Aspectos Técnicos

As árvores têm um processo de crescimento lento e devem ser plantadas seguindo critérios adequados; as espécies devem ser escolhidas de modo a se desenvolverem bem nas condições específicas do espaço urbano (LORENZI, 1992; KULCHETSCKI et al., 2006). Nas cidades, as árvores sofrem inúmeras agressões no seu dia-a-dia e as características ambientais das florestas urbanas são muito distintas das condições das áreas rurais (MCDONNELL et al., 1997). Os impactos negativos relacionados com a presença da arborização nas cidades decorrem principalmente da implantação e do manejo inadequado e das mudanças frequentes de uso, consequência direta do processo de expansão e transformação dos espaços urbanos em suas diferentes escalas.

O adequado plantio e manutenção das árvores plantadas nas cidades devem  considerar diversos cuidados e critérios de manejo, de modo a viabilizar a longa permanência de exemplares adultos, frondosos e saudáveis, já que esses indivíduos contribuem de modo mais impactante para a melhoria ambiental (MCPHERSON et al., 1997).

Exemplo de conflito entre árvores e infra-estrutura urbana. Foto Grupo PodaLab

São vários os aspectos técnicos a serem considerados no planejamento, na implantação e na manutenção da arborização urbana. Entre os principais aspectos podemos destacar: 

  • Dimensões do calçamento;  
  • Presença, condições e o tipo da rede elétrica e da fiação; 
  • Localização no sistema viário (por exemplo, a proximidade de esquinas, a presença de rebaixamento de calçada e a face de exposição);
  • Tipologia e disposição de mobiliários e equipamentos urbanos;
  • Existência de rede de esgotamento e fiação subterrânea.

Características das árvores urbanas e impactos no seu potencial de uso

Existem estudos que identificam características comuns às árvores urbanas, e que as diferenciam, inclusive, das mesmas espécies crescidas em florestas, sejam elas plantadas ou nativas. Tais características são igualmente importantes para o planejamento de usos potenciais dos resíduos arbóreos.

Como já mencionado, no ambiente urbano, as árvores crescem de um modo diferente, compartilhando o espaço com as pessoas e a infraestrutura urbana: prédios, postes, fiação elétrica, vias, gramados, canteiros de flores, mobiliário urbano, etc. Desse modo, as propriedades de sua madeira (troncos e galhos) também serão diferentes, em função de:

1. Crescimento rápido

  • essas árvores foram plantadas para dar sombra e outros benefícios, crescendo em espaços abertos e rapidamente, onde não competem com outras por luz e espaço. 
  • coroas mais cheias, com mais galhos laterais e troncos principais menores; os galhos podem ainda possuir grandes nós, reduzindo sua qualidade. 
  • porção maior de alburno (parte mais externa, “viva”, por onde passam os nutrientes da árvore), tornando a madeira menos resistente, mais sujeita à degradação. 
  • anéis de crescimento mais largos, com células mais curtas e de paredes mais finas e menos células tardias, resultando numa menor densidade e em valores inferiores de resistência. 
  • tendência para uma grã mais espiralada, que resulta numa madeira com grã cruzada ou reversa e com propriedades de menor resistência. 
  • maior contração longitudinal e empenamento desta madeira, no processamento.

2. Gestão da arborização urbana

  • Enquanto o manejo de árvores de florestas realiza sua remoção quando elas estão no auge de suas qualidades, nas cidades as árvores são removidas quando morrem, estão danificadas, infestadas ou com a saúde comprometida, por motivos de segurança ou ainda mudanças necessárias no cenário urbano; 
  • dificilmente ocorre a remoção simultânea de um conjunto significativo e homogêneo de árvores em um mesmo local. Isto não impede o aproveitamento da madeira urbana, mas impõe condições às quais os mercados e sistemas que trabalham com a madeira de florestas não estão adaptados.

3. Saúde das árvores

  • Tanto as árvores de florestas quanto as urbanas podem ser atingidas por pestes similares e condições climáticas extremas. Mas no ambiente urbano, as árvores muitas vezes resistem a condições difíceis de crescimento e a vários conflitos no terreno. As podas frequentes ou malfeitas, assim como impactos sofridos pelo manejo descuidado de equipamentos ligados à gestão urbana, criam feridas nas árvores, que se transformam em calos e tecidos de reação, o que não é comum nas árvores crescidas nas florestas. Algumas partes dessas árvores morrem; a madeira desses membros muda de cor e começa a decair. Como resultado, manchas, variações de cor e listras são mais comuns que nas árvores de florestas, mesmo após sua recuperação.

4. Presença de contaminantes no tronco

  • Tais como pregos e arames de cercas, em decorrência de seu uso frequente como suporte para sinalização. Detectores de metais são necessários, assim como serras especiais, mais finas e resistentes para processar essa madeira.

5. Madeira de reação

  • A topografia de determinados locais, a incidência de luz/sombra, a frequência de ventos, tempestades ou outros distúrbios no ambiente urbano podem fazer com que as árvores cresçam inclinadas ou curvas, formando o que se chama de “madeira de reação”. Nessas circunstâncias a medula do tronco se torna excêntrica, dando origem a uma madeira de superfície irregular ou com muitas farpas quando cortada (é mais difícil de trabalhar, portanto) e a manchas quando aplicado algum tipo de tratamento superficial (pois sua absorção é irregular); além disso, devido a irregularidades na contração longitudinal, esta madeira também empena com mais facilidade na secagem e suas propriedades mecânicas são inferiores, agravando as fragilidades inerentes a madeiras jovens, já apontadas.

6. A análise dos galhos

As propriedades dos galhos são inferiores às do tronco das árvores, via de regra. Além disso, no planejamento das podas, é importante observar-se suas características dinâmicas em relação ao conjunto da árvore onde se inserem, pois elas indicam o período em que se encontra seu ciclo de vida, sobretudo a morfologia da base do galho: 

  • quando o colar (porção inferior da base do galho, na inserção do tronco) é pouco perceptível, o galho está em franca atividade assimilatória; 
  • quando se destaca visualmente, ele está já em fase de rejeição; 
  • quando aparece a fossa basal (depressão no tronco abaixo da base do galho), significa que não há mais fluxo de seiva entre galho e tronco, estando o primeiro prestes a secar (após a morte do galho ele é colonizado por fungos, bactérias e insetos, que levam à sua degradação, enfraquecimento e ressecamento, facilitando sua queda).