Do material ao produto:
Processamento secundário
Ateliê Pedro Petry. Saiba mais sobre este espaço aqui.
A segunda etapa que ocorre depois do corte da madeira, recebe o nome de processamento secundário. Podemos ter dois tipos deste tratamento após o desdobro:
- Tradicional, geralmente ocorre em pequena escala em comunidades onde a cultura já tem um conhecimento profundo da vegetação forjado pela tradição e pelos costumes. Indígenas, quilombolas e pescadores costumam produzir artefatos, edificações, medicamentos e roupas com o emprego de produtos oriundos das florestas nativas.
- Industrial, quando os métodos e processos tradicionais são estudados e ampliados para aumentar a produtividade e/ou a sustentabilidade. Em geral é formada uma cadeia produtiva com a utilização de tecnologias e maquinário previamente adequado à floresta e topografia da região podendo utilizar como recurso as características do solo, dos rios e da própria floresta seja ela nativa ou urbana.
Em ambas as fases de processamento da madeira, os equipamentos evoluíram muito nos últimos anos. No caso do processamento secundário, essas mudanças têm impactado as duas abordagens. Máquinas sofisticadas, muito eficientes e computadorizadas permitem a fabricação em massa de produtos de madeira. Por outro lado, também tem se difundido a customização massiva e por demanda, onde o consumidor pode personalizar seu produto, escolhendo algumas variáveis. O tamanho dos equipamentos também foi reduzido, tornando-os mais acessíveis e fáceis de manejar para um número maior de marceneiros e artesãos.
Com o crescimento do parque industrial a madeira serrada é a matéria-prima principal para a produção de componentes para a construção civil, na produção de móveis, utensílios e pequenos objetos.A fase de processamento secundário se subdivide ainda em quatro etapas principais, que abrangem conjuntos de operações distintas. São elas: transformação, usinagem, acabamento e montagem. Serão relacionadas a seguir, entretanto, apenas operações relacionadas à primeira etapa, destacando-se os tratamentos comerciais da madeira e modelos produtivos aplicáveis àquelas provenientes do manejo da arborização urbana.
Tratamentos comerciais da madeira

Madeira Serrada
Para uso comercial, é geralmente cortada em peças longas, com seções padronizadas (caibro, viga, tábua), sendo que o corte pode ser tangencial ou radial (imagem dos dois tipos de cortes). Por ter dimensões variadas e geralmente seções menores, o processo gera resíduos que devem ser aproveitados.

Madeira Laminada
Sofre um processo de corte longitudinal e circular para produção de lâminas muito finas que podem ser usadas como revestimento de superfícies ou coladas umas sobre as outras e tratadas, formando placas de compensados de madeira, cortados em tamanhos padronizados, e que são largamente empregados na construção civil, naval e no mobiliário.

Madeira Vergada
Sofre a ação do vapor, da tração ou colagem para produzir peças curvas, utilizadas na construção naval e na construção de galpões e hangares. Primeiramente as finas toras de faia (madeira roliça) ficam de molho na água por meses e, depois de tratadas, suas fibras (curtas) ficam maleáveis e perdem a seiva (tornando a madeira resistente às pragas). Assim, estão prontas para serem curvadas pelo vapor com o emprego de gabaritos curvos metálicos, que tracionam as peças até a secagem.

Madeira Prensada
Se aproveita das características maleáveis dos laminados ou compensados em grandes prensas, com aquecimento. As lâminas de madeira compensada são fixadas em estruturas compostas por peças pequenas de madeira serrada, viabilizando o preenchimento de portas, assentos e encostos de cadeiras, peças com dupla curvatura e pequenos objetos de madeira (POMs) como pentes, presilhas, bandejas, fruteiras e potes.

Madeira Torneada
Sofre o processo de desbaste preliminar para seu emprego em tornos apropriados onde, ainda na forma de um bloco maciço, ela gira e é conformada por goivas e formões, que dão a concavidade para as peças grandes ou pequenas, de acordo com o seu emprego na construção civil, no mobiliário ou em utensílios domésticos. É comum o aproveitamento, nesse tipo de processo, de raízes e partes não comerciais do tronco das árvores – pelo fato de possuírem nós, que são considerados defeitos nos processos da madeira Serrada. No torneamento, tira-se partido desses defeitos, explorando esteticamente suas características únicas, com efeitos especiais, de modo a conferir um aspecto de exclusividade ao produto final.

