Estudo levará em conta a reação da demanda por gás natural quando o PIB se altera, quando o preço do próprio GN muda e também no caso da variação dos preços de combustíveis que competem com ele.
Saber como se comporta a demanda por gás natural no Brasil diante de diferentes variáveis, em setores nos quais esse combustível é mais presente. Este é o principal objetivo do projeto Estimation of price and income elasticities of NG in Brazil: modelling the demand segments taking into account the industrial sector evolution, the electricity generation and the policies for carbon abatement, uma iniciativa do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás Natural (“Research Centre for Gas Innovation” – RCGI). A análise será feita para quatro dos segmentos que demandam gás no país: o industrial, que historicamente é o maior consumidor de gás natural do Brasil; o de energia elétrica para uso nas termelétricas, que em alguns momentos já ultrapassa o industrial; o residencial, também com tendência de crescimento; e o veicular, no qual o gás natural é utilizado como combustível no transporte de pessoas e mercadorias.
Os estudos de elasticidade, de maneira geral, visam entender como uma variável se comporta em relação a outra.
“No nosso caso, vamos tratar de três tipos de elasticidade: a elasticidade-renda, investigando como reage a demanda por gás quando o PIB sobe ou desce; a elasticidade-preço, relativa às reações da demanda diante das alterações do preço do gás natural; e também a elasticidade-cruzada, que aponta como a demanda por gás natural reage quando varia o preço de uma fonte de energia competidora como, por exemplo, o óleo combustível ou energia elétrica”, explica a coordenadora do projeto, a professora Virginia Parente, do Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE).
Normalmente, segundo ela, a elasticidade-renda para países em desenvolvimento tem sido maior que 1 para a maioria das fontes de energia, ou seja: para cada 1% de aumento no PIB a demanda por energia tem subido sobre mais que 1%. No caso da competição com outros energéticos sabe-se, no geral, qual é a direção da reação:
“Se o preço do combustível competidor subir, a demanda pelo outro – no caso, o gás natural – vai aumentar. Mas queremos saber como se dá essa relação com mais precisão. Por exemplo: para cada ponto percentual de aumento do óleo combustível, em quantos pontos percentuais sobe a demanda pelo gás? Conhecer essas relações é importante para que os agentes do setor consigam se planejar previamente, sobretudo os ofertantes de gás natural. Mas não apenas estes, ao governo interessa conhecer melhor o perfil e as reações da demanda para desenhar um melhor planejamento e equilibrar os incentivos”, afirma.
Levando-se em conta o ponto de vista da demanda industrial, é comum que os planejadores das empresas – sobretudo daquelas em que a energia tem um peso importante no custo final de seus produtos – tenham, por exemplo, de escolher entre o óleo combustível e o gás natural como fontes de energia para os meses seguintes.
“Por isso, esta seria a relação mais importante a estudar, no âmbito da elasticidade cruzada. Seguida da relação gás natural versus energia elétrica, pois há também aquelas empresas que fazem a comparação entre esses dois insumos de produção. No segmento de geração de energia, por seu turno, é importante estabelecer a relação entre as termoelétricas a óleo e as termoelétricas a gás, já que a presença do gás tem crescido muito neste segmento.”
A especialista em planejamento em energia e meio ambiente afirma que existem algumas pesquisas sobre o tema no País, mas que nem sempre elas seguem as melhores práticas e, ainda que o façam, tais pesquisas precisam sempre ser atualizadas. Segundo ela, os estudos de elasticidade aplicados à energia olham para o comportamento de um passado relativamente recente, visando a identificar a tendência de um futuro próximo no que se referem à convergência ou divergência entre as variáveis estudadas.
“Para análises matemáticas mais robustas, é preciso uma certa quantidade de observações ao longo do tempo. Aqui, no nosso caso, o objetivo é olhar em média para os últimos 15 anos para saber a tendência para os próximos cinco.”
Custo social – Além de se aprofundar no comportamento da demanda de acordo com diferentes aspectos, a professora e sua equipe, composta, também, pelos pesquisadores Solange Kileber, Rinaldo Caldeira e Javier Toro e Igor Cesca, todos da área de energia, querem incorporar a sugestão de medidas de políticas públicas que poderiam ser adotadas para diferenciar o gás natural dos demais combustíveis fósseis (na forma de incentivos que incorporem os benefícios do GN.) “Como o gás natural é de longe o menos poluente entre os combustíveis fósseis, a ideia é considerar o potencial de emissões para diferenciar o custo social de usar óleo ou carvão, em comparação ao custo social da utilização do GN”, explica.
Um exemplo: se o preço do óleo combustível baixar, um empresário poderá migrar para o óleo pensando exclusivamente na empresa. “Mas, se dentro do preço do óleo estiver computado seu impacto ambiental, a comparação não é apenas do custo do energético, mas também do custo social”, pondera. O gás natural, de acordo com estudos na área, emite de 21% a 25% menos gases causadores de efeito estufa (GEEs) quando comparado ao óleo combustível e ao carvão, para gerar a mesma quantidade de energia.
A equipe também vai incorporar na análise cenários em relação às restrições de emissões de GEEs. “Vamos investigar como ficará a demanda por gás se a pressão internacional pela redução de emissões sobre o País se intensificar.”
Virginia Parente explica que, para analisar todas essas relações, aplicam-se métodos econométricos e métodos de otimização de portfólio. “Os métodos de otimização de portfólio dão conta, por exemplo, da seguinte questão: como deveria ser a participação das várias fontes de energia na composição da matriz energética brasileira para maximizar a segurança (minimizar os riscos de desabastecimento) e minimizar os custos? Aqui também a ideia é analisar as relações entre as várias fontes de energia disponíveis no País. Em outras palavras: sabendo-se que os preços do petróleo oscilam de determinada forma, bem como os da energia elétrica gerada via hidrelétricas, os do gás natural, os do bagaço de cana, da energia eólica, solar etc, como é que o Brasil deve estruturar a sua matriz para garantir o máximo de segurança com o menor custo? E, como estamos trabalhando dentro do contexto do RCGI, nos interessa saber o que poderá ser especificamente vislumbrado para o gás.”
A equipe coordenada pela professora Virginia Parente está trabalhando em conjunto com o time que responde por outro projeto do RCGI: integrado pelos professores Celma de Oliveira Ribeiro (Poli/Engenharia de Produção); Oswaldo Luiz do Valle Costa (Poli/ Engenharia Elétrica); Julio Stern (IME – Instituto de Matemática e Estatística); e Erik Eduardo Rego (Poli/ Engenharia de Produção). Juntas essas duas equipes de pesquisadores da USP vêm desenvolvendo sua investigação visando prover contribuições para o planejamento energético do País e seus desdobramentos sobre o gás natural.