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As mulheres, o câncer de mama, o linfedema e o retorno ao trabalho

    O linfedema é uma das complicações subsequentes dos tratamentos cirúrgicos e de radiação do câncer de mama e como a maioria das mulheres acometidas pelo câncer de mama não estão em idade de se aposentar, o retorno ao trabalho é uma questão que preocupa muitas dessas mulheres, pois essa complicação não pode ser completamente curada e a melhor ação é a prevenção, com a prática de exercícios físicos, massagem e os cuidados para prevenir infecções.

       Um estudo publicado no Jornal SAGE, de Nova York, em 15 de abril de 2020, aponta que existem diversas maneiras pelas quais o linfedema afeta a experiência de trabalho de uma mulher após ser acometida pelo câncer de mama, visto que, o linfedema traz inúmeras consequências físicas e psicológicas às pacientes e que elas ainda precisam lidar com o impacto trazido pelo diagnóstico do câncer. Dentre os impactos nas relações do trabalho, podemos citar: números maiores de afastamentos, diminuição da produtividade e demora no retorno ao trabalho.

     A pesquisa citada foi realizada com mulheres sobreviventes de câncer de mama que estavam com mais de 12 meses pós-cirurgia e tratamento com radiação, que foram posteriormente diagnosticados com linfedema e que trabalhavam em algum setor ou trabalhavam por conta própria no momento do desenvolvimento do linfedema.

      Foi utilizado como ferramenta de coleta de dados as entrevistas individuais em dois momentos:

      No primeiro, foram feitas perguntas sobre:
• Informações demográficas (como idade, estado civil, nível de educação, adequação de recursos financeiros, por exemplo);
• Características clínicas (tratamento de câncer de mama, diagnóstico de linfedema, comorbidades, por exemplo);
• Informações sobre emprego (ocupação , horário de trabalho, folga, seguro, por exemplo).

     No segundo, foi realizado uma entrevista baseada no guia de entrevista estruturado desenvolvido pela Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), o qual realizou perguntas sobre:
• tipo de trabalho, as demandas e o significado para o indivíduo;
• quais as alterações relacionadas ao linfedema, incluindo mudanças físicas, emocionais e interpessoais;
• os resultados relacionados ao trabalho, incluindo envolvimento no trabalho, continuidade do trabalho, capacidade de executar tarefas de trabalho, desempenho e relacionamentos no local de trabalho;
• qual o ambiente de trabalho, incluindo apoio social relacionado ao trabalho;
• as reflexões relacionadas experiências pessoais e o linfedema após o tratamento do câncer de mama.

      No estudo, a maioria dos participantes moravam em áreas metropolitanas pequenas e a maioria estava empregada no momento da entrevista. O nível educacional, o status financeiro e o apoio social foi declaradamente alto entre o grupo. Já em relação a doença, todos os participantes foram submetidos à cirurgia de câncer de mama e a maioria teve remoção de linfonodos, tumor e das mamas (total ou parcial) e mais da metade delas também fizeram radiação e quimioterapia.

    A maioria desenvolveu linfedema no lado do membro dominante e relataram sintomas como peso, fraqueza na extremidade superior, dor, alteração da sensação, diminuição da força e amplitude de movimento. No entanto, a maior parte dessas mulheres relata ter detectado o linfedema por conta própria e, posteriormente, procurou o diagnóstico médico, sendo uma queixa comum, a falta de informação sobre o risco de desenvolver linfedema relacionado ao tratamento do câncer de mama.

     Em relação aos empregos, as ocupações incluíam trabalhos sedentários (como trabalho de escritório) e trabalhos mais exigentes fisicamente (como trabalho de campo, repositor estoque de lojas e faxineira). Após o diagnóstico de linfedema, a maioria dos participantes continuou atuando em suas ocupações anteriores, exceto a que trabalhava na equipe de limpeza, ela foi transferida para outro setor.

      Os resultados apontaram que o linfedema afeta o funcionamento físico e emocional associado ao trabalho e o seu tratamento contínuo cria desafios. Afinal, os tipos de trabalhos e os sintomas físicos associados ao linfedema afetam a experiências vivenciadas e os fatores emocionais desempenham um papel fundamental nas adaptações para o retorno ao trabalho. Além disso, os resultados também evidenciaram que muitas mulheres desenvolveram um medo causado pelo risco de ter infecções ou outras complicações no braço, criaram uma imagem corporal negativa e tiveram um aumento do estresse emocional relacionado ao comprometimento físico, como por exemplo, a diminuição da habilidades de movimento finas (como segurar uma caneta).

      Em resumo, o estudo aponta que o inchaço e a dor associados ao linfedema se tornam desafiadores quando envolvidos em atividades de trabalhos que envolvem movimentos repentinos, como digitação, elevação e transporte. Visto que, os relatos apontam que esse inchaço do braço e as infecções geram uma imagem corporal negativa e desenvolvem ansiedade a essas mudanças no relacionamento social e interpessoal. Mesmo que o tratamento do linfedema relacionado ao câncer de mama seja demorado e cansativo, os relatos das participantes apontam que manter os pensamentos positivos ajudam no estabelecimento do “novo normal”, facilitando as adaptações e o reconhecimento de novas combinações que facilitem suas novas experiências, dia a dia.

 

Referência:

SUN, Yuanlu; SHIGAKI, Cheryl L.; ARMER, Jane M. The influence of breast cancer related lymphedema on women’s return-to-work. Women’s Health, v. 16, p. 1745506520905720, 2020.

Link: https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/1745506520905720

 

Texto produzido pelas graduandas em enfermagem: Bárbara Motta P. Valente, Patricia Mikawa e Pamela Roder

Colaboradoras: Karina Sumi Fujito, , Emily Mills, Letícia Martins Gaspar, Sophia Formaggio Sanchez, Nathalia Luiza Matias Leite e Mayumi Leticia Hojo.

Orientadoras:

Enfermeira Maria Antonieta Spinoso Prado

Profa. Dra. Marislei Sanches Panobianco

Profa. Dra. Thais de Oliveira Gozzo