Dislexia

  A dislexia ou Transtorno específico da aprendizagem com prejuízo na leitura, é caracterizada pela dificuldades em ler, interpretar e escrever. Essa persistente comprometimento é relacionado a  decodificar, ler isoladamente as palavras e relaciona-las. 

Existem diferentes classificações quanto aos  impactos relacionados a dislexia, como por exemplo, aqui está sendo considerada a definição proposta e baseada nos critérios diagnóstico do DSM-5  que  inclui a dislexia como um transtorno específico da aprendizagem, tendo como característica o prejuízo na leitura, na velocidade de reconhecimento de palavras e no processo de decodificação, que pode ser relacionado ou não a dificuldade de compreensão.

As palavras  DIS – LEXIA, vem do grego com o significado de dificuldade com as palavras 

Dislexia do desenvolvimento
(Congênita e inerente ao indivíduo)

A Dislexia do desenvolvimento (Congênita e inerente ao indivíduo) é um distúrbio da linguagem, de base neurobiológica, que representa dificuldades na aprendizagem da leitura, soletração e de escrita, além de se ter a possibilidade de alterações relacionadas concentração, memória de curto prazo, organização e com o sequenciamento de informações.

Funcionamento neuronal da linguagem verbal

“Para possibilitar o desenvolvimento da linguagem verbal são desempenhadas por circuitos neurais acomodados no hemisfério esquerdo, incluindo a área de Broca, a área de Wernicke e outras áreas e feixes de associação do córtex do hemisfério esquerdo, responsáveis pela leitura e pela produção escrita, especialmente a área frontal terciária, encarregada do planejamento e da orquestração da linguagem verbal.”

Como é caracterizada a dislexia?

“É caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam tipicamente de um défice na componente fonológica da linguagem que é frequentemente imprevisto em relação a outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que podem impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais." (Associação Internacional de Dislexia, 2003, cit. por Teles, 2009).

Caracterização da dislexia

 Na expressão oral, podem ser encontradas  dificuldades em selecionar as palavras adequadas para comunicar, isso ocorre tanto na linguagem escrita como oral, ademais, apresentam vocabulário pobre e pouco expansivo. 

 Na leitura/escrita, geralmente utilizam-se de uma leitura lenta e silabada. Para a realização de leitura silenciosas, precisam algumas vezes do apoio articulatório dos lábios, além de perderem a linha de leitura e terem dificuldades na compreensão e interpretação de textos

 Ao nível da consciência fonológica, revelam grandes  dificuldades,  isto é, na tomada de consciência de que as palavras
faladas e escritas são constituídas por fonemas; -confundem/invertem/substituem letras, sílabas ou palavras; – na escrita
espontânea (composições/redações) mostram severas complicações (dificuldades na composição e organização de ideias). 

   Crianças com dislexia possuem maior comprometimento e dificuldade em aprender, analisar e interpretar as unidades fonológicas, que são as sílabas, rimas e fonemas, os quais compõem nossa linguagem verbal. Por essas dificuldades, são encontrados maiores obstáculos ao identificar e mapear os grafemas que formam as palavras. 

   Por consequência,  maiores são as dificuldades para realizar as relações grafema fonema, que compromete o sistema de decodificação e conversão para as palavras, que por sua vez compromete a compreensão de frases e textos.

Crianças que possuem dislexia, passam por dificuldades em relação a autoestima e ou confiança, uma vez que passam a minimizar suas participações e interações em sala de aula, ou até mesmo em seu cotidiano, por sentir-se inferior a seus colegas. Por isso, o diagnóstico desse quadro deve ser realizado com uma equipe interdisciplinar e também acompanhamento psicológico, uma vez que diferentes impactos podem ser ocasionados por essa condição.

Comorbidades

A Dislexia pode coexistir  ou ser confundida com outros transtornos do neurodesenvolvimento, que também são listados no DSM-5, como por exemplo:

  • Distúrbio Específico de Linguagem (DEL): Distúrbio relacionado ao comprometimento da aquisição e do desenvolvimento da linguagem oral, podendo comprometer outras habilidades acadêmicas;
  • Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): caracterizado principalmente pelas alterações comportamentais, além de outros comprometimentos em relação ao desenvolvimento da linguagem oral;
  • Discalculia: dificuldade persistente na execução e interpretação de cálculos matemáticos; 
  • Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC)

Para você que é responsável de crianças que possuem dislexia temos um conteúdo especial para você: 

Os vídeos e conteúdos abaixo são resultado do Trabalho de Iniciação Científica realizado pela aluna Ana Júlia Almeida Biage Freitas, sob orientação da Profª Drª Patrícia Abreu Pinheiro Crenitte, na Faculdade de Odontologia de Bauru e financiado pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq.

Seu filho foi diagnosticado com Dislexia e você possui dúvidas sobre o que é isso e quais serão as consequências de agora para frente? Calma, aqui no site desenvolvemos uma sessão especial para os pais tirarem suas dúvidas sobre esse transtorno, bem como quais estratégias de estimulação você poderá realizar em casa para ajudar seu filho. Vamos descobrir mais sobre isso?!

