Dividir cama com bebê ‘aumenta 5 vezes risco de morte súbita’
Compartilhar a cama com recém-nascidos aumenta até cinco vezes o risco de o bebê ser vítima da síndrome da morte súbita, segundo um novo estudo britânico.
Definida clinicamente como a morte repentina e inesperada de uma criança aparentemente sadia, a Síndrome da Morte Súbita do Lactante (SMSL) é responsável por um grande número de mortes entre bebês com menos de 1 ano.
Nos Estados Unidos, por exemplo, essa é a principal causa de mortes de crianças entre o 28º dia de vida e os 12 meses de idade.
Apesar de inúmeras pesquisas, especialistas ainda não conseguiram explicar esse fenômeno. Acredita-se que diversos fatores contribuam para que haja uma alteração na respiração do bebê, levando-o a morrer durante o sono.
O novo estudo, publicado no site BMJ Open – site de acesso livre que publica pesquisas médicas – não explicou o mecanismo que leva à morte, mas concluiu que os riscos de morte quintuplicam quando o bebê dorme na cama com os pais.
A pesquisa também constatou que o risco persiste mesmo entre os pais que não fumam, não bebem nem usam drogas – fatores fortemente associados à síndrome.
Por isso, os pesquisadores envolvidos recomendam que pais não compartilhem a cama com os bebês antes dos três meses de idade.
Sem consenso
O estudo comparou quase 1.500 casos de SMSL com um grupo de controle com 4.500 bebês saudáveis.
A orientação atual na Grã-Bretanha é de que os pais devem decidir onde o bebê dorme. No entanto, as autoridades de saúde do país aconselham que a opção mais segura é colocar a criança para dormir em um berço no quarto dos pais.
Outros países, como os Estados Unidos e a Holanda, são mais taxativos: os pais não deveriam compartilhar a cama com o bebê durante os três primeiros meses de vida.
Um dos responsáveis pelo estudo, o professor Bob Carpenter, da London School of Hygiene & Tropical Medicine, em Londres, disse que, tendo em vista os resultados do trabalho, a Grã-Bretanha deve “adotar uma posição mais definitiva contra o compartilhamento da cama para bebês com menos de três meses”.
Entrando no debate, a divisão britânica do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) manifestou preocupação com esse tipo de orientação. Para a entidade, sugerir que pais evitem a todo custo compartilhar a cama pode levá-los a adotar práticas mais perigosas – como amamentar o bebê em poltronas ou sofás, onde os riscos de sufocar o bebê são ainda maiores.
Outros questionam quão confiável é o novo estudo. Em entrevista à BBC Brasil, Carpenter explicou que, apesar de não se saber ao certo o que causa a morte do bebê, a associação entre morte e compartilhamento da cama é estabelecida por meio de comparações estatísticas.
Os especialistas relacionam casos de mortes com ou sem compartilhamento da cama a casos onde os bebês sobreviveram ao primeiro ano de vida compartilhando ou não a cama com os pais.
Carpenter disse também que há várias possíveis explicações para a morte do bebê recém-nascido ao compartilhar a cama. Entre elas, obstruções respiratórias, inalação de gases expirados e estresse termal, ou seja, superaquecimento, que pode provocar a liberação de toxinas letais.
Finalmente, o especialista disse que há casos em que os pais acidentalmente sufocam a criança enquanto dormem. Incidentes como esses são difíceis de ser comprovados, seja porque ocorreram durante o sono ou porque dependem da admissão de culpa pelos pais.
Com base em suas investigações, Carpenter afirma que evitar compartilhar a cama salvaria vidas. Segundo seus cálculos, 120 das 300 mortes resultantes da SMSL que ocorrem na Grã-Bretanha todos os anos poderiam ser evitadas.
Em um quinto dos casos analisados (323) pelo estudo, um ou ambos os pais estavam dormindo com o bebê no momento da morte. Desse total, 87,7% das mortes foram diretamente associadas ao fato de o bebê estar na cama com os pais. A porcentagem de mortes atribuídas ao compartilhamento da cama subiu para 89,5% entre bebês com menos de três meses de idade.
Apenas um em cada dez pais no grupo de controle disse ter compartilhado a cama com seus filhos.
O estudo concluiu que, excluindo-se todos os outros fatores de risco conhecidos, 81% das mortes súbitas em crianças com menos de três meses poderiam ter sido evitadas se elas não tivessem dormido na mesma cama que os pais.
Carpenter disse que sua intenção não é proibir os bebês de ficarem na cama com os pais para serem confortados e amamentados.
Isso já foi investigado em estudos anteriores e não foi considerado um fator de risco, desde que a criança seja devolvida ao berço para dormir, disse.
Comentando o novo estudo, Francine Bates, porta-voz da entidade The Lullaby Trust – que promove o sono seguro do bebê – disse: “Reconhecemos que alguns pais vão escolher dormir com os bebês em vez de colocá-los em um berço ou moisés perto da cama.”
“O Lullaby Trust apoia a escolha do casal, mas nós pedimos a todos os pais e mães novatos que considerem os riscos já conhecidos de se compartilhar a cama com o bebê e, tendo em vista sua própria situação, tomem as precauções apropriadas.”
“Nossa principal mensagem continua sendo: o lugar mais seguro para um bebê dormir durante os primeiros seis meses é um berço no mesmo quarto dos pais ou de quem está cuidando dele.”