Ansiedade e fobia são as principais causas de transtornos mentais em cães

Prescrição de medicamentos e práticas de readptação ao ambiente são as principais formas de tratamento no combate ao transtorno mental dos cães – Foto: Pixabay

Transtornos mentais não são problemas somente de humanos, os cães também estão propícios a desenvolver doenças psicológicas. A fobia é considerada pelos especialistas o principal gatilho para que os cães desenvolvam algum tipo de transtorno. Por consequência de algum trauma o animal começa a apresentar sintomas como medo e pânico, além de desenvolver comportamentos agressivos. “Hoje em dia tem essa possibilidade de cães desenvolverem diversos tipos de transtornos, como, por exemplo, fobias relacionadas ao barulho, outros cães, pessoas, manipulação de procedimento veterinário”, explica a psicóloga e mestranda em Psicologia Experimental com ênfase em comportamento animal pelo Instituto de Psicologia da USP, Carolina Jardim.

Carolina Jardim – Foto: Arquivo Pessoal

Fator comum de doenças mentais nos seres humanos, a ansiedade também é uma das principais causas de surtos em cães e a ausência prolongada do tutor pode resultar em traumas nos animais. “O cão não consegue ficar sem o tutor e ele desenvolve sintomas de pânico, eles tentam fugir de casa, arranhar a porta e acabam se automutilando por tentar fugir para alcançar seu companheiro”, explica.

Formas de tratamento

Em alguns cães a mudança de comportamento é notória, entretanto, para outros não é tão perceptível o sintoma de algum transtorno. Para se ter ideia exata do que acontece com o bicho de estimação, é necessário o diagnóstico de um veterinário comportamentalista. Durante a consulta, é feita uma análise com os tutores de uma possível mudança de comportamento e uma avaliação sistêmica, que envolve um levantamento de possíveis dores articulares ou questões crônicas e neurológicas, como alergias ou problemas gastrointestinais.

Após ser diagnosticado com algum tipo de transtorno mental, o tratamento vai ao encontro do grau da doença identificada no cão. Em caso de não haver complicação física, mas apenas a mental, “o veterinário comportamentalista prescreve psicofármacos como ansiolíticos e antidepressivos, que são de uso humano, porém é feita a dosagem específica para os cães”.

Além da prescrição de medicamentos, são indicados outros dois tipos de trabalho. O primeiro, de ambientação, no qual ocorre uma modificação do ambiente e os tutores são orientados a manejarem o local de forma de que o cão não volte a ter contato com aquilo que gera o transtorno. O segundo é relacionado à modificação comportamental, através de  técnicas de sensibilização sistemática e contracondicionamento, que visam a apresentar ao pet, de forma gradual, os gatilhos que levam ao transtorno, “para que aos poucos ele consiga lidar de uma outra forma com aquele estímulo”, pontua.

Métodos de prevenção

Como forma de prevenção para que os cães não desenvolvam doenças mentais, os tutores têm total importância durante o processo; no momento de escolha do animal de estimação é importante que o perfil do cão tenha compatibilidade com o perfil da família. Carolina ressalta que esse é um ponto mais importante para prevenir problemas de comportamento porque “muitos deles podem surgir exatamente através da incompatibilidade de expectativas”,  e isso é possível tanto na adoção quanto na compra de um pet.

Durante a vida do animal, os tutores devem estimular seus animais a fazerem algumas necessidades básicas como farejar, trabalhar para comer, realizar exercício físico e, principalmente, muita companhia, “os cães não podem ficar sozinhos de oito a dez horas de modo algum”. A comunicação adequada também é importante para prevenir problemas de comportamento, ou seja, uma comunicação que não envolva bronca e ameaça.

Por: Arthur Santos, para Jornal da USP, 13/6/24