Exercício é extremamente importante após lipoaspiração

Apesar dos riscos, a lipoaspiração ainda é a cirurgia plástica mais comum do Brasil. Seus benefícios, porém, só são sensíveis se acompanhados de alimentação correta e prática de exercícios físicos.

Por Isabella Galante, da Agência Universitária de Notícias (AUN/USP)

Em 2015, o Brasil se tornou o país onde mais se realiza cirurgia plástica, atingindo 83 mil procedimentos por mês. Apesar de a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) ter considerado  a lipoaspiração a modalidade mais popular, a aparente facilidade em realizar o procedimento subestima não apenas seus riscos, mas também suas consequências em longo prazo.

Os custos da cirurgia variam entre R$ 1800 e R$ 4500, mas não intimidam as mulheres, que preferem pagar os custos materiais e sofrer as potenciais complicações do procedimento a exibir um corpo que fuja do padrão estético vigente, com o mínimo de gordura possível. A promessa de conquistar uma barriga definida sem esforço e com os mesmos hábitos alimentares atrai as pessoas, mas os especialistas afirmam que nenhum método poderia gerar esse resultado na ausência de hábitos saudáveis.

O estudo

A maior parte dos estudos realizados não aponta alterações nas tendências de distribuição de gordura no corpo em resposta à lipoaspiração. Foi pensando nisso que Fabiana Braga Benatti, do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Alimentos e Nutrição (Napan) da USP, propôs, em sua tese de doutorado, examinar profundamente a questão dos efeitos da cirurgia sem o acompanhamento de exercícios físicos, investigando se o tal procedimento faria a gordura que sobra no corpo desaparecer definitivamente.

A pesquisadora notou que não havia estudos associando atividade física e lipoaspiração, principalmente em relação às mulheres consideradas saudáveis (de 20 a 35 anos com IMC de ± 23,8kg/m²), que são as que mais se submetem à cirurgia. Com isso, ela acompanhou 36 mulheres após a cirurgia. Sessenta dias depois, metade delas começou a se exercitar, enquanto as outras permaneceram sedentárias.

As voluntárias selecionadas para a pesquisa, que não apresentavam diabetes, hipertensão, hipo ou hipertireoidismo, não modificaram seu consumo alimentar durante o estudo. Também não possuíam  problemas que impedissem atividades físicas, que foram praticadas pelo grupo ativo três vezes por semana durante 16 semanas, combinando treinamentos aeróbicos e atividades de força, com duração de 60 a 90 minutos cada sessão.

O resultado mostrou que, seis meses após a operação, as inativas haviam reconquistado boa parte da gordura perdida, sendo que uma porção foi se alojar no tecido visceral, que se expandiu após a ‘lipo’. A remoção do tecido adiposo subcutâneo pareceu desencadear mecanismos que favorecem a reposição e o crescimento compensatório de tecido adiposo, em especial na cavidade visceral, que é o depósito responsável por deixar a barriga inchada e dura, está relacionado ao risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e não sofre ação pela cirurgia.

Desenho do experimento (crédito: Fabiana Braga Benatti)

Desenho do experimento (crédito: Fabiana Braga Benatti)

Quando a gordura corporal, que funciona como um estoque de energia, é removida subitamente, o organismo adota um método para repô-la rapidamente. Ela será recuperada dentro de um período que pode variar entre semanas e meses,  mais pelo alargamento do tecido intacto, que pela reposição do tecido removido. Como o tecido subcutâneo foi comprometido pelo procedimento cirúrgico, o tecido visceral passa a captar os lipídeos ingeridos pela alimentação. O mecanismo pelo qual a quantidade total de gordura corporal pode ser recuperada após a lipo ainda é desconhecido.

