IV CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE MUSICOLOGIA
A HISTORIOGRAFIA MUSICAL BRASILEIRA COMO SUPORTE PARA PENSAR A MUSICOLOGIA NA CONTEMPORANEIDADE
DATA: 20 a 24 de novembro de 2023
I – APRESENTAÇÃO
O IV Congresso da Associação Brasileira de Musicologia (ABMUS) tem como finalidade estimular reflexões sobre os caminhos plurais da musicologia e ampliar o intercâmbio entre centros de estudos, construindo e divulgando a produção intelectual no campo musicológico no âmbito nacional e internacional.
Na tradição historiográfica musical brasileira há um corpo de textos, as Histórias da Música Brasileira/no Brasil, que historicizam as práticas, contextos sociais, instituições e agentes da cena musical nacional, caracterizadas por um não rompimento com paradigmas das histórias ocidentais da música. No entanto, destas histórias da música, como a brasileira, além dos fatos positivos, extraem-se particularidades constituídas não só pelas idiossincrasias locais, mas sobretudo em como estas se relacionam com os projetos civilizatórios expondo-as a relações de dependência a plataformas epistemológicas assimiladas nos alinhamentos Norte-Sul da ocidentalidade. Desta forma, constroem-se os caminhos da patrimonialização de bens culturais através da organização de acervos e a legitimação de documentos históricos, de forma muito próxima ao paradigma historiográfico do dito Antigo Regime anterior ao advento da Escola dos Anais. O resultado dessa postura positivista foi uma prática historicista que mal se libertou da ideia de discutir a música no Brasil a partir de um cânone decorrente das grandes personalidades e de suas obras.
Porém, além da formação do cânone, há o que não é sistematizado, ou seja, os processos de apagamentos e memoricídios nos quais se projetam as hegemonias discursivas da sociedade dominante. Em síntese, é neste espaço entre o dito e o não dito que as estruturas enunciativas do historiografar passam a constituir e a definir a territorialidade da nossa musicologia, incluindo o nosso lugar no sistema-mundo. Para tanto, perscrutar a musicologia na percepção dos movimentos hegemônicos, assim como dos movimentos “esquecidos” ou “velados” torna-se um exercício cíclico. Este compromisso requer-nos confrontar a historiografia na percepção dos discursos dominantes, mas também compreender as novas epistemologias que refletem sobre a cena musical a partir das territorialidades que emergem de nossa realidade geográfica-cultural de profunda diversidade, inclusive as performatividades e corporalidades não normativas, decolonizadas dos próprios paradigmas usados tradicionalmente em uma musicologia pouco atenta a práticas cotidianas e suas realidades discretas. Neste campo, devemos considerar questões contemporâneas que rompam a cadeia de um lócus elaborativo das dominâncias, assim como dos métodos de investigação e divulgação de nossas pesquisas. É um ambiente para pensar os lugares silenciados ou como a música se dá nas territorialidades informacionais que mudaram, nas últimas décadas, os padrões de produção, circulação, escuta e consumo da música. Da mesma forma, é um espaço para equacionar as questões identitárias, no sentido de melhor posicionar a musicologia para dialogar com as demandas de expressão de gênero, étnico-raciais e condições socioeconômicas, tanto artísticas como de engajamento sociopolítico.
Desafia-se assim a uma prática musicológica que se imponha uma renovação de seus enfoques de forma crítica e radical, inclusive a não interdição da criação e performance como formas de problematização da cena musical, emancipando o objeto musical da mediação escrita. Diante disso, nesta edição convidamos a comunidade estudiosa da música a pensar a historiografia musical brasileira numa perspectiva de suas hegemonias e contra-hegemonias, propondo discutir os modelos e o pensamento historiográfico adotado na produção de discursos locais, regionais e nacionais; dos métodos e entrelaçamentos interdisciplinares; dos impactos dos ambientes de escuta atuais; dos processos críticos numa era de realidades ampliadas e dissolução da autoridade acadêmica; das novas epistemologias de pesquisa; e, o papel do musicólogo neste processo, no qual a construção de narrativas historiográficas demandam atenção às pressões ideológicas e/ou filosófico-estruturais do presente. Por fim, pensar o fazer musicológico no que tange os planos de profissionalização na superação de modelos, e como exige acuidade crítica e posicionamento ético diante dos desafios contemporâneos.
AS PROPOSTAS DEVEM ABORDAR QUESTÕES PERTINENTES AOS SEGUINTES TÓPICOS
1. Historiografia da música como discurso local, regional e nacional
2. O papel do musicólogo na construção de narrativas historiográficas
3. A função da documentação na construção historiográfica musical hoje
4. A informação musical e seus registros como fontes historiográficas musicais e seus problemas
5. Problemas historiográficos nos espaços luso-brasileiro e ibero-americano
6. A musicologia como espaço interdisciplinar para uma História das Ideias
7. Iniciativas de profissionalização do fazer musicológico
8. A musicologia no espaço das discussões identitárias: étnico-raciais, conflitos sociais, de gênero
9. Processos críticos numa era de realidades ampliadas e dissolução da autoridade acadêmica
AS PROPOSTAS DEVERÃO SER ENVIADAS NO FORMATO DE RESUMOS EXPANDIDOS
Os resumos expandidos são propostas (com até duas laudas A4) que detalham o conhecimento com referências ao seu tema de pesquisa. No caso de submissões para painéis temáticos, incluir os nomes e breve bio de todos os participantes.
a) Número máximo de páginas para os resumos expandidos: duas páginas, incluídas as ilustrações e referências.
b) A aprovação dos trabalhos é de inteira responsabilidade da Comissão Científica.
c) Autores e coautores devem se inscrever no evento até a data de envio da versão final do trabalho, em 5 de novembro de 2023, a fim de que sua participação seja incluída na Programação, no Caderno de Resumos e nos Anais Online.
d) Os autores das submissões aprovadas apresentarão a versão completa da sua Comunicação em até 15 minutos de maneira remota (virtual e online).
Data final para submissão de artigos: 4 de setembro de 2023.
Divulgação dos artigos aceitos: 9 de outubro de 2023.
Data para envio da versão final do artigo para integrar os Anais: 13 de novembro de 2023.
Divulgação dos horários das comunicações: 5 de novembro de 2023.