Arte da ilusão de ótica: enganando a mente humana

A ilusão de ótica é vista nos mais variados locais. E professores mostraram os principais pontos desse fenômeno no dia a dia

 

Quase todos nós já nos pegamos tentando interpretar uma ilusão de ótica. Ela pode ser definida como uma técnica utilizada para “enganar” o sistema visual humano, fazendo com que vejamos algo que não existe, ou então que está presente mas de um modo completamente diferente daquilo que enxergamos, e a internet está cheia de ilusões do tipo.

Alguns exemplos são círculos impressos que parecem estar se mexendo e cores que parecem diferentes mesmo sendo iguais. A verdade é que a maior parte das pessoas adora um boa ilusão de ótica mesmo não sabendo exatamente onde sua mágica acontece.

Mesmo na realidade a ilusão de ótica sendo bem simples, ela consegue enganar o sistema visual humano. E os professores Mikiya Muramatsu e Marcelo Fernandes Costa que mostraram novos olhares sobre ela.

Ilusão de ótica

De acordo com professor Marcelo Fernandes Costa, do Instituto de Psicologia da USP, por conta da interação do olho com o meio ambiente é que as ilusões são construídas, pro isso que para que isso aconteça existem várias razões. “Nós temos os cinco sentidos, e o olho é um dos mais importantes no sentido de pegar informações do mundo exterior”, disse ele.

O professor ainda pontua que existem vários níveis de ilusão, sendo algumas “simples e derivadas do processamento sensorial, outras mais complexas, que envolvem o início do processamento da percepção”. Mesmo assim, todas elas acontecem a partir da forma como a organização visual e dos sentidos acontece. No entanto, elas são criadas por conta de um limite funcional do sistema sensorial do cérebro, já que ele acaba distorcendo algumas informações para compensar os limites.

“As ilusões são decorrência dessas distorções do nosso cérebro, isso a partir do estudo das cores ou a partir da construção de uma figura mais complexa”, explicou Costa.

Usos

Já o professor Mikiya Muramatsu usa o ponto de vista da física, tendo como base a interação “olho – meio ambiente”, para explicar o funcionamento de miragens. No caso da visualização de um oásis quando se está no deserto, ela é construída a partir das variações de calor em um meio uniforme.

Esse é somente um dos exemplos de ilusão de ótica do dia-a-dia. Isso porque, junto com fatores culturais, de vivência da pessoa e elementos do meio externo, elas geram efeitos ilusórios que vão a ambientes que as pessoas nunca imaginariam ser uma ilusão de ótica.

Por exemplo, elas podem fazer parte da arquitetura quando são organizadas para dar uma impressão de amplitude, ou profundidade com o uso de cores específicas. Assim, elas podem ser úteis na construção de elementos de engenharia civil. O resultado disso são ilusões de ótica que conseguem mexer com o imaginário do espetador.

Percepção

Normalmente, as pessoas tendem a achar que a ilusão de ótica engana o cérebro humano. Contudo, um novo estudo feito pelo ecologista visual da Universidade de Exeter, Jolyon Troscianko, e do neurocientista Daniel Osorio, da Universidade de Sussex, no Reino Unido, analisou o debate existente a respeito de determinados erros na percepção de cores, sombras e formatos que acontecem como um resultado seja da função do olho ou fiação neurológica do cérebro.

No estudo, os pesquisadores descobriram que classes específicas de ilusões de ótica conseguem ser explicadas por conta de limitações dos neurônios visuais, ou seja, as células que processam informações que vem dos olhos ou invés de serem processadas em um nível superior.

Como esses neurônios tem somente uma largura de banda finita, os pesquisadores criaram um modelo que mostra como isso pode afetar a percepção de padrões em escalas diferentes. Eles fizeram isso se baseando em estudos anteriores e analisando como as faixas de cores são percebidas em animais.

“Nossos olhos enviam mensagens ao cérebro fazendo com que os neurônios disparem mais rápido ou mais devagar. No entanto, há um limite para a rapidez com que eles podem disparar, e pesquisas anteriores não consideraram como o limite pode afetar a maneira como vemos as cores”, disse Troscianko.

Esse novo modelo criado sugere limites para o processamento e força metabólica dos neurônios para conseguir comprimir os dados visuais que vem através dos olhos. Mesmo que isso seja menos perceptível na confusão do cenário atual, ele tem um impacto maior em como as pessoas percebem padrões mais simples.

Isso também acontece quando as imagens digitais são compactadas. Isso porque, com a foto sendo de alguma coisa do mundo real, os artefatos ficam mais difíceis de serem detectados porque os pixels são misturados e variados. E em uma ilustração digital que tem linhas e bordas fixas e diferentes, os artefatos de compreensão tem uma tendência a se destacarem.

Essas descobertas podem ajudar os pesquisadores a entender o motivo das pessoas perceberem os contrastes em televisões modernas com HDR. Até porque, teoricamente, os olhos não deveriam conseguir detectar esse nível de contraste entre o branco mais claro e o preto mais escuro que existem nessa tecnologia.

A hipótese levantada pelos pesquisadores é que os neurônios humanos evoluíram para serem o mais eficientes possíveis. Tanto que alguns conseguem perceber diferenças pequenas entre tonalidades, já outros são menos sensíveis a essas diferenças pequenas.

“Nosso modelo mostra como neurônios com largura de banda de contraste tão limitada podem combinar seus sinais para nos permitir ver esses contrastes enormes, mas a informação é comprimida – resultando em ilusões visuais. O modelo mostra como nossos neurônios evoluíram com precisão para usar cada bit de capacidade”, pontuou Troscianko.

Por Por , para o Jornal da USP, 11/7/2023

Imagens: Jornal da USPEngenharia 360Science alert