As voluntárias que passaram a malhar não voltaram a ganhar gordura: suas medidas diminuíram ainda mais e elas não apresentaram reposição de lipídios na cavidade visceral como foi observado no outro grupo. Isso se deve ao fato que o treinamento físico que provoca uma diminuição do tecido subcutâneo visceral, em geral, também é capaz de prevenir o crescimento compensatório de tecido adiposo. Ou seja, a prática de exercícios é de extrema importância para preservar os efeitos da cirurgia.

A ocorrência de um aumento significativo do tecido adiposo visceral após a lipoaspiração é um resultado inédito na literatura, além da descoberta de que seu crescimento pode ser prevenido através de atividades físicas. Com o procedimento a gordura “nova” será redistribuída a cavidade visceral e portanto se tornará mais prejudicial à saúde do que era antes do procedimento.

Outras opiniões

O personal trainer Rafael Picolo adverte que há grande probabilidade de que a cirurgia não resulte na felicidade de quem se submeteu ao procedimento. Por isso, ele não a indicaria mesmo que a paciente não conseguisse atingir os resultados esperados através da academia. No entanto, para que a prática de exercícios tenha uma ação direta na modificação estética, é necessário que ela seja diária, o que requer dedicação. Se a pessoa não tem a força de vontade para lutar por esse objetivo,ela pode recorrer a uma intervenção. Não podemos esquecer que a lipoaspiração não tem uma influência positiva na saúde, isso só pode ser alcançado com atividade física, que melhora a qualidade de vida por meio da diminuição da hipertensão arterial, do condicionamento cardiovascular e da diminuição da gordura corporal. Os benefícios são incontáveis e a modificação corporal é consequência.

O profissional ainda afirma que seria importante o acompanhamento de um personal trainer após o procedimento cirúrgico porque há um planejamento de treinamento ideal para cada aluno, visando às metas dele e acelerando o processo de recuperação. A prática, porém, só deve ser adotada após  30 dias. Caso o procedimento seja mais simples, 15 dias são suficientes.

Silmara Passeto, que não participou do estudo, fez a cirurgia com 36 anos porque estava se sentindo obesa (com 86kg) e não conseguia perder peso através de dieta. Antes de passar pelo procedimento teve que eliminar 16kg por recomendação médica. Após a lipoaspiração, Silmara diz que sua autoestima melhorou, ela mudou seus hábitos alimentares e passou a caminhar. Dois anos depois ela voltou a ganhar peso. Apesar disso, nove anos após o procedimento ela não se arrepende e até o faria novamente se não fosse pelas complicações do pós-operatório. Silmara acredita que as mulheres deveriam seguir uma dieta equilibrada e não recorrer a intervenções cirúrgicas por conta do risco e incômodo que oferecem.

O cirurgião plástico Eduardo Daud diz que todo procedimento cirúrgico é uma agressão ao organismo, com consequências previsíveis como edemas e hematomas. Por outro lado, a lipoaspiração pode melhorar a autoestima do paciente, tem um aspecto emocional forte, e por isso é válida. Alguns pacientes buscam a cirurgia porque têm o peso adequado, mas apresentam tecido gorduroso concentrado em áreas que os incomodam. Se o exercício físico não é capaz de eliminá-lo, essa é indicação ideal. Todavia, reeducação alimentar e atividades físicas são iniciativas muito mais saudáveis. O médico conclui que após a lipoaspiração não é necessário malhar indefinidamente, é possível manter o peso com alimentação adequada.

A American Academy of Cosmetic Surgery alerta que a cirurgia deve ser feita em depósitos de gordura que não respondem a bons hábitos alimentares e exercícios, que devem ser sempre a primeira opção para perder peso. A lipoaspiração também não deve ser considerada uma forma de tratamento para a obesidade, uma vez que não leva a alterações benéficas no consumo energético ou no metabolismo e é uma cirurgia de cunho estético. Fabiana acrescenta que ela não leva ao emagrecimento e não é capaz de retirar a gordura mais prejudicial ao metabolismo, por isso é destinada a quem deseja retirar quantidades pequenas de depósitos de gordura localizados.