Depoimentos sobre nosso percurso até agora

Na semana passada nosso projeto completou 2 meses. Ainda não sabemos até quando nosso trabalho será necessário, mas é importante lembraremos o impacto de nossa ação solidária para reforçarmos nossa energia em meio a avassaladora pandemia que vivemos. Nos próximos boletins, apresentaremos depoimentos de colaboradores que encontraram no projeto uma forma de amenizar os efeitos da difícil pandemia que estamos enfrentando. Começaremos com o Filipe, a Iara e a Bianca, psicólogos(as) que estão conosco desde o primeiro encaminhamento de atendimento:

  O que faz o psicólogo com suas próprias aflições em uma pandemia? O plantão psicológico, pilar da minha formação clínica, tem esse jeito de nos colocar radicalmente diante do desconhecido, do inesperado, do outro. E assim, defronte àquilo que, em nós mesmos, é penumbra. Até o que é familiar ganha frescor em palavras alheias. É incrível como a clínica cura também aquele que se dispõe a escutar. (…) E não é que, contra as aparências, seguimos compartilhando esse mundo? Às vezes bem literalmente: no atendimento online dividimos quartos, porta-retratos, escritórios, quadros, intimidades, quintais, latidos na vizinhança… Já dividi até uma bronca! De quebra, ando inoculado de esperança sobre nosso fazer e a possibilidade de considerarmos mais seriamente na USP a importância de alianças para construirmos cuidado. Unir em trabalho as diferentes categorias e departamentos da “Psico” só parece fácil para quem não passou por lá. Parabéns a todos que estão solidariamente apostando nisso e, assim espero, criando condições para que esse espírito de colaboração e aprendizado continue para bem além do (ansiado) fim da pandemia.

Filipe Rebelo Buchmann (Filô)

(…)Apesar já ter bastante experiência em acolhimento em plantão em instituições com diversas demandas diferentes essa foi uma demanda muito diferente e acho que a equipe do projeto teve um cuidado muito grande em nos acolher enquanto psicólogos nas supervisões, com material de apoio e palestras de qualidade devido a essa demanda e momento tão específico que estamos passando com a pandemia. Poder ouvir os relatos dos pacientes foi muito rico, e foi gratificante perceber que com  o pouco que pude oferecer eles se sentiram gratos e um pouco melhor.

Iara Boccato

Acredito que cuidar da saúde mental é sempre desafiador. Entrei no projeto a partir de dois desejos principais, o primeiro sobre poder contribuir socialmente com o meu trabalho e, o segundo, com o desejo de aprender sobre esta escuta muito delicada dos atendimentos pontuais em momentos de crise. Ao longo do tempo, descobri que os dois desejos se entrelaçam o tempo todo, ainda mais se estamos vivenciando realidades próximas a dos nossos pacientes/clientes. Neste sentido e em tantos outros, o apoio da equipe de coordenação e os supervisores do projeto, é essencial, há muita troca e este trabalho só é possível porque é coletivo. Acredito que hoje, após 2 meses de participação no projeto, a minha escuta é outra, inclui o sofrimento e também o que há por vir, a esperança de bons encontros, reafirmando a potência destes encontros.

Bianca Bobadilha