Livro - Um Rio de Receitas Beiradeiras
Afeto, resistência e sabedoria alimentar na Floresta Nacional de Caxiuanã – Pará
Por Mariana Inglez
Neste 31 de março, Mês das Mulheres e Dia Nacional da Nutrição, apresentamos o livro de Mariana Inglez: Um rio de receitas beiradeiras: afeto, resistência e sabedoria alimentar na Floresta Nacional de Caxiuanã – Pará, em co-autoria com as mulheres ribeirinhas colaboradoras de sua pesquisa de doutorado. Formada em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, mestra em Ciências (Biologia-Genética) pelo Instituto de Biociências da USP, Mariana atualmente é doutoranda no Laboratório de Arqueologia e Antropologia Ambiental e Evolutiva (LAAAE-USP) e há mais de 10 anos tem atuado nas áreas de Bioarqueologia e Bioantropologia.
O livro faz parte de uma das devolutivas de sua pesquisa de doutorado em andamento (Bolsista CNPq e CAPES-Print-USP), na qual estuda o processo de transição nutricional em comunidades ribeirinhas da Amazônia, a partir de uma abordagem bio-sócio-cultural. Essa devolutiva foi definida junto com as colaboradoras da pesquisa: mulheres de comunidades ribeirinhas próximas à região da Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará, áreas rurais entre os municípios de Portel e Melgaço, já na primeira visita ao local para apresentação do projeto e confirmação sobre interesse e disponibilidade de participação no trabalho acadêmico. Essas mulheres são também autoras do livro, cuja produção foi financiada pelo Instituto Serrapilheira como parte do projeto de divulgação científica “Evolução para Todes: compartilhando a ciência do LAAAE-USP” (APOIO: Instituto Serrapilheira).
Mais sobre o livro:
Os alimentos e a composição de nossas dietas representam parte central na forma como organizamos nossas sociedades, nossas relações e nossa rotina. Hoje, o mundo todo vive um processo conhecido como “Transição Nutricional”, o que significa que, de forma muito rápida, estamos substituindo os alimentos frescos e locais – que constituem nossas histórias e culturas – por alimentos industrializados e ultraprocessados, que tendem a ser menos nutritivos e muito ricos em gorduras e açúcares.
Em oposição a este processo que pode levar à perdas em nossa diversidade alimentar tradicional, essa obra foi produzida durante a pandemia (enquanto a pesquisadora não pode estar presencialmente nas comunidades) e registra os modos de preparo de cada receita escolhida pelas autoras beiradeiras residentes entre os municípios de Portel e Melgaço, nos arredores da Floresta Nacional de Caxiuanã, Amazônia paraense.
“Essa pequena e delicada obra é uma merecida homenagem às mulheres, que com muita criatividade e resiliência, criaram uma culinária única combinando recursos das matas, dos rios e da cidade, misturando sabores exóticos e familiares”, diz o Dr. Rui S. S. Murrieta (Instituto de Biociências – Universidade de São Paulo), orientador de Mariana Inglez.
“Este livro de receitas celebra mulheres notáveis e serve para nos lembrar do vasto conhecimento, criatividade e trabalho árduo e profundo amor que elas dedicam para nutrir suas famílias, comunidades e visitantes, como nós”, Dra. Barbara A. Piperata (The Ohio State University).
Em tempos de tantas mudanças e impactos na região amazônica e no modo de vida tradicional de suas comunidades, registrar sua alimentação e os afetos que circundam o preparo de suas refeições é uma forma de resistência.
“Ser ribeirinha pra mim é sinônimo de força e superação: apesar das dificuldades estamos sempre lutando com esperança de dias melhores. Falar sobre nossa alimentação, cultura, conquistas e dificuldades é, de alguma forma, eternizar em um livro memórias e garantir que as próximas gerações conheçam um pouco seus antepassados” (Juciane Serrin, co-autora)
“Organizar esse livro junto às mulheres que tanto têm me ensinado ao me receberem em suas casas e compartilhando comigo não apenas suas receitas, mas as alegrias e dificuldades de sua rotina como ribeirinhas, foi uma bonita conquista. Esse trabalho representa a possibilidade de realizarmos nossas pesquisas acadêmicas com ativa participação comunitária e com devolutivas que contribuam com a valorização das pessoas que colaboraram com nossa formação e construção de conhecimentos, em especial quando estas fazem parte de grupos marginalizados e invisibilizados históricamente, como é o caso de populações rurais e tradicionais amazônicas.” (Mariana Inglez).