 

A Dislexia é um transtorno específico de aprendizagem, de origem neurobiológica, que se caracteriza por dificuldades na precisão e na fluência da leitura de palavras e por prejuízo nas habilidades de decodificação e escrita. A origem neurobiológica do transtorno significa que a Dislexia surge durante o desenvolvimento da criança e não tem relação com fatores externos. Geralmente, essas dificuldades são resultados de um prejuízo no componente fonológico da linguagem, ou seja, seu filho apresenta problemas em relacionar os sons, sílabas e letras. Essas alterações são inesperadas em relação às outras habilidades cognitivas e ao acesso à instrução escolar adequada. Algumas consequências que podem surgir com a Dislexia são dificuldades no entendimento de leitura e pouco envolvimento com a escrita, interferindo no entendimento da leitura e, por consequência, pouco envolvimento na escrita por parte da criança.

Causas da dislexia

Existe muita dúvida acerca das causas que levam à dislexia. Meu filho pode adquirir a Dislexia por uma má instrução do professor?  É algo que se adquire em decorrência de alguma doença tida na infância?

A resposta para todos esses questionamentos acima é não.

A dislexia é uma alteração neurobiológica que se caracteriza por um rendimento inferior ao esperado para a idade, nível socioeconômico e instrução escolar, e afeta os processos de decodificação e compreensão da leitura, ou seja, essa criança tem todas as condições para aprender a ler e mesmo assim não aprende, apesar de ter um nível de inteligência. Essa disfunção ocorre no Sistema Nervoso Central, ou seja, ocorre uma falha na aquisição, processamento e armazenamento das informações. Áreas e circuitos neuronais específicos são envolvidos em determinado momento desse desenvolvimento. Além disso, existe um forte componente hereditário e genético no aparecimento do transtorno. Assim, podemos perceber que as causas da dislexia são puramente orgânicas e neurológicas; dessa forma, não existe a possibilidade da criança adquirir o transtorno em decorrência de um fator externo. Vale ressaltar, também, que tais alterações do Sistema Nervoso Central não comprometem a inteligência e as demais habilidades intelectuais do jovem.

Manifestações da dislexia

Agora que definimos o que é a dislexia e esclarecemos suas causas e surgimento, vamos entrar num assunto que gera muita dúvida entre os pais: “como esse transtorno se manifesta no meu filho? Quais são os sintomas que ele apresenta que podem indicar um quadro de dislexia?”

A dislexia é um distúrbio que se manifesta por um conjunto de alterações evidenciadas na aprendizagem da leitura e da escrita. Vale ressaltar que, quanto mais cedo feito o diagnóstico, mais sucesso a criança vai ter nas suas habilidades de linguagem escrita. Por isso, é fundamental reconhecer precocemente as manifestações. Seus sinais de risco são:

  • Atraso na aquisição de linguagem e/ou transtorno fonológico: a criança começa a falar tardiamente ao esperado e/ou apresenta alterações na fala que não são típicas para sua idade;
  • Dificuldades no processamento fonológico: a criança possui dificuldades na segmentação das sílabas, rimas e brincadeiras que envolvem os sons da fala; sua memória de curto prazo é improdutiva e, além disso, ela possui um vocabulário bastante restrito, não conseguindo buscar rapidamente a palavra exata para o fluxo do diálogo;
  • Dificuldade em decodificar sons e letras: a criança não consegue olhar para uma palavra e reconhecê-la a partir do contato visual direto; até com palavras que são consideradas de alta frequência ou seja que tem contato no dia a dia, como seu nome, rótulos de produtos (ex.: Danone, Nescau, etc)
  • Pela dificuldade em decodificar sons e letras, ela se desinteressa por atividades que envolvem leitura;
  • Aprendizagem afetada, ou seja, a criança pode relatar que não consegue ler e entender um texto de alguma disciplina e, por isso, seu rendimento fica abaixo da média.

Podemos ter crianças que apresentam tais dificuldades e sinais, mas que não tem Dislexia, portanto iremos diferenciar detalhadamente as diferenças entre a dislexia e as dificuldades escolares, pois esses são dois conceitos facilmente confundidos!

É importante que a família e a escola estejam atentas para essas manifestações, assim a criança pode passar por uma avaliação específica e receber um diagnóstico preciso, propiciando uma melhor qualidade de vida e maior inserção social. Embora esse diagnóstico não possa ser dado por um único profissional e exija uma equipe interdisciplinar, é fundamental buscar uma avaliação fonoaudiológica o mais rápido possível, pois esse profissional é apto para realizar a avaliação da linguagem oral e escrita e os aspectos subjacentes à aprendizagem e pode realizar encaminhamentos específicos. Além disso, o fonoaudiólogo identifica pontos chaves que indicam o quadro de Dislexia e é parte essencial da equipe de tratamento.

