Houve redução de 30% para 9,3% de fumantes em todo o território nacional, o que Leila Tardivo atribui a uma mudança de comportamento dos jovens ao longo do tempo
A Lei Antifumo existe desde 2009 no Estado de São Paulo e desde 2014 em todo o País e prevê a aplicação de multas a estabelecimentos que não controlam o consumo de cigarro em suas dependências. O resultado é que os números são positivos, com redução de 30% para 9,3% de fumantes em todo o território nacional.
Se fizermos uma análise, 15 anos é praticamente uma geração que nasceu vivenciando situações nas quais o consumo de cigarros não é mais permitido. Mesmo assim, é muito comum ainda ver jovens fumando na escola, nas baladas ou nos barzinhos. Tudo bem que os brasileiros fumem bem menos que em outros países, como explica a psicóloga Leila Cury Tardivo, professora do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da USP, mas o que está faltando?
Houve uma mudança de comportamento ao longo dos anos. Os jovens das décadas de 70, 80 e 90 não são os mesmos de hoje. Os fumantes podiam usar o cigarro em qualquer lugar, do elevador à sala de aula, não existiam impedimentos, tanto para os alunos como para os professores.
A “modinha da vez” é o cigarro eletrônico, não tem como falar deste sem associá-lo aos jovens. A psicóloga da USP explica que é uma forma de os jovens se sentirem pertencentes a um grupo e entende que deveria haver mais campanhas nas escolas.
Papel dos pais
Os pais têm um papel muito importante na educação dos jovens e devem abrir um diálogo para entender o que está ocorrendo. A orientação é que, em alguns casos, é fundamental buscar ajuda profissional com um psicólogo ou um terapeuta. Largar o cigarro não é algo fácil, por isso a ajuda é fundamental.
A expectativa de vida dos fumantes é pelo menos dez anos mais curta do que a dos não fumantes. Além da questão social, a saúde deve ser, sem dúvida, o principal ponto de abordagem. Os malefícios do cigarro são irreversíveis e hoje a proibição do consumo de derivados do fumo está em vigor em todo o País.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 8 milhões de pessoas morrem anualmente, em todo o mundo, por doenças causadas ou agravadas pelo tabagismo, uma doença crônica resultante da dependência à nicotina e fator de risco para cerca de 50 doenças, dentre elas câncer e doenças cardiovasculares.
No Brasil, estima-se que sejam gastos aproximadamente R$ 125 bilhões por ano para combater doenças relacionadas ao uso de produtos derivados do tabaco, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Além de tudo isso, o tabaco é o único produto de consumo legal que mata até metade de seus usuários.
Por Sandra Capomaccio, para o Jornal da USP, 5/6/2024