IPUSP promove evento sobre gastronomia eslovena

O pesquisador Janez  Botataj ministra palestra e abre exposição sobre a gastronomia eslovena como patrimônio cultural

No último dia 15 de março de 2018, a Biblioteca Dante Moreira Leite, o Instituto de Psicologia da USP e a União dos Eslovenos do Brasil promoveram o evento: Patrimônio Cultural: Gastronomia da Eslovênia. A programação contou com a palestra de Janez Bogataj, Professor Emérito da Universidade de Ljubljana, Eslovênia, em seguida com a cerimônia de abertura da exposição fixa de objetos Eslovenos, localizada na biblioteca, e com a degustação de comidas tradicionais.

O Prof. Janez Bogataj é referência internacional nas áreas de etnologia e antropologia cultural com pesquisas sobre o perfil etnológico dos Eslovenos, com destaque aos campos da gastronomia, turismo, patrimônio cultural, arte de rua, artesanato e questões relacionais a mudanças de costumes e caráter nacional. O evento teve também a participação de autoridades e membros da embaixada, consulares, de entidades representativas e tradução consecutiva do Prof. Christian Ingo L. Dunker.

A palestra apresentou o tema gastronomia em seu contexto histórico e social, contemplando suas relações como um elemento de socialização e aproximação dos povos e culturas, além de determinante para identidade nacional.

Geograficamente, a Eslovênia é um ponto de encontro entre os Alpes Europeus, a região do Mediterrâneo e a Panônia o que gerou múltiplas influências gastronômicas. Além disso, os ambientes rurais, a aristocracia e as ordens monásticas e burguesas participaram das forças que forjaram a gastronomia tradicional. Ainda no contexto histórico, foram destacados outros pontos importantes de influência como o império Austro-Húngaro, a primeira e da segunda guerra mundial com a introdução de diversos pratos Balcânicos.

Na década de 1960, surge e se desenvolve a cultura da Pizza Italiana. A partir dos anos 1980, tem início o processo de retomada da cozinha Eslovena com a publicação de diferentes obras literárias e pela abertura de novos restaurantes. Essa retomada da identidade nacional gastronômica é representada por selos nacionais e pelos selos da União Europeia, que atestam a originalidade da comida, atualmente existem 26 pratos protegidos como patrimônio cultural.

Há uma grande preocupação com a manutenção da tradição, outro exemplo é a sociedade para proteção das batatas salteadas. São feitas inúmeras competições no país para verificar as condições de originalidade do prato, e para que se possa participar da sociedade existem regras, como: você deve pedir pelo menos uma vez por ano o prato em algum restaurante, pode ser comida de rua também, na presença de duas testemunhas.

É uma cozinha que sofre influência do passado, no entanto, faz adaptações e possui uma grande tolerância com a diversidade. Ainda no contexto de preservação das tradições e de convivência com culturas diferentes, foi apresentado o conceito de “Gastrodiplomacia”, que é o esforço feito para reconhecer a originalidade de determinadas comidas e ao mesmo tempo negociar suas relações de diversidade com outras. A Eslovênia deseja ser reconhecida por sua cozinha nacional, o que exige conhecimento e esforços para que se tenha uma experiência real com os itens culinários.

Diante desse desejo, há, nos últimos anos, uma retomada dos costumes antigos. Em 2001, foi publicado o mapa nacional da culinária Eslovena usado pelas escolas primárias, que  também está disponível para outros públicos. Em 2006, o governo e o ministério do turismo organizaram uma estratégia para a promoção da culinária Eslovena, que ocorreu por meio de um projeto interdisciplinar. O ponto de partida foi o reconhecimento dos pratos locais mapeados por meio da pirâmide gastronômica eslovena, que é uma espécie de banco de dados gastronômicos do país com pratos e bebidas de diferentes períodos históricos e grupos sociais. Ocorreu a divisão do país em 24 regiões, com um pouco mais de 300 pratos representativos mapeados. No topo, ficam apenas alguns pratos tradicionais relacionados com a influência das regiões dos Alpes, do Mediterrâneo e da área central.

Esse processo de planejamento estratégico gastronômico tem gerado frutos positivos, especialmente na área do turismo. A arte da cozinha tornou-se bastante popular entre as crianças nas escolas, hoje elas são capazes de descobrir seu território por meio da comida e participam de competições, inclusive internacionais. Essa estratégia foi importante para enfrentar a invasão da cozinha industrializada, fez com que as crianças descobrissem suas tradições de forma lúdica, influenciando também seus pais. Esse modelo já despertou interesse de outros países europeus.

Assim, diversos projetos são planejados e aplicados, como a criação de um catálogo geral impresso que começou a exercer influência nos restaurantes locais. Outro importante projeto foi a criação da cozinha aberta, que envolve cerca de 200 restaurantes que servem “comida positiva” (uma espécie de conceito contrário ao fast food) multicultural. Esse evento representa a estratégia da “Gastrodiplomacia”, mais um caminho para exercer a comunicação e a convivência entre os povos.

Ao final da apresentação foi aberto espaço para a participação do público, entre diversas curiosidades, o professor enfatizou a importância da manutenção das tradições por meio de políticas de preservação que possam proporcionar experiências reais, contar histórias e as funções dos pratos e demonstrar o quanto a tradição culinária abriga nossa identidade cultural. Foram destacados mais dois exemplos desse esforço, duas cadeias de supermercados locais que apresentam ilhas no interior de suas lojas que informam os clientes sobre a origem e a história dos alimentos, o outro é um projeto ainda em andamento, sob a responsabilidade de um importante arquiteto local, no mercado central de Ljubljana onde deverá ser criado um espaço de experiência da comida eslovena.

Em seguida ocorreu o encerramento da palestra com a posterior abertura da exposição e degustação na biblioteca.

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Texto por Carla Sasse
Fotos por IP Comunica e Biblioteca do IPUSP

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