Diferença entre dislexia e dificuldade escolar

É muito comum que, antes do diagnóstico, a Dislexia seja confundida com uma dificuldade escolar da criança, visto que os maiores impactos do transtorno se dão, justamente, no período de aprendizagem. Porém, é possível diferenciar a Dislexia da Dificuldade Escolar, levando em conta alguns aspectos que podem, inclusive, auxiliar o profissional no processo de diagnóstico diferencial.

O desempenho escolar de uma criança depende de diferentes fatores, como as características da escola, da família (nível de escolaridade dos pais, presença e interação dos pais com a escola e tarefas trazidas) e, também, da própria criança. Então, quando um aluno apresenta dificuldade de aprendizagem, podemos pensar em vários motivos associados que estão levando a esse baixo rendimento. Porém, diferentemente da Dislexia, a dificuldade escolar não possui como causa uma alteração neurobiológica, ou seja, seu Sistema Nervoso Central não possui uma disfunção, diferentemente do que acontece na Dislexia, que é um transtorno específico de aprendizagem, com etiologia orgânica, como explorado nos tópicos anteriores. Além disso, nas dificuldades escolares encontramos, aquelas crianças que não se adaptaram ao método da escola, devido às muitas trocas de professores e/ou escola, problemas emocionais durante o processo de alfabetização, etc. Ou seja, as dificuldades são extrínsecas a criança. Por isso, as manifestações nas crianças com Dificuldade Escolar serão menos severas e elas responderão melhor e mais rapidamente à intervenção proposta por meio de pedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos e apoio da família e da escola.

Abaixo você encontrará vídeos que irão te ajudar a compreender como auxiliar crianças com dislexia

Mitos e verdades sobre a dislexia

Quando se fala em Dislexia, muitas são as ideias existentes sobre esse assunto, com a presença, inclusive, de muitos pensamentos equivocados e que precisam ser explicados para que a sociedade consiga entender mais a respeito desse tema e assim, lidar de maneira mais eficiente com as crianças que possuem o transtorno. Por isso, destinamos esse último tópico da sessão voltada para pais de crianças com Dislexia para desmistificar alguns conceitos e ajudá-los a encarar o diagnóstico do seu filho de forma mais leve e esclarecida.

  • O tratamento é feito com remédios

MITO: Não existem remédios para a Dislexia, pois a mesma não se trata de uma doença e, sim, de um transtorno específico de aprendizagem que afeta o processamento fonológico, que ocorre em áreas cerebrais, afetando o processo de leitura e escrita. Dessa forma, o tratamento da Dislexia consiste em adaptações pedagógicas e atendimento especializado, com foco em terapias para estimular essas habilidades e necessita  de atenção multidisciplinar de profissionais da saúde e educação.

  • Dislexia é falta de inteligência

MITO:  A maioria das crianças com Dislexia têm inteligência igual ou superior à média. Além disso, estudos revelam que essas crianças usam quase cinco vezes mais a área cerebral do que as pessoas sem o transtorno, enquanto realizam uma tarefa de linguagem. Assim, burrice, preguiça e falta de vontade de ler e escrever não são verdades dentro da Dislexia, que consiste num transtorno específico de aprendizagem, não afetando a inteligência do seu filho

  • A principal dificuldade está na decodificação das palavras

VERDADE: A Dislexia é um transtorno específico de aprendizagem que se caracteriza pela dificuldade de decodificar palavras simples, mostrando uma insuficiência no processamento fonológico. Ou seja, é a dificuldade de aprendizagem marcada por problemas no reconhecimento de palavras e, consequentemente, na ortografia. As áreas cerebrais possuem dificuldade para relacionar e traduzir o som ouvido com a forma escrita, o que chamamos de consciência fonológica. Com esses processos afetados, tem-se uma leitura devagar e incorreta, vocabulário reduzido, dificuldades na coordenação motora e erros na soletração e escrita. A Dislexia é, antes de tudo, um Distúrbio de leitura que acomete desde a decodificação da palavra (leitura silabada, lê de “soquinho”) até a compreensão leitora

  • Pessoas com Dislexia não terão sucesso no futuro

MITO: Como dito no item 2, a Dislexia não compromete a inteligência das crianças com Dislexia e, com a intervenção precoce e bem feita, as dificuldades trazidas por esse transtorno podem ser amenizadas e enfrentadas de maneira efetiva. Além disso, as demais áreas cerebrais estão funcionando adequadamente e, por todos esses fatores, é completamente equivocado e limitante dizer que crianças com Dislexia não terão sucesso no futuro. Por isso, listamos alguns exemplos de pessoas bem sucedidas que foram diagnosticadas com Dislexia e, nem por isso, deixaram de trilhar um caminho brilhante: 

 

  • Jennifer Aniston: atriz
  • Tom Cruise: ator
  • Quentin Tarantino: diretor de cinema
  • Noel Gallagher: músico
  • Jim Carrey: ator
  • John Lennon: músico
  • Albert Einstein: cientista
  • Leonardo da Vinci: pintor

Referência

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