Silêncio
A experiência da pandemia tem trazido momentos de muito silêncio e há algo do silêncio que esse momento nos convida a ressignificar. Algo que, talvez, nunca tenhamos exatamente conseguido significar, pra começo de conversa.
E isso não é um problema. É só que para o ser humano, animal de tantas palavras, é no mínimo curioso que silêncio seja justamente aquilo que parece sempre conseguir deslizar pela tangente de quaisquer estratagemas léxicos que busquemos para explicá-lo.
Pois, vejamos, há quem diga que o silêncio, se soubermos ouvi-lo, é a maior fonte comunicativa possível e, portanto, qualquer silêncio é um falso silêncio. Ou quem diga que o silêncio é a madrugada numa rua calma: lugar onde tudo está suspenso, na expectativa de um novo algo que está por vir. Mas há ainda aqueles para quem o silêncio é nada e, por ser nada, é insustentável. Qualquer silêncio passa então a ser um falso silêncio, não porque ele nos diz algo, mas porque somos incapazes de não tentar, nós mesmos, preenchê-lo com qualquer esboço de coisa que possa nos dizer algo.
Hoje, quando nos deparamos com o silêncio daqueles que estão longe, presentes apenas pelo meio virtual, dos quais nem mesmo os sons do silêncio e da respiração conseguimos ouvir, ficamos naquele receio que nos dá caras de ponto de interrogação. Quando parecemos não poder mais chamá-lo por nenhuma dessas coisas, o que fazemos então com esse silêncio que nunca ninguém nos ensinou a ouvir?
Texto por Mariana R.Stefani
Escuto mas não sei
Se o que ouço é silêncio
Ou deus
Sophia de Mello Breyner Andresen
E todo o silêncio é uma música em estado de gravidez.
Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios
Mia Couto
Não é possível amizade quando os dois silêncios não se combinam
Mário Quintana