2023 na USP: falta de acessibilidade e ações de inclusão exigem maior atenção

12 meses de histórias e ações em pautas que buscam sensibilizar e aproximar o leitor de pessoas com deficiência, população 60+ e outras minorias para fomentar uma sociedade mais inclusiva

Arte com imagens de storyset/Freepik e kstudio/Freepik

Descaso com políticas públicas na prisão, falta de acessibilidade nos espaços acadêmicos, constrangimentos a pessoas com deficiência e preconceito. O Jornal da USP discutiu diversos temas sensíveis e complexos, expondo mazelas que acometem, desproporcionalmente, minorias sociais. Mas também deu espaço para pautas que estimulam a esperança de uma sociedade mais inclusiva, como iniciativas de assistência social a imigrantes e refugiados, doação de livros para estudantes em vulnerabilidade e para bibliotecas prisionais, e esportes sensoriais que buscam sensibilizar sobre as barreiras físicas de pessoas com deficiência.

Este ano, a USP conheceu mais sobre sua comunidade por meio dos dados do questionário de Inclusão e Pertencimento e se viu em um processo de transformação a partir da Lei de Cotas e do diálogo com os coletivos.

Nos próximos dias, a Editoria de Diversidade e Inclusão do Jornal da USP vai apresentar uma retrospectiva dos principais conteúdos dentro dos eixos de inclusão social, gênero e sexualidade e questões étnico-raciais. A seguir, confira o que foi destaque sobre inclusão social na USP.

Janeiro

O mês de janeiro foi marcado por discussões sobre preconceitos que limitam o acesso digno à saúde e à educação. Contamos sobre a criação de uma Política de Acessibilidade Pedagógica, feita pelo Coletivo de Estudantes Autistas da USP, para diminuir constrangimentos em salas de aula e espaços de convivência. Em diálogo com a neurodiversidade, discutimos sobre a burocracia para levar políticas públicas a presídios brasileiros, com base no artigo de Mariana Scaff, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, que expõe as crenças, ideias e julgamentos de valor que limitam o acesso pleno à saúde para a população carcerária.

No início do ano, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP firmou uma parceria com a Associação Brasileira de Assistência à Pessoa Deficiente (Laramara) e com o Instituto Jundiaiense Luiz Braille de Assistência ao Deficiente da Visão para desenvolver um projeto de pesquisa cujo objetivo é investigar os efeitos do texto audiodescrito em pessoas com deficiência visual.

Fevereiro

No mês de fevereiro, destacamos a assistência a imigrantes e refugiados de São Paulo, por meio do Grupo Veredas, do Instituto de Psicologia (IP) da USP. O serviço de atendimento psicológico e psicanalítico serve para diminuir os desafios vivenciados no deslocamento: seja a falta de pertencimento ao local de destino, sejam as dificuldades atreladas à educação, trabalho e cultura. Ainda sobre tornar os ambientes mais inclusivos, apresentamos a reformulação da Diretoria de Mulheres, Relações Étnico-Raciais e Diversidades da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) da USP.

Março

Março foi marcado por um intenso debate sobre inclusão social. Destacando o tema do envelhecimento ativo e saudável, divulgamos as Conversas sobre o Envelhecer, iniciativa do Centro Universitário MariAntonia (CEUMA) da USP que propõe diálogos para inspirar o bem viver.

Falamos sobre a iniciativa das três universidades paulistas – USP, Unesp e Unicamp – para arrecadar livros para bibliotecas prisionais de São Paulo, assim como o projeto Desapega, de alunos de graduação da USP, que incentiva a doação de livros didáticos para estudantes em situação de vulnerabilidade.

Contamos sobre o início das discussões para a Rede Brasileira de Pesquisa em Síndrome de Down e mostramos o podcast Vivo com Parkinson, do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em

Abril

Em abril, publicamos alguns dados do Questionário de Inclusão e Pertencimento da USP, que buscou traçar um perfil da comunidade uspiana com base no sentimento e nas experiências de estudantes, pesquisadores, professores e funcionários. Entre as 13.795 respostas, o questionário confirmou que a USP apresenta um perfil racial predominantemente branco, heterossexual e cisgênero.

Um estudo destacou o protagonismo de crianças migrantes e refugiadas em São Paulo, cada vez mais oneradas pelo peso de serem responsáveis pela adaptação e segurança afetiva de seus pais. Outra pesquisa analisou práticas de atração e retenção de profissionais mais velhos em organizações brasileiras e constatou que empresas inclusivas buscavam se comunicar com clientes da mesma faixa etária, além de obter reconhecimento.

Divulgamos um curso online premiado pelo Congresso Brasileiro de Nutrição sobre estigma relacionado ao peso corporal. Voltado a profissionais da saúde, o material intitulado Narrativas de Peso pode ser acessado on-line pelo sistema Moodle Extensão USP.