Madeira Engenheirada
É uma tecnologia voltada para o setor da construção civil que visa a inovação, pré-fabricação para o uso sustentável da madeira. Nessa rota tecnológica a madeira pode passar por uma variedade de processos industriais, resultando em diferentes tipos de madeira engenheirada. Os mais conhecidos para a Construção Civil são a madeira laminada cruzada (ou CLT – Cross Laminated Timber em inglês) e a madeira lamelada colada (ou MLC – Glue Laminated Timber ou Glulam em inglês). O uso destes processos, associado ao manejo sustentável ou reflorestamento das nossas florestas, permite a total substituição do uso do aço na construção civil, mesmo em edificações com poucos andares.
Principais tipos de processos secundários
Estilo Rústico
Os artesãos da marcenaria e carpintaria tradicional passaram a reaproveitar a madeira utilizada em pisos, portas, dormentes, travessas e postes de madeira, caixas e paletes – a chamada madeira de demolição, ou “storywood”. O reuso de madeiras vêm ganhando espaço no mercado por ser considerada uma proposta sustentável, e pela dificuldade atual de se encontrar no mercado algumas madeiras muito resistentes como a aroeira, a imbuia, a peroba rosa, por terem seu manejo e corte proibido pelos órgãos ambientais, em virtude do risco de extinção.

Marcenaria Tradicional
Os artesãos, marceneiros e carpinteiros tradicionais utilizam máquinas pesadas voltadas ao processamento da madeira maciça. Um dos aspectos mais marcantes das peças por eles produzidas são os sistemas de união de componentes por meio de cunhas e encaixes, utilizando a própria madeira – estes sistemas têm sido empregados desde o período colonial, quando as máquinas eram movidas por correias em grandes polias movidas à queda d´água, sendo depois substituídas pelo vapor e, recentemente, por motores elétricos de corrente alternada. Entretanto, com a dificuldade de encontrar madeiras legais (com selo verde), boa parte da marcenaria tradicional redirecionou sua produção. Passou a trabalhar com aglomerados e laminados, e a utilizar máquinas mais leves, produzindo mobília retilínea destinada a cozinhas e armários embutidos. Os antigos encaixes e cunhas foram substituídos por ferragens que facilitam a montagem e estruturação de mesas, prateleiras e gaveteiros. O produto com madeira maciça confeccionado com madeira maciça tornou-se um artigo ainda mais raro e de luxo, onde muitos designers atuam em pequenos ateliês. Dessa forma, o emprego da madeira de poda e supressão por estes profissionais, ainda que exija uma etapa de experimentação e aprendizado sobre as potencialidades e limitações de cada espécie, pode representar uma oportunidade importante de revitalização de sua atividade, com um material de baixo custo e origem ambientalmente adequada
Fabricação Digital
A manufatura do pós guerra se desenvolveu principalmente na aviação, com a otimização de peças e componentes que necessitavam de seriação, leveza e precisão. Projetos desenvolvidos de modo associado a ensaios em túneis de vento e máquinas numéricas automatizadas, deram início a um processo chamado de Desenho Auxiliado pelo Computador (CAD). Este processo logo se integrou também a sistemas produtivos computadorizados (CAM), com apoio de máquinas de Controle por Comando Numérico (CNC), as quais rapidamente evoluíram para centros de usinagem, com troca de ferramentas e vários eixos de operação, que permitiram usinar peças complexas. O avanço do desenvolvimento dos sistemas CAD-CAM, levou ainda ao desenho paramétrico com algoritmos e à prototipagem rápida, ampliando muito as possibilidades de combinação de materiais (compósitos de resinas poliméricas e fibras) e os campos de aplicação.
Este maquinário e sistemas de projeto-produção têm tido seu uso difundido para além das fronteiras das empresas, por meio dos chamados Fab-labs – pequenas oficinas que oferecem fabricação digital, funcionando como espaços de aprendizagem e experimentação, em geral abertos à comunidade em geral. Em tais ambientes também a madeira de poda pode ser utilizada como matéria-prima, gerando novos nichos de aplicação para o material, ao mesmo tempo em que capacita novos públicos a lidar com ele no contexto das tecnologias digitais.