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Férias E Lazer Na Pandemia

Julho chegou! Férias! Férias? Um mês de julho bem diferente este de 2020. Tempo de descansar, mas do que?  Isolamento social e restrição de circulação e férias, a pandemia de Covid-19 nos expõe a contradições como esta. Descansar?  O futuro parece tão incerto… como relaxar? São comuns os relatos de pacientes, psicólogos, amigos que trabalhando ou estudando remotamente não têm mais rotinas de sono, de alimentação ou de descanso. Ansiedade, agressividade, sensações intensas e por vezes destrutivas resultado de uma vida que está fora do prumo, suspensa e sem sentido.  E por que não neste momento tão singular não pensarmos ou propormos a nós mesmos e aos que nos cercam um tempo de trégua, de respirar, de criar, de lazer? De férias?

Considerando estas questões, a Psicologia do Lazer pode ser bastante esclarecedora. A primazia dos valores atribuídos ao trabalho na nossa sociedade deixa de lado as vivências de lazer, ou ainda, subordina o lazer a tendências de mercado promovendo alternativas para seu exercício a partir de práticas preestabelecidas e comercialmente viáveis que impede de vivenciá-lo a partir de uma perspectiva pessoal. Se a academia de ginástica está fechada e eu não posso ir ao cinema, não tenho lazer. Uma confusão clara entre atividade e experiência. Lazer é uma experiência que leva à satisfação, à percepção de certa liberdade por ser uma opção, uma escolha pessoal, que pode ou não ser compartilhada. Prazer é uma palavra que fundamenta intrinsecamente as atividades de lazer. Estes momentos são valiosos, reconstitutivos e auxiliares poderosos no equilíbrio psicológico.  Nada mais gostoso do que jogar com amigos mesmo que virtualmente, em geral o jogo pouco importa, o prazer está no compartilhar, na conversa de sempre, na intimidade. O que dizer então de assistir um filme na Netflix com um amigo que está a quilômetros de distância ou a apenas alguns metros cada um na sua casa, mas compartilhando a experiência pelos aplicativos disponíveis.  Lazer não é de melhor ou pior qualidade, a experiência pode ser.

A constituição de 1988 garante a todos os brasileiros muitos direitos, inclusive direito ao lazer. Então por que não nos darmos esta possibilidade? E também aos nossos pacientes, amigos, familiares? Estamos falando de saúde mental quando estamos falando em lazer. Talvez seja o tempo de nos debruçarmos no estudo da Psicologia do Lazer muito expressiva nos Estados Unidos e na Psicologia do Ócio de autores espanhóis e italianos bem interessantes.  Uma consequência desta pandemia poderia ser essa área ser incluída nos currículos dos cursos de Psicologia.

Boas Férias! Aproveite, mesmo que elas se restrinjam a 15 minutos diários!

 

Texto por Maria da Conceição Uvald0