Neuromatemática (Cepid NeuroMat) da USP, que mostrou a maternidade de mulheres com Parkinson.

Maio

Em maio, tivemos a terceira matéria da série feita pela editoria para mostrar as iniciativas de Diversidade e Inclusão pelas unidades da USP. Após os textos sobre as ações de diversidade na Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) e sobre o histórico de enfrentamento à violência na Escola de Comunicações e Artes (ECA), foi a vez da Escola Politécnica (Poli). A matéria mostrou que o perfil dos estudantes da Poli mudou após a Lei de Cotas na USP.

Junho

O Grupo de Pesquisa em Acessibilidade Digital, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, mostrou que as avaliações de usuários com deficiência visual ou condições oculares – fotofobia, daltonismo, baixa visão – revelam falhas graves na usabilidade dos aplicativos. De outro lado, cinco estudantes da USP conquistaram o prêmio do German-Brazilian EdTech Hackathon 2023 pela criação de um aplicativo que facilita a comunicação de pessoas surdas de diferentes países.

Além disso, como o mês contempla o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, celebrado dia 28, mostramos a criação da Biblioteca de Mapas Auto-Organizáveis IntraSOM, feita por pesquisadores dessa comunidade na Poli.

Julho

No mês de julho, tivemos pautas que exploraram a empatia e a aproximação entre ciência e a realidade social. Estudantes da disciplina Esporte e Deficiência I, ministrada na Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, participaram de atividades sensoriais, buscando se aproximar de esportes praticados por pessoas com deficiência. Já as crianças das Ocupações Mauá, Ipiranga e Prestes Maia, na cidade de São Paulo, transmitiram a vivência de suas famílias através de desenhos.

Além disso, uma tese de doutorado da Faculdade de Saúde Pública mostrou que os coletivos periféricos do bairro de Sapopemba, na zona leste de São Paulo, desenvolvem espaços de escuta e trocas de convivência para contornar a alta demanda do Sistema único de Saúde (SUS).

Agosto

Em agosto, discutimos algumas medidas que poderiam auxiliar na inclusão de pessoas com deficiência na Universidade. Falamos sobre o curso de audiodescrição, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP para ampliar o potencial significativo das imagens, assim como a divulgação do Coletivo de Pessoas com Deficiência da USP, que ressalta o anticapacitismo para diminuir as desigualdades.

Além disso, continuamos a apresentar as iniciativas de Diversidade e Inclusão das unidades da USP, desta vez nas Arcadas do Largo de São Franciso. A transformação no perfil étnico-racial dos estudantes da Faculdade de Direito mobilizou a criação de novos coletivos e grupos de pesquisa, chegando ao tradicional centro Acadêmico XI de Agosto, cuja maioria dos integrantes são pessoas negras.

Setembro

Em setembro, exploramos os potenciais do rap e do hip hop para além da música. Pesquisa de mestrado da FFLCH mostrou como o rap pode auxiliar o ouvinte a desenvolver sua formação social, psicológica, política e econômica. Outra pesquisa da FFLCH mostrou que adultos que foram sequestrados quando crianças, na ditadura argentina, podem contribuir para políticas públicas relacionadas à memória e à justiça.

O professor Francisco Rodrigues, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, publicou um artigo na revista Scientific Reports, sobre os avanços da matemática para auxiliar no entendimento, detecção e soluções para tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Outubro

Em outubro, destacamos a importância do diálogo entre as unidades e seus coletivos, com as iniciativas de diversidade e inclusão no IP, e com o lançamento do e-book de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista, pelo Coletivo de Estudantes Autistas da USP.

Também discutimos sobre o exercício da docência muito além da imposição de um conhecimento, trazendo as estratégias de comunicação na trajetória de Sylvia Lia Grespan Neves, a primeira professora surda da USP.

Novembro

Em novembro, o mês da Consciência Negra, trouxemos a história de Luiz de Godoy, músico negro e periférico que integra o Departamento de Música Sacra da Hochschule, em Hamburgo, na Alemanha. Vindo de Mogi das Cruzes, Godoy se formou em música pela ECA e hoje está entre os três professores brasileiros na instituição alemã.

Além disso, cobrimos o 47º Encontro Anual da Anpocs, onde pesquisadores refletiram sobre os protestos e manifestações políticas de 2013, assim como a emergência de novos atores políticos, como coletivos e organizações dos movimentos negro, feminista e LGBTQIAPN+.

Dezembro

Em dezembro, apresentamos iniciativas feitas no campus da USP em Bauru, como o congresso internacional Total Cleft Care para discutir o tratamento da fissura labiopalatina, e o projeto Brilho nos Olhos, que ajuda a arrecadar, restaurar e doar brinquedos para crianças em tratamento no Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais.

Texto: Camilly Rosaboni: Estagiária sob supervisão de Tabita Said
Arte: Carolina Borin: Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado