de gasolina o motorista rodaria quase o dobro da distância, se usasse o GNV; equipe ainda vai testar o biometano no veículo.
Um grupo de pesquisadores do Fapesp Shell Research Centre for Gas Innovation (RCGI) está testando gás natural veicular (GNV) e biometano em um veículo híbrido movido a gasolina (os híbridos, além do motor a combustão, também têm um motor elétrico). Integrantes do projeto 29 do Centro instalaram dois tanques de gás de 7,5 m³ cada no veículo, um Toyota Prius, e devem iniciar testes mais robustos com o automóvel no começo deste mês.
“Já comparamos o veículo híbrido rodando com gasolina ao veículo convencional. Um carro convencional faz 10 ou 11 km por litro de gasolina, enquanto o híbrido faz 22, até 25 km por litro. Agora, queremos comparar o veículo híbrido movido pelo gás natural com o híbrido movido a gasolina, em circuitos urbanos. Já fizemos alguns testes preliminares com o GNV”, adianta o engenheiro Renato Romio, chefe do laboratório de motores de veículos do Instituto Mauá de Tecnologia e um dos responsáveis pelo projeto no RCGI.
De acordo com os testes preliminares, em circuito urbano, o automóvel fez 22 km com um litro de gasolina, e cerca de 28 km com 1 m³ de GNV. “O Prius já tem um consumo muito baixo de gasolina e o consumo de GNV é ainda menor”, confirmou o professor Julio Meneghini, diretor científico do RCGI e também um dos coordenadores do projeto.
Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), estabelecem o preço médio da gasolina na cidade de São Paulo atualmente em R$ 4,15 por litro (medido no período entre 10 e 16 de novembro de 2019). O preço do GNV, para o mesmo período, é R$ 2,86 por m³. Ou seja: se o carro modificado pelos engenheiros for abastecido com gasolina, é possível fazer 22 quilômetros com R$ 4,15. Se ele for abastecido com GNV, o motorista pode chegar a 40 quilômetros rodados com os mesmos R$ 4,15 – quase o dobro da distância.
“Mas isso é na cidade, ambiente em que ele é mais eficiente na comparação com o veículo convencional. Na estrada ainda não testamos, mas sabemos que se exige muito do motor a combustão nesta condição e o carro híbrido acaba tendo um rendimento mais parecido com o convencional”, ressalva Romio, lembrando que o carro ainda não foi testado com biometano.
“Um híbrido já tem uma eficiência geral melhor que o convencional”, complementa o engenheiro. Ele explica que a cada vez que se freia um carro convencional em uma descida, por exemplo, essa energia é desperdiçada. No híbrido, é possível recuperar a energia para ser usada em outro momento.
Romio afirma que, com o uso do GNV, na comparação com a gasolina, ganha-se duplamente. “Primeiro, por conta da eficiência do híbrido; e segundo, porque emite-se menos CO2 com o uso do GNV. Isso porque o metano, ao ser queimado, emite cerca de 15% menos CO2 do que a gasolina.” O metano é o principal componente do gás natural.
Já Meneghini chama a atenção para a autonomia do veículo “modificado”, em circuito urbano. “Abastecendo os dois tanques de gás do veículo, mais o tanque de gasolina, que comporta cerca de 40 litros, é possível ter uma autonomia de mais de 1.100 km na cidade”, afirmou ele.
Os próximos testes envolverão ensaios mais robustos da medição do consumo de combustível, além da medição das emissões de CO2 e outros gases-estufa, e de poluentes. “Creio que os dados preliminares que tivemos de consumo de combustível irão se manter”, prevê Romio.
Os integrantes do projeto testarão ainda o uso do biometano nos tanques de gás, e de etanol no lugar da gasolina. “O etanol emite cerca de 6% a menos de gases de efeito estufa do que a gasolina, para a mesma potência gerada. Recentemente, a Toyota lançou um Corolla híbrido flex. Arrisco dizer que este modelo, se abastecido com etanol, é o ‘carro mais limpo do mundo’ atualmente, em termos de emissões de gases-estufa”, considerando o ciclo de vida, diz ele.
A equipe do projeto conta ainda com a participação dos professores Guenther C. Krieger Filho e Celma de Oliveira Ribeiro, ambos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP); Suani Coelho, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP); e, indiretamente, pesquisadores da equipe do Centro de Pesquisa em Engenharia Prof. Urbano Ernesto Stumpf, com sede no Instituto Mauá de Tecnologia, associado à da Poli/USP e ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Este centro também é apoiado pela Fapesp e foi criado para desenvolver pesquisas visando a utilização de biocombustíveis.