Ação & Interação – O sucateamento da educação paulista

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O sucateamento da educação paulista

A educação pública paulista vem há muito tempo precarizada, avançando muito pouco em algumas situações, mas em seu escopo ainda falta muita coisa do que se orgulhar do que é oferecido à juventude.

A ideia da escolarização pública estadual em São Paulo possui uma história de grande exclusão e defasagem no ensino. O cenário atual não é diferente. Mas existe ainda um agravante para algumas escolas: sua localização. Escolas de regiões periféricas possuem um rendimento ainda menor que escolas de regiões nobres.

Em seus estudos mais recentes, comparando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), na zona oeste da capital paulistana, mostra que dois bairros nobres (Lapa e Perdizes), dois periféricos (Jaraguá e Perus) e Pirituba que é um bairro intermediário, tem amplas diferenças entre número de professores, evasão escolar, equipamentos de cultura e esporte, verba por aluno, e são completamente desproporcionais a serem mensurados e comparados.

Em exemplo na tabela a seguir, segundo o indicador de qualidade do Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (IDESP), obtemos as médias na prova do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), que qualifica o indicador de escolas de uma região periférica e de uma região nobre.

Média em % Abaixo do Básico Básico Adequado Avançado
Escolas públicas de Perus 39,45 36,83 21,25 0,18
Escolas Públicas de Perdizes 21,7 35,43 41,47 1,43

Fonte: Idesp – Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.

Ainda, no mesmo estudo simples,  mostra uma diferença notória, no caso do bullying e assédio, alunos de escolas das regiões periféricas selecionadas relataram duas vezes mais casos desses do que alunos de escolas de regiões nobres.

Segundo dados mais recentes do IDESP na capital como um todo, mostra que alunos da rede pública paulista terminam etapas do ciclo básico de educação com defasagem de até três anos no aprendizado. O desempenho alcançado por alunos do 9º ano do ensino fundamental em Matemática, por exemplo, equivale ao adequado para estudantes do 6º ano.

Ainda não foram medidos os indicadores em plena pandemia, mas se continuar sem qualquer mudança, a situação ainda tende a piorar. Desta mesma forma, a própria Secretaria de Educação do estado de São Paulo divulgou neste mês de novembro que 15% dos alunos da rede, cerca de 500 mil estudantes, não entregaram nenhuma atividade durante o período de ensino remoto, o que consequentemente pode vir a reprovar, caso não o façam até janeiro. Isso condiz com uma condição do sucateamento da educação, que não chega igual a todos.

 

DESCASO HISTÓRICO

Não é de hoje que a educação paulista sofre com a política de desmonte em seu sistema. Medidas como a aprovação automática, a falta de infraestrutura, os baixos salários pagos aos professores e a falta de programas de qualificação, vêm destruindo as escolas do estado.

Em 2015, professores protagonizaram uma das maiores greves já registradas na rede (93 dias), por melhorias na educação e por abono salarial.

Ainda, no mesmo ano, o governo estadual queria propor a “reorganização escolar”, que previa o fechamento de 94 escolas estaduais. A medida encontrou firme resistência por parte dos estudantes. Grandes manifestações, assembléias e audiências foram realizadas e mais de 200 escolas foram ocupadas, contra o projeto do governo estadual. Após meses de luta, o governo revogou a proposta e o seu secretário de Educação, Hermann Voorwald, pediu a demissão do cargo.

Em 2016, apesar do aumento de cerca de 70 mil matrículas na rede estadual – principalmente em consequência da crise econômica, o governo fechou cerca de 2.800 salas de aula da rede estadual. O Ministério Público pediu declarações para o então governador na época, Geraldo Alckmin e o mesmo afirmou à justiça, que era “natural” o fechamento dessas salas de aula.

As ETECs, exemplo de ensino do governo do estado, existentes há mais de 100 anos, só obtiveram merenda nos seus centros de ensino, a partir de 2017, porém são muitos, os problemas relatados, desde comida estragada, até o pequeno grupo seletivo de alunos em ensino integral que podem receber a alimentação. Alunos de meio período nas ETECs não têm direito ao recebimento de merenda escolar.

Parafraseando Darcy Ribeiro, “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”.

 

Referências.

Secretaria de educação. Idesp por unidade escolar e entenda como o índice funciona. Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/sala-de-imprensa/release/confira-o-resultado-o-idesp-por-unidade-escolar-e-entenda-como-o-indice-funciona/  Acesso em: 13 de novembro de 2020.

IDH: OS 20 MELHORES E OS 20 PIORES DISTRITOS DE SÃO PAULO. Disponível em: http://fotos.estadao.com.br/galerias/cidades,idh-os-20-melhores-e-os-20-piores-distritos-de-sao-paulo,24925  Acesso em: 13 de novembro de 2020.

Secretária da educação. SISTEMA DE AVALIAÇÃO DE RENDIMENTO ESCOLAR DO ESTADO DE SP: SARESP. Disponível em: http://www.educacao.sp.gov.br/consulta-saresp.html  Acesso em: 13 de novembro de 2020.

 

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