Ansiedade climática: caminhos ainda a serem explorados pela ciência

 

Os jovens do Brasil são alguns dos mais preocupados com os efeitos das mudanças climáticas. Segundo uma pesquisa de 2021 realizada em 10 países, com 10 mil pessoas entre 16 e 25 anos, mais de 60% dos brasileiros entrevistados se dizem “muito” ou “extremamente preocupados”. Cerca de metade acredita que as mudanças climáticas afetam negativamente sua vida diária.

estudo, conduzido por pesquisadores baseados no Reino Unido, Finlândia e Estados Unidos, é apenas um de uma leva de pesquisas que vêm se debruçando sobre os efeitos das transformações ocorridas no clima sobre a saúde mental.

De acordo com reportagem publicada em abril na revista Nature, as mudanças climáticas estão exacerbando desordens mentais, que já afetam quase um bilhão de pessoas e estão entre as maiores causas de problemas de saúde.

São diversos os caminhos apontados até agora sobre como as consequências do aquecimento global afetam a saúde mental, de traumas causados por furacões, enchentes, secas e incêndios até a chamada “ecoansiedade”, o medo crônico da tragédia ambiental.

Ainda que sejam necessários mais estudos sobre métodos para ajudar as pessoas a prevenirem ou lidarem com esses problemas, alguns trabalhos sugerem que ações em prol do clima e ativismo podem ser um caminho efetivo.

 

Jovens estão preocupados com o clima

Segundo uma pesquisa global feita em 2021 com 10.000 pessoas entre 16 e 25 anos, há grandes índices de preocupação com as mudanças climáticas.

As pesquisas indicam que os mais impactados parecem ser justamente aqueles que sofrem com a injustiça climática, grupos que são e serão mais afetados pelas mudanças causadas no clima.

Além dos jovens, pessoas que já convivem com a pobreza e a desigualdade – ou sofrem de algum transtorno prévio – têm maiores riscos de deterioração da saúde mental. “As mudanças climáticas exacerbam situações econômicas existentes, que os mais pobres sentem com mais intensidade”, disse à Nature a pesquisadora e ativista climática Jennifer Uchendu, fundadora de um grupo ambiental em Lagos, na Nigéria.

Nessa seara de pesquisas, um novo campo examina justamente como a consciência da mudança climática e de seus impactos pode levar a estados de preocupação e estresse (ou “ecoestresse”), sentimento que recebe ainda nomes como “ecoansiedade”, luto climático e “solastalgia”, “quando a noção de nosso lugar no mundo é violada”, como define o filósofo australiano Glenn Albrecht, criador deste último termo. É um sentimento de perda do lar, a nostalgia sentida mesmo sem estar distante.

Fenômeno global

Numa pesquisa de 2018, 72% das pessoas entre 18 e 34 anos responderam que notícias negativas sobre o meio ambiente afetam seu bem-estar emocional, causando ansiedade, pensamento acelerado ou problemas para dormir.

Outro estudo, conduzido em 2020, em plena pandemia, e publicado em 2022 na revista The Lancet Planetary Health, indicou que pessoas entre 16 e 24 anos reportavam mais estresse por conta das mudanças climáticas do que da Covid-19.

 

Essas “ecoemoções” já foram desacreditadas como preocupação exclusiva de pessoas de países ricos. Mas pesquisas como a citada na abertura deste texto, que aponta os brasileiros entre os mais preocupados com o clima, desafiam essa visão.

Somando todos os 10 países do levantamento, mais de 45% dos respondentes afirmaram que as mudanças climáticas tiveram impacto na sua alimentação, trabalho, sono ou em outros aspectos da vida diária.

Relatos de impactos na habilidade de funcionar normalmente foram mais altos nas Filipinas, na Índia e na Nigéria, e mais baixos nos Estados Unidos e no Reino Unido, contradizendo a ideia de uma preocupação de moradores de países ricos (veja no gráfico).

Cuidados possíveis

O desafio para compreender e tratar problemas mentais exacerbados pela crise climática será imenso, afirmam os pesquisadores, num mundo em que o cuidado com a saúde mental já é ruim.

Em países de renda baixa e média, cerca de 3% das pessoas com depressão recebem tratamento adequado, enquanto em países ricos são 23%. Ao mesmo tempo, muitas comunidades estão encontrando sua própria forma de lidar com esses obstáculos, mas a efetividade dos esforços raramente é estudada e compartilhada.

Algumas evidências sugerem que tomar parte na ação para enfrentar os desafios impostos pelas alterações do clima pode ajudar as pessoas a lidarem com a ecoansiedade. Outra recomendação é limitar o tempo no celular lendo notícias negativas sobre o assunto.

Os pesquisadores também estão começando a tomar medidas coletivas. Um dos mais ambiciosos esforços de pesquisa sobre saúde mental relacionada às mudanças climáticas, o projeto Connecting Climate Minds, divulgou uma série de prioridades de pesquisa e ação, como entender como as mudanças climáticas estão inseridas no estresse causado por guerras, violência e epidemias na África Subsaariana.

O projeto inclui pesquisadores, formuladores de políticas públicas e indivíduos que estão vivenciando as mudanças climáticas em primeira mão.

Uchendu, uma das pesquisadoras entrevistadas pela Nature, conta que uma dessas pessoas entrou virtualmente numa das reuniões do grupo. A sala em que estava havia sido alagada por uma enchente.

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Disponível em: https://www.sciencearena.org/noticias/ansiedade-climatica-caminhos-ainda-a-serem-explorados-pela-ciencia/